Como Chegar Até Você

Capítulo Dez

Passaram-se quinze dias. Otávio retornou para Dom Vital três dias após o falecimento de sua tia. Não sou a melhor pessoa para confortar os outros de um luto, mas disse a ele que tudo ficará bem. Enquanto isso, meus irmãos e eu estamos ansiosos para o casamento de Cleiton, que é amanhã, mas mamãe está muito estranha. Antes de irmos trabalhar, fui atrás dela para entender o que estava acontecendo.

— Mãe? Está tudo bem? — pergunto ao entrar em seu quarto.

— Rael, Lucas! Venham até aqui. — Ela grita ajoelhada, me deixando preocupada.

— O que foi, mãe? — perguntaram os dois ao mesmo tempo, assim que chegaram na porta do quarto, enquanto mamãe se levantava.

— Vocês três tomem cuidado nesse casamento. O Senhor me deu uma visão. Nela havia um lobo na igreja. Esse lobo estava coberto de sangue. — disse seriamente.

— Misericórdia, está repreendido! — disse Lucas.

— Está tudo bem, mãe. Deus nos dará livramento, ficaremos atentos. — disse Rael, abraçado mamãe.

— Não sei, filho. Ainda sinto um aperto no peito. — disse mamãe, angustiada.

Eram cerca de oito horas da noite nessa sexta feira. A confeitaria fecha às seis. Chegamos em casa e fui tomar banho. Segundo o meu cronograma capilar, totalmente planejado, hoje é dia de reconstrução. Penteei meu cabelo, questionando: “E se eu cortar?” Mas não foi dessa vez que cedi aos encantos da tesoura.

Confesso que mesmo depois de horas, ainda estava preocupada com a visão de mamãe. Orei para que Deus me deixasse descansar sem essa preocupação. Foi então que adormeci, sonhando com uma floresta novamente. Esse tal lobo coberto de sangue aparecia, mas uma voz me dizia: “Independente do que acontecer, não te deixarei só, filha.”

— Mãe! Pai! Mãe! — acordo gritando.

— O que foi, Mia?! — Apareceu meu pai.

— Estou com medo! Acabei de ter um pesadelo. Era um lobo cheio de sangue, pai! — disse chorando.

— Filha, não vai acontecer nada. — Antes que ele terminasse a frase, mamãe o interrompeu, entrando no quarto.

— Filha, você sonhou com um lobo?

— Sim, mãe. — respondi ofegante.

Então os dois me abraçaram e fizeram uma oração para que Deus cuidasse de mim.

— Filha, o pai já te falou que dormir muito cedo faz com que os pesadelos fiquem mais frequentes, não se lembra? — sorriu ele.

— Mas eu nunca vi nenhum estudo que comprovasse isso. — respondi, fazendo com que eles rissem.

Eram apenas nove da noite quando acordei, então resolvi perturbar o juízo das minhas amigas. Liguei para Abigail e Spencer.

— Vish, é melhor não ir mesmo nesse casamento, não. Se Deus deu uma visão para você e a sua mãe… Pode ser um sinal para não ir. — disse Spencer.

— Amiga, só vai. Se acontecer qualquer coisa, chame a polícia, se esconda… Se Deus disse que vai cuidar de você, é porque Ele vai. — sugeriu Abigail.

— Vocês estão me deixando ainda mais confusa. Só não ligo para a Amanda ou para o Cleiton porque eles são os noivos.

Orei um pouco mais, li a Bíblia, meditei em alguns louvores e depois voltei a dormir.

No dia seguinte...

Nos arrumamos em casa, e nossos pais nos levaram até a igreja. Percebi que mamãe estava muito calada, mas preferi não questionar para não ficar mais ansiosa. Fiquei o tempo todo ao lado de Lucas e Rael. Fomos muito bem recebidos por Cleiton, já Amanda, se atrasou bastante.