Como Chegar Até Você

Capítulo Dezessete

Mialara

Minha cabeça tem estado cada vez mais confusa com os acontecimentos recentes. Sinto como se estivesse a ponto de explodir a qualquer momento, mas tento me manter firme. Hoje foi dia de psiquiatra, e com essa história de gravidez, o médico decidiu que era melhor trocar toda a medicação, para que não prejudicasse o bebê. Ele perguntou como eu me sentia em relação a tudo isso, e eu simplesmente não soube responder, comecei a chorar. Uma coisa é fato, em meio a todo esse caos, me lembrar do coração do bebê batendo, me deixa mais calma, por algum motivo que eu ainda não entendi. 

— Por que decidiu ficar com a criança, mesmo sabendo que isso está te trazendo dor? — perguntou o psiquiatra. 

— Bom… — suspirei fundo. — Não acho que gestar o bebê está me trazendo dor. Eu acredito que a parte mais dolorida tem sido lidar com a quantidade de acontecimentos novos na minha vida. 

Nesse momento, o psiquiatra ajustou sua cadeira, pôs seus cotovelos em cima da mesa e cruzou as mãos, para que pudesse me ouvir com mais atenção. 

— Quando algo foge da minha rotina, é como se eu entrasse em colapso. Não consigo colocar na minha cabeça que mudanças e imprevistos são comuns. Tudo começa a ficar confuso… Eu sinto que vou explodir com tanta informação! — exclamei, nervosa. 

— Eu entendo que leva um tempo até você se acostumar com as mudanças, mas é necessário que você tente se manter calma. Afinal, agora você tem uma responsabilidade em dobro, certo? 

— É verdade. — passo as mãos sobre o rosto, nervosa. — Ouvir o coração do bebê… Fez com que eu me acalmasse. Foi como se não existissem mais problemas nessa vida. — Fiz uma pausa. — Está aí! Tchê, achei a solução! — exclamei, fazendo com que o médico ficasse curioso com o que tinha a dizer. — Na próxima vez que eu for fazer um ultrassom, vou pedir o vídeo, ou pelo menos o áudio para a médica, assim, toda vez que eu estiver descontrolada, vou ouvir o áudio do bebê. 

— Se te fará bem, ótimo! — sorriu o psiquiatra. — Também daria para procurar o som na internet. 

— Não é a mesma coisa. O coração dele não bate igual ao dos áudios da internet. — comentei, fazendo-o sorrir. 

Após a consulta, mamãe (que estava fora do consultório) e eu, passamos na farmácia para pegar os medicamentos e fomos para casa. 

Logo mais, as aulas voltarão, confesso que não estou pronta para retornar. Sei que é o meu último ano, mas estarei com a barriga maior, e como vou explicar para as pessoas que estou gerando um filho do meu abusador? Isso tudo é muito complicado para mim. Abigail, Spencer e Azael são os únicos que sabem. Eles disseram que sou forte, embora eu não esteja me sentindo assim. 

As novas medicações estão me deixando muito sonolenta, então, antes de trabalhar, decidi descansar um pouco. 

— Mialara! Por que tem se sentido tão culpada? Achei que já tivesse carregado uma cruz por você. — ouço uma voz no meio de um campo de trigo. 

— Jesus? — pergunto, fazendo eco. 

— Você escolheu ficar com o bebê, mesmo sabendo que é fruto de um abuso. Eu não te julgo, filha. Independente das suas escolhas, Eu continuo te amando. Não se sinta mal, pois estou contigo. Esse bebê será um menino. E não se preocupe, você não vai se sentir mal ao olhar para o rosto de seu filho pela primeira vez, pois ele é escolhido por mim. Você olhará para ele e dirá: “Emanuel, Deus está conosco.” Por que está abatida a sua alma, filha? Espere em Deus. 

Após esse sonho, acordei soluçando. Fui confortada pelo meu Senhor, e não pude deixar de me ajoelhar para falar com Ele.

— Pai, obrigada pela resposta. Tenho me sentido fraca, mas continuo confiando no Teu poder, Senhor. Sei que Tu podes me fortalecer. Sei que, assim como diz a Tua palavra em Salmos trinta, versículo cinco, parte B, eu creio que o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria. Pai, mesmo estando nessa situação, eu Te louvo e Te agradeço, pois Tu és fiel em todo o tempo. Amém. — levantei-me do chão, me sentindo mais leve e aliviada.