2. nem todos têm sorte

726 50 34
                                    

Ele levou todas as malas dela para o quarto. Insistiu.

Giovanna sabia que seria um baita trabalhão, mas aquele homem evidentemente não levava um não como resposta. Debaixo do casaco deviam estar escondidos alguns músculos porque ele subiu malas pesadíssimas como se fossem penas.

— Acho que tá tudo perfeito e tudo cuidado no detalhe.. — Alexandre se antecipou olhando ao redor, depois que voltou para o piso inferior. — Se você precisar de mim, é só bater na minha porta.

— Não tem geladeira? — Giovanna apontou a cozinha, confusa.

Alexandre deu a volta ao balcão e abriu o móvel que mais parecia um gabinete do que uma geladeira.

— Eu não ia te deixar morrendo de fome, né?

Giovanna observou tudo que tinha ali dentro da geladeira.

— Você achou leite de amêndoas. — Murmurou, surpresa.

Quando ele perguntou se ela tinha alguma restrição alimentar essa foi a única coisa que soube contar. Que não era muito chegada em carne vermelha e que não gostava muito de leite normal, apenas de amêndoas. Ele disse que achava difícil encontrar isso por lá, nunca tinha visto tal coisa. Mas talvez fosse porque nunca tivesse procurado, porque no dia seguinte que foi ao mercado fazer as compras para ela tudo pareceu fácil de ser achado.

— Amm.. Acho que você pode tirar esses primeiros dias pra se acostumar, regularizar seu sono, e.. — Alexandre coçou a cabeça. — Em dois dias vou viajar pra Viseu. O clima está previsto para estar frio. Você me disse que nunca tinha visto neve antes, não é?

Giovanna assentiu, olhando para ele ainda perplexa.

— Se quiser vir comigo, te levo até a neve pra conhecer. Se quiser ficar por aqui também.. — Ele olhou ao redor, sem saber muito bem o que falar ou fazer. — Bom. Eu vou te deixar sozinha. Qualquer coisa que você precisar, por favor, seja sincera comigo. Bate lá na porta. Eu to aqui pra te ajudar. — Ele se disponibilizou completamente.

Giovanna riu leve.
Se aproximou dele dando dois beijos, um em cada bochecha.

— Obrigada por tudo, Nero. Não sei nem por onde te agradecer. Essa casa é.. Incrível. Enorme. Você quem decorou?

Alexandre não conseguiu evitar rir enquanto ela olhava ao redor.

— O que foi? Eu disse algo errado?

— Era dos meus pais. E antes disso, foi pertencente aos pais deles.

— Eles já..? — Giovanna se poupou de terminar a pergunta. Ela nem precisava.

— Sim, quando eu era pequeno. Só restamos eu e minhas irmãs, que estão no Brasil. Elas eventualmente visitam, mas eu te deixo avisada se for rolar. — Ele enfiou as mãos no bolso, atordoado.

Era a lareira ou realmente estava quente naquele lugar?

— Bom, vou te deixar descansar. Por favor, qualquer coisa, fala comigo? — Ele insistiu. — Vou deixar aquela porta que divide nossas casas trancada, mas é só me mandar uma mensagem e eu corro pra cá!

Giovanna assentiu.

— Sim, senhor! — Bateu continência fracamente. — O mesmo se aplica aqui. Se eu estiver te incomodando, por favor, me avisa! — Ela deu uma risadinha.

Ele riu junto e balançou a cabeça negativamente.

— Vou lá falar com seu pai. Ele deve estar explodindo de ansiedade por não ter entrado em contato até agora. Fica tranquila, vou falar que você já dormiu.

Giovanna automaticamente mostrou uma expressão de alívio completo. Como ele sabia do desconforto dela em falar com o pai? Será que ele tinha comentado algo?

— Valeu. — Foi a única coisa que ela disse, do fundo do coração.

Alexandre piscou para ela e saiu pela porta, entrando do seu lado da casa. Giovanna fechou a porta por costume, e tratou de subir as escadas correndo. Quando chegou ao quarto já foi deixando suas coisas para lá e para cá enquanto aquela casa aos poucos se transformava com o tom dela, dos pertences dela.

Giovanna fez bagunça o suficiente até conseguir tudo que precisava para tomar um bom banho de banheira e cair na cama logo em seguida. Estava zonza e irritada por ter passado tanto tempo em aeroportos e aviões, e não conseguia acreditar que finalmente estava ali. Sem saber muito bem o que o futuro lhe reservava.

Do outro lado da casa, Alexandre mandava mensagens para o amigo. Eram 23 horas ali, o que significava que no Brasil ainda eram sete da noite, um horário ok para trocarem mensagens. Observou Karen dormindo na cama e foi para a sacada.

— Ela chegou bem sim, já está instalada. Acho que está descansando, foi uma jornada longa. — Alexandre andava de um lado para o outro com o telefone grudado na orelha. — Sim, está enorme. Pensei que fosse encontrar uma mocinha mas ela já está uma mulher! — Alexandre esboçou toda sua surpresa. — Sei que ela continua sendo seu bebê, pode deixar. Eu já te disse que cuido e ajudo no que for preciso.

Hilton se sentia mais aliviado.

— Sempre sonhei isso para ela. Sei que vai ser ótimo para você ter uma companhia, ela pode te ajudar com os idiomas, é muito desinibida. E quanto a ela.. Ela precisava de um recomeço.

— Vamos fazer aquele trato, pode ser? Ela fica dois meses, vai pra Londres fazer o que tiver que fazer, e se nesses dois primeiros meses tudo der certo, então ela retorna para minha casa depois do curso lá.

— Combinado. Alexandre, nunca vou poder te agradecer o suficiente..

Nero deu uma risada fraca.

— É bom que ela traga um pouco de luz e movimento para casa. Eu estava muito sozinho com essa do home office..

— Você e a Karen ainda não melhoraram?

— Não é todo mundo que tem sorte no amor como você tem, meu caro.

— Poxa.. Vou torcer pra tudo melhorar e vocês serem felizes! Acho que tudo melhoraria se ela engravidasse logo.

Alexandre suspirou. Não precisava contar que já não tentavam fazia muito tempo.

— Como se você viesse me visitar o suficiente para ver algo acontecendo por aqui!

— Estamos pensando de passar o Natal aí. — Hilton comentou.

— Se tudo der certo e sua filha acabar voltando pra cá.. Claro, por que não?

— Combinado. E Nero, muito obrigado, mais uma vez.

Alexandre suspirou, balançando a cabeça negativamente.

— Estou fazendo isso por você porque sei o que essa oportunidade representa pra ela. Mas também estou fazendo por mim. Ela vai me quebrar um galho com o trabalho e o lance dos idiomas.. Eu não tenho a menor paciência pra isso, você sabe.

— Mesmo assim. Obrigado. Não é todo dia que se pode confiar assim em um amigo. A mãe dela também está grata.

Ele suspirou, pela primeira vez sentindo o peso da responsabilidade sob seus ombros.

— Imagina, meu amigo. Estamos juntos pro que der e vier! — Prometeu.

the prophecyOnde histórias criam vida. Descubra agora