Os dias se passaram e ela o ajudava com o trabalho. Ele normalmente acordava bem mais cedo que Giovanna.
Tinha saído para algumas reuniões em cidades vizinhas e avisou Giovanna por mensagem que só voltaria na parte da tarde.— Eu não te achava em lugar nenhum! Que susto! — Alexandre subiu ao terraço e a viu silenciosa lendo seu livro. A mão em seu peito mostrava o desespero.
— Nero.. Eu já tenho vinte e cinco anos, calma lá. — Ela ria.
— Eu te chamei ali na porta da sua casa e você não respondia. As janelas todas abertas, portas também. Achei que algo tinha acontecido.
— Não.. Eu tava aqui fora. Sempre que você me procurar e não me achar, conclua que eu estou aqui fora. Aqui é a minha parte favorita da casa.
— Certo.. Você quase me mata do coração. Podemos almoçar aqui mesmo? — Ele perguntou, mostrando a sacola de papel.
— Eu aceito você ficar na minha área favorita, sim. — Ela brincou. — Fique a vontade, bem vindo a minha casa.
Ele riu, arregaçando a camisa social e se sentando ao lado dela. Tinha garfos de plástico e dois pokes na sacola. A bebida estava ali também.
— Você acredita que eu nunca fico aqui? — Ele comentou enquanto almoçavam, olhando ao redor. — Eu gosto muito daqui. Que lugar legal. E aqui pega o wi-fi! — Ele se chocou.
— Lógico.. Você acha mesmo que eu conseguiria ficar aqui se o wi-fi não pegasse, Nero?
Ele riu, balançando a cabeça.
— É que não tinha wi-fi desse lado da casa. Eu instalei quando seu pai disse que você vinha. Isso e a televisão perto da lareira são novidades nessa casa caindo aos pedaços.
— Bom, fico feliz de te mostrar as vantagens da sua casa enorme e linda. — Ela o encarou, corrigindo as informações que ele tinha dito.
— Isso é legal. Da pra eu trabalhar aqui!
— Ei ei ei. Essa é minha parte favorita da casa. Você não pode simplesmente roubar! Eu quem achei, sozinha, antes de você!
— Ah, claro. — Riu timidamente se corrigindo. — Eu aviso a senhorita quando eu tiver interesse de vir para essa área da casa e apenas a usarei quando vossa majestade não estiver aqui, pode ser?
— Ótimo. — Ela respondeu com soberba como se ela realmente fosse a dona da casa. — Acho sua ideia ótima, Nero. Ah.. Meu pai pediu pra entregar essas camisetas do Brasil a vocês.
— Ah, sim. São pros meus sobrinhos. — Ele sorriu pegando o pacote.
— Achei que fossem filhos de vocês.
— Nah. São pros feiosos da Ana. Eu sempre fico zoando eles que eles são muito feios, e eles fazem isso comigo também.
— Que dó das crianças, Alexandre! — Giovanna chamou a atenção dele.
— É só brincadeira, pô. — Ele deixou as camisas de lado e continuou a almoçar.
— Você não gosta de crianças?
— Eu gosto.
— E por que vocês não tem filhos?
— Amm.. — Alexandre coçou a cabeça, sem saber muito bem responder. Evidentemente o pai dela não havia contado para ela nem missa a metade. — Eu e a Karen tentamos por muitos anos quando ficamos juntos doze anos atrás, mas.. Não aconteceu. Hoje em dia já desistimos, na verdade eu mal a vejo. — Admitiu. — Já temos idade e nem se ela quisesse ela consegue mais.. E bom, não aconteceu. — Ele se explicou. — Vou agradecer se você tomar cuidado com esse assunto perto dela.
Giovanna assentiu.
— Vocês não tentaram adotar?
Alexandre balançou a cabeça negativamente.
— Quando você tenta por muitos anos e não consegue.. Bom, isso afeta a relação. De uma forma estrondosa. Hoje em dia ela tem os hobbies e atividades e studios dela.. E eu acho ótimo, porque teve uma época que ela ficou realmente muito mal com isso. Agora ela se desprendeu dessa fixação, e eu já sou muito ranzinza pra minha idade. Acho que não teria a menor paciência a essa altura do campeonato.
Giovanna sorriu leve.
— Eu quero muito ser mãe. — Admitiu.
— Jura? — Ele se surpreendeu.
— Sim. Mas só se eu visse que o cara é realmente muito bacana. Eu e meu pai não somos nada próximos e.. Não sei se ele te contou isso, mas, eu tenho meus traumas. — Ela deu de ombros. — Não quero isso pro meu bebê.
Alexandre ficou olhando o rosto dela enquanto comia e admirava a vista. Os olhos dela brilhavam de amor por Portugal, aquele lugar tão lindo que parecia que ela estava vivendo em um filme.
— Só agora que eu estou convivendo com você eu percebo o quão solitário eu tenho sido. — Ele falou em voz alta, franzindo o cenho.
Giovanna levou os olhos para ele.
— Desde a época da pandemia tudo ficou muito normal pra mim. Trabalhar em casa, fazer tudo sozinho. Mas agora que você tá aqui, só agora eu percebi a minha solidão.
Giovanna engoliu a seco.
— Só agora tendo companhia o dia todo, saindo pra comprar coisas juntos, trabalhando.. Almoçando e jantando juntos. Só agora eu notei. — Ele soltou um arzinho pelo nariz que se parecia muito com uma risada forçada.
— Isso é um problema, né? — Giovanna o olhava apreensiva.
— Por que seria?
— Porque logo eu vou embora e você volta a ficar sozinho. — Ela falou baixo e delicadamente, sem querer deixá-lo triste.
— A gente vive o momento, sem se preocupar com o que vai acontecer depois. — Ele sorriu com o canto da boca, mas Giovanna via que era um sorriso forçado. — Que tal aquele sorvete de pistache que você tanto queria?
— Você achou? — Giovanna abriu a boca em um perfeito O. — Meu Deus, Nero, eu te amo! — Ela o abraçou forte.
Ele riu baixo, correspondendo ao abraço. Sentia aquela mulher mais baixa que ele e mais delicada que ele em seus braços e notava pela primeira vez que o perfume dela era o mais delicioso do mundo.
— Bora tomar esse sorvete! — Ela o puxou pela mão descendo as escadas do terraço.
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the prophecy
RomanceGiovanna tenta a vida na Europa com a ajuda de um amigo de seu pai. Nesse intercâmbio, sua vida pode virar de ponta cabeça.