6. adega

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Giovanna acordou bem cedo. Fez seu café, pegou seu livro e foi para o terraço, silenciosamente. Se sentou diante à enorme mesa de vidro que ele havia colocado ali para ela, e viu que Alexandre tinha arrumado o ambiente que não era utilizado por ninguém, para ela.

Quando olhou para debaixo da escada em caracol, viu Alexandre andando sem camisa, de calça jeans e bota. Ele fazia todo tipo de trabalho braçal e dedicava sua vida a cuidar daquela casa, nos intervalos do trabalho.

A verdade era que estava numa posição muito alta e raramente recebia ligações e respondia e-mails. Precisava estar nas reuniões certas, de resto, era ele quem mandava em todo mundo. A única dificuldade estava nos e-mails em um milhão de idiomas diferentes mas Giovanna o estava ajudando com isso, então ele tinha mais tempo livre agora do que normalmente.

Ela assistiu pacientemente enquanto ele passava látex no portão de madeira da garagem. Cortava os excessos das árvores e suava.

Giovanna não conseguiu evitar de perceber, no entanto, o quanto seu abdômen era definido. Já tinham saído para caminhar juntos, e ela já tinha visto a academia dentro da casa dele. Mas jamais imaginava que por debaixo daquela camisa havia.. Tudo aquilo.

Ela bebericava o café se esquecendo completamente do livro em cima da mesa. Assistir aquele homem ocupado era muito mais interessante.

Ele lavou as mãos sujas e passou um pouco de água no pescoço, tentando aliviar o calor. Agora sim, de fato, iniciava a estação que fazia sentido. Primavera e um mínimo de pelo menos 25 graus, como Giovanna estava acostumada.

Ele bateu os olhos no ambiente onde Giovanna sempre estava e abriu um sorriso.

— Olha você ai. Desce aqui, tenho algo a te mostrar.

Ele se livrou das botas e foi descalço até a beira da escada, esperando enquanto Giovanna descia. Ele não tinha visto muito bem previamente, porque os muros escondiam a menina lá em cima.

Quando ela desceu com o baby doll que ele tinha visto, o homem engoliu a seco e mudou de expressão automaticamente.

Estendeu a mão na direção dela, ajudando a descer a escada de caracol.

— O que é?

— Fiz mudanças aqui na parte de trás, quero saber o que você acha.

— Ahhh.. Tá muito lindo. — Ela cruzou os braços tentando esconder a roupa indevida. E também o fato de que ela estava assistindo há muito tempo, fingindo surpresa. — O que tem ali, Nero? — Ela apontou uma outra garagem, que agora parecia um pouco subterrânea.

Ele riu baixo e tirou uma chave do bolso.

— Promete que não mostra pra ninguém? É meu lugar secreto. Por aqui, o pessoal tenta invadir. Tem muito dinheiro ali embaixo.

Giovanna estranhou e o olhou, curiosa. Assentiu e esperou enquanto ele abria o cômodo.

Desceu os degraus para a adega e entrou olhando ao redor, admirando cada detalhe daquela coleção enorme de vinhos.

Tudo organizado, limpo, e com a cara dele.

— Aqui é meu bunker. — Ele riu leve. — Se eu sumir e você não souber onde eu estou, estou provavelmente aqui.

— A Karen sempre te acha aqui? — Ela perguntou, brincalhona.

— Acho que eu e você sabemos que a Karen não se dá ao trabalho de me procurar, nem se eu estivesse na sala.

Giovanna gargalhou e tentou manter a seriedade.
Ele riu junto, não conseguindo evitar.

— Por que vocês ainda estão juntos?

— Sabe que eu não sei? — Ele admitiu. Deu alguns passos pela adega pegando o vinho que era mais especial. Ela podia ver porque estava na área de maior decoração, e com várias explicações ao redor.

— Você não vai abrir isso, não é?

— Por que eu não iria?

— Porque isso é uma coleção e tanto. Deve custar uma nota.

— Você ainda não experimentou o melhor vinho da região.

— Nero, eu tô falando sério, eu não preciso experimentar esse vinho..

Ele fez força com o braço e ela percebeu a facilidade com a qual abriu a garrafa. Serviu duas taças de
vinho e deu uma delas na mão de Giovanna, que agora suspirava.

O homem suado deu um passo na direção dela, inclinando a taça em sua direção, esperando um brinde.

Ela cedeu, pegando a taça e batendo na dele com delicadeza. Lentamente. Tirou os olhos das taças brindando e tomou um gole enquanto ele também tomava outro.

Os olhos presos um ao outro.
Ela podia sentir seu corpo formigar com o olhar de Alexandre.

— Tá gostoso? — Ele perguntou baixo.

Giovanna sentiu o coração acelerar e engasgou com a bebida, derramando uma gota pelo lábio enquanto fazia um circo para não derrubar a taça no chão.

Ele ria divertido com a reação dela, que o olhou completamente apavorada.
Os pensamentos dela iam a mil, entre "ele tem a idade do meu pai" e "eu estou vendo coisas onde não existem coisas".

Mas aquilo era cada dia mais palpável. Aquela relação deles, o jeito como se davam bem, como passavam os dias juntos e horas a fio conversando e descobrindo cada vez mais um do outro. Giovanna sabia que naquele ponto, Alexandre já a conhecia mais do que qualquer pessoa no Brasil.

Ele se aproximou mais, e limpou a boca dela com o polegar.

— Eu perguntei se tá gostoso, Gio. — Ele sussurrou segurando o queixo dela.

Giovanna piscou com lentidão, tentando assimilar a proximidade, o cheiro forte do perfume dele misturado com o suor, aquele homem lindo e grisalho a sua frente.

Assentiu, engolindo a seco.
Ele podia sentir o quão tensa e nervosa ela ficava na presença dele às vezes. E em momentos específicos ele gostava muito de surtir esse efeito nela.

Ele sabia que não deveria.
Sabia que seu amigo o mataria.
Pressionou a cintura dela na sua.
Ouviu Giovanna soltar um gemido como resposta.
Aproximou sua testa da dela lentamente e a beijou como se encontrasse água no deserto depois de caminhar por dias.

Ele se perguntava todos os dias qual devia ser o gosto dela, como seria aquele beijo. No começo achou estar fantasiando algo inexistente, mas ela correspondia a todos os sinais.

E o beijava com tanta paixão e ardência quanto ele poderia pedir. As mãos dela apalpavam o abdômen e ela soltava gemidos de prazer no meio do beijo, em poucos momentos que ele a deixava respirar.

A pressionou contra um dos armários de vinho, empurrando a excitação contra o tecido fino que cobria seu corpo. Giovanna sentiu dor na área. Ele estava tão duro, que ela conseguia sentir como pulsava.

— A Karen chega já já. — Ela sussurrou entre o beijo tentando se afastar, sem sucesso.

— Já te disse que ela não vem me procurar. — Ele passou a beijar o pescoço dela.

— Alexandre. — Ela o afastou pelo peitoral e o encarou olhando nos olhos.

— Diz que não quer e eu paro agora.

Ela ficou em silêncio.
Fechou a boca.

Não poderia dizer isso.

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