CAPÍTULO XXI: Como um Herói.

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Após aquele momento, tudo o que desejava era chapar e esquecer que possuo um corpo. Um corpo que não é meu. Substituiria toda a água por ácido se encostassem outra vez.

— O que eu devo fazer, Jesus? Você já assistiu meu corpo nu, só alguém tão sábio poderia responder.

Questionava a estatueta em minha parede, que, ainda que completamente inanimada, devorava-me como todos. Energeticamente aprisionava-me a um edredom que, com sorte, sufocaria-me. Meus fios emaranhados e meus olhos avermelhados, para variar. Meu corpo coberto com um moletom de poliéster e uma calça de linho, completamente pretos, sem quaisquer estampas. Eu pretendia manter este visual pelo resto dos meus dias. Quanto mais a presa se mostrar, mais fácil devora-la será. Fazer piadinhas certamente não é o método utilizado por psicólogos. Quando moleque, conquistei a honra de contemplar a alquimia e a psicologia de papai. O grande problema era sua eficácia. Para os humanos, sempre o melhor entre homens. Deveria copia-lo? Eu havia decidido. Não iria despir-me naquela sede. Não somente Bridgette perseguindo-me maniacamente, como a ciência dos portes de câmeras da residência. Não confio na disciplina e estribeiras policiais. Em todo caso, posso viver sem água. Até então, eu não havia bebido naquele dia. Minha única prioridade era manter meu corpo seguro. Mas precisaria lidar com isto... Era a melhor opção disponível. Logo este caos se encerraria, o velhote me liberaria e, então, todos viveríamos nossas vidas normalmente. Sem Bridgette, sem os heróis, sem porra nenhuma. Somente...

— Aqueles viadinhos desgraçados querem foder comigo!

Cardan. Estúpido e irracional, Cardan. Embora, surpreendente, estivesse se saindo excepcional como herói. Sempre foi um incontestável mentiroso. Eu não poderia escolher alguém pior para dividir tudo isto.

— Okami? Que que cê tem? O... Aquela vadia... Merda, eu sabia!

Imediatamente parou seu escândalo, ao finalmente olhar para mim. E imediatamente compreendeu. Nós nunca precisamos contar infinitos fatos... O outro sempre descobria. Mas este, este eu desejaria que jamais soubesse.

— Ela te espionou pelado, não foi?

Rangiu seus dentes, percebendo toda a situação. Eu não me trajo desta maneira cotidianamente. Eu odeio roupas como esta... São quentes demais e eu odeio o calor. Já não é possível atingirem-me com fogo. Entretanto, ainda que fosse, não haveriam dúvidas se necessário decidir entre o toque de uma chama e o de uma mulher.

— Não foi a primeira vez. Francamente, duvido que seja a última.

Com certeza, não. Eu acho que é uma maldição. Eu sabia que minha vida só pararia de se destruir quando chegasse ao fim.

— Poderia ser, se você quisesse. Você sabe que eu só to nessa por você. Eu quero que o Kyoshi se foda.

Retrucou Cardan, tirando sua encharcada camisa e disparando socos em um saco de pancadas. Seu corpo estava suado, mas sem uma gota de sangue. Estava muito educativo, para um vampiro. Acabaria morrendo por abstinência.

— Não, porra. Precisamos fazer as paradas dos heróis. Precisamos. E eu não posso mata-la. Sabe bem. Se eu pudesse já... Ugh.

Lançou um de seus pesos contra mim, para silenciar-me. Não era pesado o bastante para me ferir e Cardan sabia, não passou de uma distração.

— Você precisa parar com isso.

Afirmou, disparando os socos contra os sacos. Sua expressão e tom de voz, diferentemente do que se esperararia, não carregavam qualquer sarcasmo. Se viesse com discursos motivacionais eu atiraria em seu cérebro.

— Parar com o quê?

Cardan conseguia ser incrivelmente ilegível, às vezes até para mim. Começaria um discurso motivacional ou iria me esculachar. Como fosse, a surdez soava como dádiva neste momento.

Between Sex and BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora