𝟎𝟏𝟐- 𝐄𝐥𝐞 𝐟𝐢𝐜𝐨𝐮

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“ Se você não desistiu é porque, de alguma forma, você ainda quer acreditar. ”

— Renato Russo.

THAYNÁ MARQUES'

Alguns dias haviam se passado desde o dia em que tirei as fotos com os jogadores, e desde o dia fatídico em que o Gabriel me beijou.

Se pudesse dizer a verdade, diria que odiei tanto aquele na mesma medida em que me odiei. Isso porque não poderia crer no fato de que gostei tanto daquele maldito beijo. E também não poderia assumir o quão confusa fiquei depois dele, e o quão emocionada me sinto.

Sério, ódio e ódio.

De qualquer forma, tentei levar tudo numa boa. Tentei não demonstrar meus reais sentimentos confusos, e acho que me dei bem em mentir, afinal faço isso a minha vida toda.

Quando se cresce em uma família conturbada, onde seus sentimentos não valem porcaria nenhuma, você se acostuma a nunca deixar seus sentimentos escaparem, e mentir sobre eles quando necessário. Se tornava algo natural.

Aliás, sobre a minha família, eu fiquei dias sem notícias deles, e confesso que foi algo libertador. Mas ontem à noite meu pai me ligou, pedindo que fosse ver a Bella, já que a pequena alegava estar morrendo de saudades e ainda por cima ardia em febre, e como sempre, a culpa era toda minha, segundo meu querido pai.

Às vezes eu me sentia imponente. Porque eu tinha mil palavras na ponta da língua pra responder meu pai, mas não proferiu nenhuma delas por medo. Do que exatamente? Confesso que não sabia. Mas era um medo que eu tinha desde criança.

Toda vez que meu pai me decepcionava, eu tinha muita vontade de contar tudo o que eu sentia, e tudo o que ele me fazia sentir. Mas não saía, sabe? Na hora h, eu sentia um medo crescer no meu peito, e eu não dizia nada, nadinha mesmo.

Isso me acarretou em diversas crises de ansiedade, porque eu nunca conseguia dizer o que queria, e isso me sufocava.

Me sentia em um grande mar, onde mergulhava nas águas, e elas me sufocavam, e nunca conseguia subir a superfície. Era desesperador na infância, mas depois eu me acostumei. Já não era algo tão assustador.

— Tô indo comprar comida, tá bom, Thata? —
Gabriel perguntou, e eu assenti. — ah, e acho que os moleques vão vir aqui, tem problema?

— Gabi, a casa é sua. — O lembrei.

— Independente, ué. Não quero que você se sinta desconfortável.

— Por mim não tem problema não.

— Belê, então tô indo.

Ele logo saiu pela porta, me deixando sozinha na sala, e acho que era bom até. Sozinha eu sentia que conseguia organizar meus pensamentos com mais facilidade.

Minha paz, portanto, não durou muito. Meu celular tocou de forma insistente ao meu lado, e sabendo quem seria, fiquei receosa e novamente a sensação de medo se aflorou em meu peito.

Peguei o celular, sentindo minhas mãos tremerem em ansiedade. Mas atendo, de qualquer forma.

— Boa noite, Thayná Cecília. — Meu pai pronunciou meu nome de forma arrastada e ignorante, tal como o jeito dele de ser.

— Boa noite. - Respondo-o, com a voz entre cortada.

— Será que você poderia ter a decência de vir ver a sua irmã? Caramba, a menina foi parar no hospital por sua causa! E nem a gratidão, a consideração, de vir até aqui você teve, sua idiota! — Disse, totalmente bravo, parecia enfurecido comigo. Isso me deixou nervosa, consequentemente já nem sentia meu pulmão capaz de me dar ar. Posicionei minha mão livre em meu peito, massageando para ver se conseguia um pouco de ar. — Me responde, menina! Ou nem isso você sabe fazer? Não me surpreenderia, é uma inútil incompetente mesmo.

𝐋𝐎𝐕𝐄𝐑 - 𝐆𝐚𝐛𝐫𝐢𝐞𝐥 𝐁𝐚𝐫𝐛𝐨𝐬𝐚Where stories live. Discover now