Prólogo: Inevitável

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Inevitável.

Quando eu era moleque tive um cachorro chamado Fred. Ele era um pastor alemão com cinquenta e sete quilos e uma hérnia de disco que o fazia sofrer pra caramba.

Fred foi o melhor amigo que qualquer garoto de seis anos poderia ter e eu o amei. Conforme o tempo passou, os problemas de coluna de Fred foram se agravando e ele ficou paralítico. Me lembro como se fosse ontem, num segundo ele descia a escada atrás de mim e no outro simplesmente desabou aos meus pés se contorcendo de dor.

Doeu em mim vê-lo daquela forma, sofri com ele e quando o veterinário disse que ele não seria mais capaz de andar, fiquei pensando no que seria da vida de Fred dali em diante. Eu tinha seis anos e não sabia muita coisa sobre o futuro, muito menos de como as coisas funcionavam na vida real, mas esperava que Fred voltasse a andar no que todo mundo chamava de futuro.

Meu pai disse que se eu rezasse talvez Deus tivesse misericórdia de Fred e o tirasse a dor num passe de mágica que ele chamava de milagre.

Depois daquele dia, toda noite eu pedia a Deus que ele salvasse Fred e o tirasse a dor. Bom, não aconteceu e numa noite qualquer Fred dormiu nos pés da minha cama, como sempre fazia, e não acordou no dia seguinte. Meu pai disse que Deus tinha levado Fred de nós porque era sua maneira de livrá-lo da dor. Ele também me disse que a morte era inevitável pra qualquer ser que vive.

Nunca esqueci daquela palavra: Inevitável.

Com o tempo fui descobrindo que existe uma série de coisas na vida que são inevitáveis, a morte, a vida, desastres naturais, corações partidos...

Corações partidos.

Há quem diga que isso pode ser evitado. Eu tenho uma teoria a respeito: se você não ama, não sofre, não se entrega a esse sentimento avassalador acaba não sofrendo as consequências de tal ato. Se não se apaixona, não corre o risco de ter o coração dilacerado, o que pode parecer a solução pra evitar a pior dor que você jamais vai sentir.

Mas...

Sempre tem um "mas", não é?

Mas se você não se apaixona, não vive. Se não tem coragem suficiente para se entregar aos sentimentos não desfruta das melhores sensações que um ser humano pode sentir, não sente o prazer de ver a pessoa amada caminhando na sua direção, não sente o coração acelerar quando vê o sorriso dela... Se você não ama, não vive. Já está morto.

Contudo, se você é corajoso o bastante para amar, você vai morrendo aos poucos... É doloroso e você até acha que não vai suportar, mas você suporta.

Suporta porque cada dia de lembrança e saudade da pessoa amada é uma tortura que você anseia ter. Cada foto e ingresso de cinema te quebra mais um pouco, mas te lembra de tudo que vocês passaram de bom.

E agora eu aceitava isso.

Aceitava a dor da perda porque o prazer de tê-la amado era maior. Agora, eu aceitava sofrer por não estar mais com ela, porque cada segundo ao seu lado tinha sido válido. Ela fez cada segundo de dor agora, valer a pena em cada segundo de amor que tivemos.

E voltando a falar sobre coisas inevitáveis, foi inevitável me apaixonar por ela.

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