Capítulo 08: Por que?

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Olha só quem decidiu lembrar desse velho aqui. – Jonah me puxa para um abraço e dá um tapa na minha nuca.

Meu pai é um cara durão, a vida fez isso com ele. Mas ainda assim, ele nos criou com amor incondicional e demonstrações de afeto reais. Jonathan Summer não é o cara que não beija os filhos com medo que eles se tornem maricas. Pelo contrário, ele é o cara que beija os três babacas que criou para que eles tenham a certeza de que são amados incondicionalmente.

Quando ele me abraça no meio da oficina no final do expediente, me sinto pior pelo que acabei de fazer com Taylor. A imagem da decepção em seu rosto não sai da minha cabeça e sei que minha reação beira o imperdoável.

— O que te traz aqui, moleque? Já estou de fechando e o Zach acabou de ir embora.

Uma oficina mecânica de uma cidade pequena não é um negócio altamente lucrativo, mas colocava comida na nossa mesa e podia pagar minha faculdade. A Brown é uma Ivy League, integralmente deve custar quase cem mil dólares por ano e nós nunca teríamos essa grana pra pagar pela minha educação, mas sempre existe um programa de bolsa e minha mãe estudou ali quando jovem. Alguns contatos e uma nota acima de média no SAT e ganhei uma bolsa. Até hoje fico pensando se foi por isso que Zach não quis fazer faculdade. Com a nossa pouca diferença de idade meu pai nunca poderia manter nós dois na faculdade, pagar as contas e tocar a oficina. Ele nega até a morte que tenha sacrificado seu futuro acadêmico em prol do meu, mas no fundo eu sei que ele fez aquilo por mim.

Meu pai estala os dedos na minha frente chamando minha atenção e olho pra ele atordoado.

— Você tá com cara de quem aprontou. Desembucha.

E mais uma vez eu digo, o cara é meu pai. Ele me conhece como a palma da minha mão e provavelmente vai me dar um soco quando souber o que fiz. Steven – pai de Taylor – e meu pai são amigos desde que me entendo por gente. Eles se consideram irmãos e a amizade entre os dois é exatamente como a minha e a do Taylor.

— Se eu te contar agora você vai me dar uma surra. Preciso beber e preciso que você beba pra que eu possa contar. Quer ir ao Joe's?

Os olhos do meu pai me analisam com curiosidade, mas ele já sabe que pisei na bola. Fechamos a oficina e ofereço carona na moto, mas meu pai não larga seu Ford Mustang 1967 por nada nessa vida. Ele se livraria de um dos filhos para manter o carro, pode apostar.

Depois que perdemos minha mãe, Jonah entrou numa maré baixa e se entregou a tudo que não deveria. Eu era uma criança, Zach já tinha idade para compreender as coisas, mas o único velho o bastante para tomar partido daquela situação foi Willian. Ele nos dava banho, ligava pra tia Kate trazer um pouco de almoço pra gente... Foi uma época foda, fico feliz por só me lembrar de alguns detalhes e não ter grandes memórias da degradação do homem que hoje em dia é meu herói.

Meu pai estaciona ao meu lado e desce do carro tirando o boné de beisebol surrado para coçar a cabeça. Espero ele chegar perto e entro no bar. Não está cheio e agradeço por isso, meu pai me segue até o balcão e peço uma jarra de cerveja. Uma música antiga está tocando, mas ninguém realmente presta atenção.

— Fala logo o que você aprontou, filho.

Suspiro e bebo um pouco de cerveja.

— Bati no Tay.

Um... Dois... Três. Faço uma contagem mental até meu pai soltar os cachorros pra cima de mim, mas as palavras nunca vêm. Ele só me olha como se eu tivesse acabado de blasfemar no meio de uma igreja.

— Você o que? – ele grunhe e sei que agora sim estou prestes a tomar uma surra.

— Dei um soco nele e ele me botou pra fora.

RelentlessWhere stories live. Discover now