09- A pintora (M + M)

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Eu havia acabado de me mudar para o interior de São Paulo em razão do trabalho do meu marido. Vida pacata, poucos afazeres e muito tempo livre. Ao me mudar, tive que me afastar do meu emprego na capital, o que não fora nada difícil para mim. Odiava aquela vida de secretária executiva, de ter que usar salto alto e maquiagem todos os dias. Agora eu tinha tempo para mim, para desfrutar do meu marido e das boas coisas da vida.

Como ainda não tínhamos filhos, eu podia me dar ao luxo de bater perna, fazer compras, ir à academia diariamente e até matriculei-me em um curso de pintura. Foi aí que tudo começou.

Minha turma devia ter umas oito pessoas, no máximo. Dentre elas, Joana. Joana era uma colega de turma que já era pintora profissional, mas estava refazendo alguns módulos básicos para aprimorar seu traço no desenho de rostos.

Notei-a desde o primeiro dia. Não havia como não notá-la: alta, magra, cabelos longos, loiros platinados, seios enormes, tatuagem de dragão nas costas e símbolo do infinito no pulso, dentes brancos como leite e olhos verdes como duas esmeraldas. Joana era deslumbrante! Além de toda essa beleza, logo notei sua forte veia artística. Joana tinha algo diferente no olhar... Ela não apenas observava as coisas ao seu redor: apreendia-lhes a alma. Quando desenhava o retrato de alguém, imprimia dor, angústia, felicidade ou sofrimento... O que quer que o sujeito/modelo emanasse... Seus dedos delicados pintavam com uma leveza inaudível! Parecia uma mistura de garça com anjo do mal. Sim, Joana não era exatamente angelical... Seu jeito, seu olhar e suas tatuagens contrastavam com seus traços finos e meigos.

Desde que a vi pela primeira vez, não entendi o que senti. Era um misto de admiração, veneração... Ou quem sabe, atração... Fato é: eu nunca havia sentido isso por uma mulher!

Tais sentimentos deixavam-me confusa, pois, eu era apaixonada pelo meu marido, e ele havia sido o único homem da minha vida. Namoramos desde o colegial, e, desde então, nunca tive olhos para mais ninguém. Nosso sexo era carinhoso e romântico. Confesso que, às vezes eu sentia falta de algo mais forte... Um sexo mais ousado que me descabelasse e me deixasse louca! Mas isso nunca fora um problema para mim, pois era algo que eu conseguia sublimar com meus afazeres de dona de casa e aprendiz de pintora.

Assustava-me, porém, a forma como eu pensava em Joana. Quando eu a via entrando na sala, baixava os olhos para minha tela e fingia pintar qualquer coisa só para não ter que encará-la. Temia que ela percebesse esse incontrolável desejo que eu sentia.

Quando ela se sentava à minha frente, de camiseta, eu observava sua tatuagem nas costas e desejava imensamente ser aquele dragão... E quanto mais eu a via, mais eu pensava nela. Mesmo depois, quando voltava para casa, meus pensamentos giravam em torno dela, desse sentimento platônico, ambíguo e proibido. Punia-me em pensamento... Mas quanto mais eu o fazia, mais eu pensava em Joana. Estaria ficando louca?Um dia, em uma das aulas, Joana foi até a frente de todos e pediu um minuto de atenção, já previamente estabelecido pela nossa professora. Com sua voz doce, e ao mesmo tempo, tenaz, convidou-nos para uma exposição de suas obras que ocorreria no dia seguinte em uma galeria da cidade. Após a exposição, todos estaríamos convidados para um coquetel.

Pensei em não ir, de modo que eu pudesse resistir à tentação. Mas meu coração falou mais alto, e, no dia seguinte, lá estava eu, perfumada, escovada, de unhas feitas, jogando meus cachos marrons para o lado, paradoxalmente desejando que Joana me notasse.

Meu marido preferiu não me acompanhar. Ele não gostava muito desses eventos artísticos, pois, os julgava "femininos" demais.

Sozinha e com o coração na boca, estacionei meu carro e desci em frente à galeria. Pernas bambas em cima do salto agulha fizeram-me recordar brevemente o período em que trabalhei como secretária. Ali, eu não era a secretária: era uma aprendiz de pintora que iria ao encontro da diva artista dos meus sonhos; a musa que invadiu minha mente sem pedir licença, fazendo-me questionar minha heterossexualidade.

15 Contos Eróticos / Segredos de Eros (Vol. 1 - Série Fifteen) - COMPLETOWhere stories live. Discover now