14- O pastor (H + M)

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Nasci e fui criada na Igreja Triangular Assembleia do Cordeiro. Trata-se de uma comunidade pentecostal da região de Contagem (MG), cidade pertencente à região metropolitana de Belo Horizonte.

Minha mãe sempre foi muito religiosa e, em razão disso, obrigava-nos (minha irmã e eu) a irmos ao culto duas vezes por semana. Além disso, não podíamos usar calça nem maquiagem, uma vez que a vaidade é pecado; o livro de Lucas dispõe que "(...) Não vos preocupais quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir; pois a vida é mais que o alimento, e o corpo é mais que o vestuário. (...)" Em razão desta e de outras passagens bíblicas, as saias que usávamos mediam na altura dos joelhos e nossos cabelos ultrapassavam um pouco a cintura.

Eu era a típica "crente". Algumas pessoas, quando me viam na rua, diziam "paz do Senhor, irmã", e eu nunca soube se eram membros da minha igreja e me conheciam de vista ou se, por causa da minha aparência, falavam para me zoar.

Não preciso nem dizer que minha adolescência foi um fiasco! Enquanto todas as minhas amigas se aprontavam para sair, arrumavam namoradinhos e ouviam músicas da Beyoncé, eu ficava em casa entoando hinos da minha igreja. Confesso que, por várias vezes, eu ouvia músicas do mundo escondido de minha mãe. Baixava músicas no meu celular, colocava fones de ouvido e me controlava para não cantarolar e dançar.

Dança? Só se fosse na igreja! Músicas profanas nem pensar.

Eu participava do grupo de dança da igreja e era maravilhoso! Era o momento em que eu podia me soltar e louvar ao Senhor com a expressão do meu corpo. Eu me sentia muito bem quando dançava, e, por isso, empenhava-me com todo afinco nos ensaios. Isso fazia de mim a melhor dançarina do grupo, o que fez com que eu ganhasse destaque e fosse promovida a instrutora de dança do grupo de jovens com idade entre 13 e 17 anos.

Eu já estava com 25 anos e NUNCA havia namorado. Parece brincadeira de mal gosto, mas não é. Eu sequer havia beijado algum rapaz...

Isto porque, como eu disse, minha mãe era linha dura. Não permitia que namorássemos se não fosse para casar. Ela não entendia o fato de que, primeiro as pessoas se conhecem, depois namoram e depois - bem depois - se der certo, se casam! Para ela, as coisas deveriam ser à moda antiga para ter respeitabilidade: o rapaz se interessava pela moça e conversava com ela sobre a possibilidade de namorarem; daí, se ele fosse bem-intencionado, procuraria a família da moça para pedi-la em namoro (o que já era uma preparação para o casamento).

E foi assim que se procedeu com minha irmã mais nova, Sara. Aos 21 anos ela arrumou um namorado membro da igreja e, com seis meses de namoro se casou com ele. Hoje eles têm uma filhinha de 2 anos e estão grávidos de um menino. Ambos seguem o rito "família evangélica", o que enche minha mãe de orgulho.

Quanto a mim, como não arrumei ninguém, acabai sendo alvo do fanático discurso da minha mãe. "Homem do mundo não presta", "Você precisa arrumar um rapaz cristão", "Quando acontecer, seja uma boa esposa, como sua irmã", "Cuidado para não ficar velha", "Não jogue sua vida fora como eu fiz", "Veja o que seu pai fez comigo", "Ah, aquele demônio do seu pai ainda vai acertar as contas com Deus"... Essas e outras frases faziam parte do dia-a-dia de minha mãe. Como vivíamos apenas nós duas, já que meu pai nos abandonou quando éramos crianças e minha irmã estava casada, minha visão de mundo foi tornando-se limitada; minha vida restringia-se a: família (minha mãe), igreja e trabalho.

Eu trabalhava em uma das indústrias de gênero alimentício da minha cidade e, com meu salário, ajudava minha mãe a pagar as contas da casa.

Minha recatada vida de garota evangélica mudou drasticamente quando conheci o Pastor Isaque. Lembro-me, como se fosse ontem, do dia em que o conheci: eu estava ensaiando meu grupo de adolescentes, quando a porta se abriu e, adentraram ao recinto o Pastor Washington (titular da congregação) e um rapaz mais jovem que o acompanhava. Ambos estavam de terno e, cada um portava uma bíblia nas mãos.

15 Contos Eróticos / Segredos de Eros (Vol. 1 - Série Fifteen) - COMPLETOOù les histoires vivent. Découvrez maintenant