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Olho para o céu parcialmente nublado e começo a caminhar mais depressa, os meus passos se tornando o dobro de vezes mais rápido. Observo as pequenas lojas enquanto caminho pela as ruas frias de Bristol, meu sweater branco e grande cobre o meu corpo de maneira a me deixar quente. Observo pelo o canto dos olhos as pessoas começarem a andarem bem mais rápido conforme alguns pingos de chuva começam a molhar suas cabeças, assim eu avisto a pequena cafeteria que leva o nome de Picadilly. 

Começo a andar mais rápido e assim que chego perto das portas empurro uma delas com firmeza, as minhas palmas da mão se pressionaram contra o vidro deixando a marca e eu rio envergonhada, assim que entro na cafeteria sinto o ar quente bater com força contra as minhas bochechas rosadas e me arrepio. Sigo até a minha mesa de costume e me sente no estofado vermelho, deixo a minha bolsa ao meu lado e puxo as mangas do meu sweater brincando com os pequenos furinhos brancos, quase invisíveis. 

"Olá Sophie! Vai querer o de sempre?" Stan diz assim que me vê e eu apenas assinto. 

"Sim, mas pode me trazer um brownie também?" pergunto ainda encarando as mangas do meu sweater e ele suspira.

"Claro, só um instante" ele se afasta de mim e eu respiro, abro a minha bolsa e retiro o meu pequeno caderno de capa marrom com alguns desenhos na frente, até possui algumas frases. Abro em uma página limpa e pego em um caneta; eu uso esse caderno para algumas anotações, desabafo todos os meus sentimentos aqui, esse pequeno caderno pode ser considerado um diário, todos os meus pensamentos são depositados nessas linhas. 

Deslizo a caneta sobre a linha e as palavras começam a se formar, respiro fundo enquanto escrevo, fecho um poucos os olhos e me deixo apenas flutuar, escrevo as palavras que estão martelando em minha mente, escrevo tudo o que sinto, deixo os meus pensamentos se libertarem sobre essa folha e de certa forma eu me sinto melhor, me sinto mais leve, como se eu estivesse contando todos esses segredos para uma pessoa, quando na verdade é somente uma folha. 

"Aqui Soph" Stan deixa o meu café em cima da mesa junto com o pequeno brownie, sorrio para o garoto de cabelos escuros e ele se afasta de mim. Rodo as minhas mãos em volta da xícara de café e levo até perto do meu nariz sentindo o cheiro de café forte, volto a deixá-lo em cima da mesa de madeira e olho para fora. A chuva caí livremente, ela faz com que as pequenas florzinhas dancem e isso me faz sorri, sorrio vendo as plantas se balançarem, sorrio ao ver algumas pessoas tentando correr da chuva. Sorrio ao ver o quão bonito és tudo isso. 

Deixo a minha mão esquerda em volta da xícara de café e com a direita eu volto a escrever no meu pequeno caderno. Fato. Realmente sou viciada em escrita, cafés e sweaters. 

Seguro os meus dois vícios na mão e suspiro. Na vida há tantas coisas para se viciar. A drogas, bebidas, relações, sexo, adrenalina, livros, morte, todos temos vício em alguma coisa, seja em objetos, em sentimentos ou vício em alguém, mas todos somos dependentes de alguma coisa, não há quem fala que nunca foi viciado em livros, ou o cheiro deles, não há uma pessoa que nunca tenha se apaixonado e feito o seu grande amor o seu vício. De alguma forma ao longo das nossas vidas iremos se viciar em alguma coisa, seja um vício bom, ou um vício ruim, mas apenas seremos viciados. 

Levo o café até a minha boca e sugo o líquido, ele queima um pouco a minha boca e desce lentamente pela a minha garganta deixando o meu corpo quente e elétrico. Aprecio o gosto forte do café, saboreio cada gota que teima em queimar a minha garganta e então volto a deixar a xícara em cima da mesa. 

A pior coisa que eu sinto quando acordo é aquela dor insuportável, na qual se chama culpa. Eu acordo e durmo com a culpa todos os dias, mesmo que eu não seja culpada eu convivo com isso e fico me aniquilando aos poucos, é terrível a sensação, na verdade é devastadora, não sei bem porque sentir isso, acho que é só algo para nos destruir de forma lenta e dolorosa.

cigarette smokeWhere stories live. Discover now