07

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Fecho meus olhos na vasta tentativa de dormir, viro-me de um lado para o outro na cama. Encaro o relógio digital na estante ao lado de minha cama e suspiro. Quatro horas da manhã e eu estou acordada, sendo aterrorizada pelo o meu passado, sendo consumida por culpa. Sento-me na cama e puxo as cobertas, se parece incrivelmente mais frio do que o normal, e eu me sinto mais sozinha do que o costume, com uma grande dor no peito e um buraco de saudades. 

Mais uma vez a casa se parece vazia e eu estou sozinha, mais uma vez eu estou no canto chorando e me sentindo sozinha, mais uma vez eu estou com dificuldades para respirar, isso é tão sufocante, eu estou com tanta dor nesse momento, tudo aqui está ecoando, eu estou gritando e ninguém está me ouvindo, estou em profunda solidão, posso ouvir ecoar pela as paredes, parece que esse barulho está me rasgando, me quebrando, eu estou com tanto medo, eu não tenho ninguém, eu estou sozinha. 

Antigamente eu nunca me sentia assim, eu tinha Souxie ao meu lado, ela estava comigo no meio da noite, estava comigo nos momentos difíceis, ela sempre me tirava o medo e a solidão, ela sempre me ouvia no meio dessa confusão, mas ela não está mais aqui comigo, ela não está mais por aqui, porque isso, tudo isso, é culpa minha. 

Fecho os olhos quando centena de flashbacks aparecem em minha mente, tapo meus ouvidos e deixo que as lágrimas rolem por minhas bochechas, vejo o farol do carro, ele sendo arremessado e capotado, ouço o barulho da explosão, vejo o fogo, o incêndio. Vejo tudo tão claramente vivo em minha mente, que quase posso me sufocar com a fumaça. Começo a tossir desesperadamente e jogo meu corpo novamente na cama me deitando, começo a chorar e levo meu pulso com a pulseira de âncora até perto do meu rosto, e choro de saudades de minha irmã. 

Deixo um soluço baixa sair dos meus lábios assim que ouço a porta do meu quarto se abrir, sinto meu coração se acelerar e vejo Anne, ela tem seu pijama comprido no corpo e os cabelos presos de um modo bagunçado, sua expressão é de cansaço e ela parece preocupada. Por um momento quase pude imaginar Souxie, em vez de Anne.

"Outro pesadelo?" ela pergunta e eu assinto sentando-me novamente na cama e limpando minhas lágrimas. "Soph, já passou, não precisa mais ter medo" ela se aproxima da minha casa e roda seus pequenos braços em volta dos meus ombros e me puxa para um grande e confortável abraço. 

"Eu sinto muitas saudades, aquele dia foi um erro, é culpa minha" eu volto a soluçar e ela apenas peça que eu me acalme. 

"Não há como mudar o passado, e mesmo se tivesse, muita coisa no futuro mudaria e vejamos bem, estamos agora todos bem" ela afaga meus cabelos e eu nego.

"Não! Não está tudo bem, nossos pais se separaram, nossa mãe me odeia, você quase não brinca mais comigo,eu me sinto sozinha e perdida, e tudo isso por causa de uma festa. Não estamos bem, isso não se parece um final feliz" eu murmuro com raiva e desgosto. 

"Talvez ainda não seja o final, ou talvez o final feliz seja isso: seguir em frente" ouço sua voz se tornar embargada e eu me afasto lentamente dela, como uma simples garota com pouco idade na adolescência possa ter tamanha sabedoria?. 

"Eu conheci um garoto" eu admito e ela parece se animar, ele sorri enquanto limpa as minhas bochechas. 

"Conte-me" ela pede e eu suspiro.

"Ele faz tudo parecer mais fácil, mais simples, como se realmente eu estivesse bem, ele faz com que me sinto feliz, e faz-me acreditar que talvez não seja o fim para mim" coloco a mão em meu coração e ela sorri.

"Qual o seu nome?" ela pergunta acariciando a minha bochecha.

"Niall, ele é irlandês, e seu pai é dono de um grande restaurante lindo, ele deu-me aquela rosa essa tarde" eu apontei para o vaso ao lado da minha cama. 

cigarette smokeWhere stories live. Discover now