Sexta-feira Negra

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A neve voava do pára-brisa enquanto eu dirigia pelas movimentadas ruas de Toronto. O trânsito estava mais pesado do que eu esperava que fosse estar tão tarde assim em uma sexta-feira, aparentemente poucos canadenses estavam interessados em ir para as liquidações pós-Ação de Graças ao sul da fronteira.

"Vamos dividir um táxi para casa, Meredith," uma mulher na rua disse para a amiga. Os ônibus não são seguros, ela pensou. As duas mulheres empacotadas de roupa de frio esperavam na esquina, paradas no mesmo semáforo que me rendia. Os únicos pedestres na noite fria, as suas palavras se misturavam com o baixo zumbido do tráfego.

"Essa idéia soa bem," disse Meredith, seus olhos vagando pelo meu carro. Pena que ele não está indo para o meu caminho. "Veja aquele ali."

Ambas se moveram em direção ao meio-fio para que pudessem me espiar pelo pára-brisa. Virei o rosto em direção ao canto oposto, torcendo para a luz mudar. Preso na linha de carros esperando, eu não podia escapar de seus olhares.

Olhe para esse perfil, Meredith pensou, desejando que ela pudesse tocar meu rosto. Outros dedos tinham traçado minhas feições, e meu rosto queimou pela memória.

"Não se mova," Bella sussurrou, o calmo ritmo de seu pulso acompanhando suas palavras.

A outra mulher no meio fio falou, interrompendo a perigosa memória. "Ele é um pouco jovem, mas é gato demais." Isso era um presente que todos nós podíamos usar. Sua mente simplista mudou de direção. "Poxa, eu ainda preciso encontrar presentes para os outros diretores, Janna, Barb, Sherry e Camille."

No inicio, Meredith não deu importância para o comentário. Vire para este caminho, tigre, deixe-me ver esses olhos. "Nós poderíamos ir para Buffalo e então para o shopping - eles podem ter alguma coisa," ela disse assim que o sinal finalmente mudou. "Se pudéssemos encontrar alguém... Quero dizer algo tão bacana assim aqui nesta cidade." Ela se inclinou para olhar a placa temporária do meu carro.Americano, é claro, ela pensou melancolicamente.

Eu desisti e olhei para as mulheres enquanto me afastava, e foi recompensado com seus suspiros.

Tão triste, uma pensou.

Esses olhos tão escuros, solidão pura, a outra acrescentou.

Pena? Essas mulheres olharam uma vez para mim e sentiram pena? Elas não tinham idéia... elas eram crianças que pensavam que os ursos no zoológico eram fofinhos, sem saber que animais ferozes podiam perseguir, desmembrar e consumir uma pessoa em questão de minutos. Duraria apenas segundos para eu me desfazer dessas mulheres, menos ainda do que o tempo que o semáforo tinha me proporcionado.

Minha constante lembrança interrompeu. "Você sempre fica mais irritadiço quando seus olhos estão escuros," Bella disse indiferente.

Assim que estacionei, percebi que minha aparência deve ter escurecido ainda mais. As mulheres não sentiram medo, tinha apenas visto a perda que sofri. Eu estava desaparecendo pedaço por pedaço. Sem Bella eu não era nada e, aparentemente, agora eu aparentava isso.

Ela discutiu, é claro. "Eu mencionei que você estava muito bonito," ela disse, seguindo de um sonolento "Tão lindo."

Balancei a cabeça, negando seu pedido enquanto eu saia do carro. Respirei fundo, experimentando o ar frio da noite, e então pulei para o topo do prédio mais próximo. Cruzando os telhados para o norte, tentei inutilmente enterrar minha dor, afugentá-la, deixando apenas a fúria e a determinação para trás. Eu precisava do meu monstro, precisava do ódio se eu fosse encarar e matar Victoria. E essa noite, eu tive a melhor chance de fazer exatamente isso.

O Lado Sombrio da LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora