Capítulo 5 (Luan)

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  Havia conseguido marcar com Lorena, para que no dia seguinte nos encontrássemos em um pesque-pague, ali em São Paulo mesmo. sabia que o incidente do dia anterior a havia magoado e eu queria concertar isso. Havia me oferecido para busca-la, mas ela disse para não me preocupar, que ela mesma viria. Disse para ela o local e combinamos de nos encontrar depois do horário de almoço.
Cheguei lá por volta de uma da tarde e fiquei em um quiosque esperando por Lorena. Meia hora depois, vi um carro preto chegar pela entrada para automóveis e parar no estacionamento, acho que sorri quando a vi descer do carro:
-Espero não ter demorado -Ela disse sorrindo, enquanto vinha em minha direção
-De maneira alguma, chegou na hora certa
-Bem, espero estar vestida corretamente para a ocasião, nunca na vida sai para pescar -Ela dizia apontando para sua roupa. Ela usava jeans -Que por sinal marcava muito bem suas curvas-, uma camiseta azul claro e sapatilhas pretas. Seus longos cabelos loiros estavam presos em um rabo e alguns fios tentavam escapar com a ajuda do vento.
-Acho que pode ficar tranquila quanto a isso -Disse depois do que pareceu uma eternidade
-E então, quando vamos começar a pescar?
-Daqui a pouco, não quer sentar e tomar algo primeiro?
-Claro -Ela se sentou na cadeira a minha frente
-Garçom? -Chamei
-Sim?
-Pode trazer dois tererés pra gente?
-Aguardem só um minuto
-Tereré? -Lorena me olhou confusa
-Uma bebida lá da minha terra, é tipo Chimarrão, só que no lugar da água quente, colocamos água gelada. Vai por mim, você vai gostar
-Se você está dizendo -Ela riu e eu encarei a mesa um pouco desconcertado, tendo noção do quanto ela era linda.
-Obrigado por ter vindo, pensei que tivesse ficado chateada comigo
-Por que eu ficaria?
-Há, você sabe, ontem, acho que não lhe dei a atenção que merecia
-Não seja bobo Luan, todas aquelas pessoas eram fãs ou te admiravam muito, isso é normal
-Não pensei que fosse acontecer, me desculpe -A olhei sério
-Não tem porque se desculpar, eu entendo perfeitamente o que aconteceu -Ela fez uma pausa, me olhando curiosa- É sempre assim?
-Nem sempre, depende do lugar que eu estou, mas sabe, eu adoro, sempre foi tudo o que eu quis, pessoas que me conhecessem por onde eu passasse
-Bem, você conseguiu kkk Espero um dia conseguir também
-Não tenho dúvidas de que vai -A observei
-Não vou dizer que é fácil, mas também não vou desistir. Eu sempre estou fazendo cursos de teatro, me especializando cada vez mais, para que um dia, se Deus permitir, eu ser chamada para uma produção de sucesso, uma novela, um filme... não sei, o que vier está bom
-É só continuar acreditando que você vai conseguir, Lorena -Mantemos nossos olhares, até que o garçom chegou com as bebidas. Deixou as duas cuias sobre a mesa e saiu- Quer fazer as honras? -Indiquei para que Lorena começasse primeiro. Ainda um pouco relutante ela pegou a cuia e olhou para mim
-Não vai me acompanhar?
-Ainda não, quero ver sua reação quando provar essa maravilha pela primeira vez -Ela sorriu e aproximou a bombinha da boca- Só não mexa na bombinha, ela pode entupir -Ela assentiu com a cabeça e deu um gole. Pelo seus olhos, vi que ela havia gostado
-Uau, isso é muito bom!
-Eu sei que é -Ri, pegando a outra cuia que estava sobre a mesa e começando a beber também
-Deveria ter me apresentado a isso no instante em que nos conhecemos -Lorena comentou animada
-Lamento por isso, foi um erro da minha parte -Ainda ríamos, quando parei a olhando- Lá no show, quando você esbarrou comigo, você realmente nunca havia ouvido falar de mim? -Ela colocou a cuia sobre a mesa com muita cautela, enquanto parecia buscar pelas palavras certas. Alguns segundos depois, ela me olhou nos olhos
-Não Luan, me desculpe -Ela pareceu ficar um pouco sem graça em relação a isso- Como te disse, eu morava em Madri com minha família e cheguei no Brasil a pouco tempo, ainda não consegui me atualizar direito
-Então como você foi parar lá naquela noite? -Ela deu de ombros
-Minha amiga, a Manuela, ela queria me mostrar a cidade e me animar um pouco também
-Havia acontecido alguma coisa?
-Sim, eu havia acabado de romper com meu namorado
-Aquele troglodita do show?
-Ele mesmo -Lorena me deu um sorriso fraco
-Me desculpe falar assim, mas ele estava sendo um ogro com você
-Ian sempre foi assim, explosivo, ele queria que eu voltasse para ele
-Por que vocês terminaram? Eu sei que não é da minha conta, mas...
-Não vejo problema algum em perguntar -Ela se ajeitou na cadeira para continuar- Ele já havia me traído outras duas vezes e a terceira eu não consegui perdoar, sabia que não precisava passar por isso. Além disso, nosso relacionamento estava desgastado, eu não queria ver, mas agora vejo que tudo o que vivemos, foi mais "carne" do que sentimento, você entende?
-Entendo
-Mas e você, Luan? Sei que está solteiro, você mesmo me disse, mas nunca teve um namoro sério?
-Tive dois na adolescência e um outro a um ano atrás
-Qual era o nome dela?
-Jade
-E por que terminaram?
-Na época foi porque eu não queria que a imprensa ficasse tão em cima de nós dois e dai pedi um tempo, mas hoje sei que terminamos porque eu não estava pronto para o que ela queria
-E o que ela queria Luan?
-Sabe o que eu quero agora? Pescar! -Mudei rápido de assunto, me levantando da mesa- Vamos?
-Só se for agora! -Lorena se levantou me acompanhando
-Só vou pegar as traia ali no meu carro e a gente pode ir -Lorena estava ao meu lado quando abri o porta malas e tirei lá de dentro: Duas varas, uma cesta, uma caixinha de anzóis e linha. Caminhamos lado a lado até a beira do rio e depois nos sentamos em um banco que havia ali:
-Está e a sua -Entreguei uma das varas para Lorena
-Há, eu nunca pesquei na vida, mas não deveria ter uma minhoca, ou sei lá, alguma coisa no meu anzol?
-Pode escolher sua isca -Sorri abrindo a cesta para que ela visse o que havia lá dentro
-Goiaba e salsicha? -Questionou
-Hunrum, as melhores iscas que existem e sabe por que? Porque se você não pegar nenhum peixe, você pode come-las -Ela riu e pegou um pedaço de salsicha, o espetando no anzol.

-O que devo fazer agora?-Jogue o anzol na água o mais longe que conseguir com a ajuda da vara-Assim? -Lorena se levantou, tentando fazer o que eu havia lhe dito-Quase, você tem que dar um impulso para trás e arremessar, vou te ensinar -Me levantei, me posicionando atrás dela. Coloquei minhas mãos por baixo dos seus braços a ajudando nos movimentos- Agora você joga a vara um pouquinho para trás e depois para frente, assim -A linha foi lançada para bem longe e o anzol caiu na água- Agora você só tem que manter a vara não muito baixa, nem muito alta, apenas no meio -A ajudei a deixar seus braços na altura certa-Obrigada -Ela virou seu rosto para poder me olhar-De nada, agora deixa eu colocar isca no meu anzol para me juntar a você -Depois de arrumar minha vara, arremessei meu anzol na água e nos sentamos no banco para esperar algum peixe fisgar nossa isca e conversar:-Aquele dia, no camarim, você disse que começou a fazer teatro por causa da sua avó -Puxei assunto-Foi, minha avó era incrível em cima de um palco, você tinha que ver, ela dançava e interpretava como ninguém. Quando já era maiorzinha, ela me levava com ela para os ensaios, escondida dos meus pais e eu lembro de ficar fascinada com tudo que eu a via fazer. Sabia que seguiria o mesmo caminho.-Você fala como se seus pais não gostassem muito do que você faz-E não gostam. Meu pai é médico e minha mãe é advogada, tenho certeza de que a última coisa que queriam, era que uma das filhas se tornasse atriz. Meu pai sempre achou que minha escolha errada, ele diz que eu deveria ter escolhido uma profissão de valor. Quando terminei os estudos, ainda fiz a faculdade de direito por um ano, mas me dei conta de que estava fazendo aquilo só para agradá-lo e comecei a fazer teatro, escondido dele, com a ajuda da minha avó. -Ela olhava para longe enquanto falava, como se tentasse se recordar de cada momento-Imagino que ele ficou uma fera quando descobriu -Disse tirando o anzol da água e o arremessando para mais longe com a ajuda da carretilha-E ficou, mas minha avó sabia como convencê-lo. Quando ela morreu, ficou tudo mais difícil, ela era meu ponto de apoio. -Minha família sempre me apoiou na minha decisão, passamos por todos os obstáculos juntos e se estou aqui hoje, é por causa deles -Comigo não foi assim, mas graças a Deus, depois que minha irmã terminou a faculdade de direito, ela começou a fazer administração e hoje ela é minha empresária e acessora-É sempre bom ter alguém por nós, não é? -Lancei um sorriso para ela-E como -Ela respondeu, ficando séria logo em seguida- Luan, acho que peguei um -Ela se levantou-Você tem que puxá-lo Lorena, ponha força para o tirar da água -Ela fez como mandei e puxou a vara para trás, junto com ela veio um dourado de umas 900 gramas-Aaaaa eu consegui! Eu consegui Luan! -Ela saltava animada-É, nada mal pra uma iniciante -Deixamos as varas ali e levamos o peixe para a cozinha, eles preparavam os peixes que os visitantes pescavam. Depois de pronto, Lorena e eu retornamos para a beira do rio, onde nos sentamos no banco para saborear aquela delícia:-Melhor peixe frito que já comi -Comentei-Estaria mentindo se dissesse o contrário, está uma delícia mesmo -Ela disse, enquanto saboreava um pedaço, tomando cuidado com os pequenos ossos que os peixes tem- Já está tarde... -Ela disse olhando para o horizonte. O sol acabava de se colocar, já estava escuro e agora apenas a luz de dois postes nos iluminava- Minha família deve estar preocupada comigo -Ela lentamente tocou minha mão- Obrigada pelo dia maravilhoso Luan, eu me diverti muito.-Podemos fazer isso mais vezes, se você quiser-Eu iria adorar-Sabe, acho que você é a garota mais interessante que já conheci.-Diz isso para todas? -Nos olhamos rindo e segundos depois, eu me vi completamente perdido nos seus lindos olhos azuis. Eu sabia o que queria e por via de dúvidas, resolvi arriscar. Inclinei minha cabeça um pouco mais para perto dela, esperando qualquer reação e quando ela segurou meu rosto em suas mãos e se inclinou para me beijar, senti meu coração bater mais rápido. Quando nossas línguas se tocaram, foi mágico. Aquilo não foi longo, nem quente, mas quando abri meus olhos e eles se encontraram novamente com os dela, tive a certeza de que havia feito a coisa certa e que nada pareceu tão fácil quanto aquilo. Um final perfeito, para uma tarde perfeita.


Chuvas de ArrozWhere stories live. Discover now