Capítulo 50 (Luan)

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  Lorena passou os três dias seguintes internada em coma induzido na UTI. Henrique, juntamente com outros médicos, decidiram que isso seria o melhor a fazer, já que ultimamente ela sentia muitas dores por todo o corpo, além de as piores serem na cabeça. Ela ficou sob o efeito de alguns medicamentos, claro, medicamentos que não prejudicaram o bebê que ela estava esperando. Nosso filho.
Depois disso, ela foi levada para um quarto. Lorena ainda dormia, enquanto eu a observava sentado em uma cadeira ao lado do seu leito. Mais uma vez eu havia cancelado minha agenda de shows, sem data para retornar e meus fãs entenderam perfeitamente meus motivos. Susi vinha ao hospital regularmente, saber sobre a filha, mas assim que passava alguns minutos ao seu lado, retornava para casa, deixando bem claro o quanto minha presença a incomodava. Ian também não havia voltado a aparecer, e eu agradeci por aquilo. Não sei como reagiria se o visse novamente na minha frente.
Meus pensamentos ainda estavam longe, quando percebi Lorena se mexer na cama. Ela abriu os olhos lentamente, tentando se acostumar com a claridade do quarto. Pareceu levar um minuto, até que ela percebeu aonde estava:
-Lu? -Ela me encarou confusa
-Oie amor -Sorri, beijando sua testa
-O que aconteceu?
-Você se sentiu mal e te trouxeram aqui para o hospital
-A quantos dias eu estou aqui? Eu não me lembro de nada
-Você passou três dias na UTI, em coma induzido, sob o efeito de alguns medicamentos
-Meu Deus! -Ela pareceu apavorada- E você está aqui esse tempo todo?
-Por que não estaria? Você é minha esposa Lorena
-Mas esses medicamentos eram fortes? Luan, eles podem ter feito mal ao...
-Calma Lo -Segurei sua mão- Nosso filho esta bem, ele está bem -Parecendo mais aliviada, ela sorriu descontraída- É tão bom te ver sorrir assim -Sussurrei- O que provocou isso? -Perguntei curioso
-Nada, eu só achei fofo da sua parte dizer NOSSO filho
-Mas é isso que ele é Lorena, nosso -Acariciei sua barriga, que ainda bem pequena- Como se sente?
-Um pouco tonta, mas a dor passou
-Isso é ótimo
-Quando vou poder ir para casa? -Ela perguntou tristonha- Eu odeio isso, de ter que estar no hospital toda hora! -Seus olhos começaram a marejar
-Em breve, talvez amanhã mesmo o Henrique te de alta.
-Lu, me promete que quando eu voltar para casa, você vai voltar a fazer seus shows? Eu sei que você ama o que faz, e não quero te prender a mim, eu estou bem aqui, seus pais, meus avós, Bruna... todos me ajudam muito! Não tem que vir correndo sempre que eu sentir uma tontura, enjoo ou algo assim -Respirei fundo, pensando no que queria dizer a ela
-Em relação a isso, eu queria te contar uma coisa
-O quê?
-De qualquer forma, você ficaria sabendo e, você sabe que as pessoas conseguem fazer com que os outros vejam coisas que na realidade não existem, por isso, acho melhor eu mesmo te contar -Fiz uma pausa, avaliando sua expressão, e vi que ela me olhava com atenção- Talvez você fique com raiva de mim, talvez até me odeie por isso, mas eu te juro, eu não fiz nada...
-O que aconteceu Luan?
-Ontem, depois do show que eu fiz em Goiânia -Balancei a cabeça, relembrando os fatos- O Lucas estava lá e ele me convidou para beber, fomos para o meio da galera e quando ele saiu de perto de mim, uma mulher me arrastou pelo braço, a princípio, eu não vi quem era, depois ela me beijou e... -Observei Lorena mais uma vez, temendo o que ela estivesse pensando, mas percebi que ela não esboçava nem uma reação, nem raiva, nem nada, ela apenas me ouvia- Era a Jade e, eu fiquei apavorado com o que aconteceu, eu sai de lá o mais rápido que pude e quando cheguei ao camarim, a Manu me ligou dizendo o que havia acontecido e eu vim direto pra cá... -Enquanto eu relatava a ela o que havia acontecido, ela se esforçou para apertar minha mão levemente, me fazendo parar
-Tudo bem, eu acredito em você -Ela disse
-O quê? Eu pensei que você fosse...
-Ficar brava? Luan, esse é o preço mínimo que uma mulher como eu paga por ter um marido tão lindo -Ela sorriu mais uma vez. E eu senti meu coração apertar
-Eu só quero que você saiba, que eu nunca, em hipótese alguma faria nada parecido, eu te amo, amo o que nós temos um pelo o outro, eu te juro, eu nunca faria nada pra estragar isso
-Eu sei, eu te amo também Luan e sei que você também está preocupado com o que a mídia também anda dizendo, não está?
-Como você sabe?
-Eu apenas sei. As pessoas são maldosas.
-Mesmo assim, me senti mal com o que aconteceu, se eu não tivesse bebido tanto, se não tivesse baixado a guarda, a Jade não teria -Balancei a cabeça, odiando ter que dizer aquilo a ela- Eu peço que me perdoe, prometo não falhar mais com você
-Não seja tolo Luan! Você nunca falhou comigo, eu sei o homem que você é, e sei o caráter que você tem, eu sei que você nunca faria nada pra me magoar, eu te amo, e amo o fato de você ser o marido mais perfeito desse mundo -Me aproximei lentamente e a interrompi, beijando seus lábios ternamente. Seus lábios estavam secos e tinham gosto de remédio, mas ainda era o beijo doce e inconfundível de Lorena
-Eu fiquei tão preocupado com você -Sussurrei, sentindo as lágrimas chegarem. Me encostei com cuidado em seu peito, deixando que algumas lágrimas caíssem, enquanto, com muito esforço, ela deslizava uma de suas mãos por meus cabelos
-Eu estou bem Luan -Ela sussurrou e eu me lembrei da conversa que havia tido a alguns dias antes com Henrique. Ela não aguentaria muito mais tempo. Ele havia lhe dito. E pensar no fato de que estava perto de perdê-la, fazia com que sua cabeça latejasse. Ele não queria perdê-la nunca, não conseguia imaginar um mundo sem ela:
-Calma Lu, não chora assim, eu estou bem, estou aqui com você, não esta vendo? -Ela disse, tentando me acalmar
-Me desculpe -Me recompus, me sentando na cadeira novamente, tentando secar minhas lágrimas
-Por que você ficou assim? -Ele perguntou- Eu estou muito mal?
-Eles vão parar com a quimio, Lo. Já não estava mais fazendo efeito. -Ela ficou um minuto em silêncio, compreendendo o que aquilo significava
-Eu já sabia que isso iria acontecer, eu senti as mudanças -Ela sussurrou
-Eles disseram que nem uma operação de emergência funcionária agora, seu tumor já se espalhou e... -Senti meus olhos marejarem novamente, e vi uma lágrima fujona cair no jeans da minha calça
-Isso significa que eu não tenho muito tempo, não é mesmo? -Balancei a cabeça afirmativamente, voltando a chorar- Tudo bem Luan -Ela tocou meu rosto- Ter conhecido você, valeu pela minha inteira
-Não quero perdê-la -Indaguei, sentindo minha garganta seca
-Não vai, vou estar pra sempre com você, sempre -A abracei novamente, me permitindo chorar, enquanto ela me acalmava, me mantendo bem próximo, como se já soubesse que tudo aquilo fosse acontecer.

Como havia imaginado, no dia seguinte, Henrique deu alta a Lorena, depois de explicar a ela seu quadro. Ela parecia conformada, parecia ter começado a aceitar tudo o que lhe estava acontecendo. Enquanto eu estava em estado de negação. Eu não conseguia acreditar em como uma pessoa tão boa como ela, poderia estar passando por tudo aquilo.
Depois de arrumar as poucas coisas dela que estavam no hospital, uma enfermeira me ajudou a levá-la até o carro em uma cadeira de rodas. Ela permaneceu calada durante todo o caminho e, em alguns minutos, eu já estava estacionando o carro na nossa garagem. Desci do carro e caminhei até o lado do passageiro, abri a porta e a olhei:
-Pronta? -Ela afirmou com a cabeça e depois de colocar seus braços envolta do meu pescoço, a peguei no colo, a levando para dentro. Sua cabeça estava encostada em meu ombro e eu juro por Deus que ela pesava menos do que o violão que eu usava nos shows.
Assim que abri a porta, vi que meus pais, Bruna, os avós de Lorena, Manuela, até mesmo Susi estavam ali, esperando para ver a Lorena:
-Surpresa! -Gritaram todos juntos. Lorena sorriu, feliz por ver que todos estavam ali. A coloquei no sofá, enquanto ela recebia beijos e abraços de todos. Pelo canto do olho, via que Susi me encarava, mas nem me preocupei com ela, me contentava em ver que Lorena estava bem novamente e em casa, do jeitinho que ela queria.
Eles não demoraram muito ali, sabiam que Lorena precisava descansar. Ela disse que queria tomar um banho e eu me ofereci para ajudá-la, mas ela disse que preferia que Manuela a ajudasse com isso. Não questionei, apesar de não me dizer, sabia que Lorena se sentia mal por mostrar tanta fragilidade para mim.
Fiquei sentado na sala, até que ela já tivesse terminado de se arrumar. Queria que ela se sentisse mais a vontade:
-Pode subir se quiser -Manuela disse descendo as escadas- Ela já está na cama
-Obrigado Manu, por tudo que você está fazendo -Disse a encarando
-A Lorena é minha melhor amiga, é como uma irmã pra mim, queria ajudar de alguma forma -Ela se manteve em silêncio por alguns instantes- No dia em que conversamos pelo celular, me desculpe, não deveria ter falado com você daquela maneira
-Tudo bem, eu entendo
-A Lo me disse que você contou a ela o que, bem, você sabe, sobre o que a mídia anda dizendo, foi muito bacana da sua parte e, queria que soubesse que também acredito em você. Você é um bom homem Luan e eu sei que o que sente pela Lorena é puro e verdadeiro.
-Obrigado, eu vou subir para vê-la -Olhei uma última vez para Manuela e subi as escadas, até nosso quarto. Ela estava deitada na cama, de lado, coberta, com uma blusa de manga comprida e uma calça de moleton:
-Oie -Disse entrando no quarto e fechando a porta
-Oi -Ela disse, enquanto eu me aproximava dela
-Está com frio? -Murmurei, me ajoelhando ao lado dela
-Um pouco -Ela disse, se abraçando mais a coberta- Por que não se deita um pouco comigo?
-Não acha que é melhor eu tomar uma banho antes?
-Tudo bem Lu, eu não me importo -Pensei no que ela havia dito e me levantei do chão, tirando meus tênis e logo depois minha camiseta, me deitando ao lado dela apenas de jeans. Ela se virou para mim, me olhando e logo depois tocando a tatuagem que eu tinha no ombro:
-Sempre amei essa tatuagem -Ela disse baixo, quase em um sussurro- Me faz pensar em Deus e em coisas boas
-Eu também penso nisso quando olho pra ela -Disse
-Lu, você tem certeza que é isso que você quer?
-Como assim?
-Estar comigo agora e amanhã, não estar mais?
-Mesmo que eu quisesse sair correndo e te deixar para trás, eu não conseguiria, eu já estou envolvido demais -Sorri para ela
-E não se esqueça que eu estou grávida, você agora está definitivamente preso a mim -Ela brincou e sem conseguir me segurar ao ver seu belo sorriso, eu a beijei, lentamente e com muito cuidado, ela retribuiu, me beijando ternamente, parando momentos depois:
-Eu odeio estar doente e ter que me contentar apenas com seus beijos -Ela disse, e eu percebi um ar de diversão em sua voz
-Está bom para mim, seus beijos já são o suficiente para mim -Disse
-Quer dizer então que o Sr. está pensando em se tornar um puritano? -Ela riu travessa
-Por você eu viro tudo! -Beijei sua testa- Só me faz um favor? -Pedi
-O que você quiser...
-Não me force mais a sair de casa para trabalhar ou fazer meus shows, pensando que isso é o melhor para mim, porque não é Lorena, eu quero ficar aqui, com você
-Mas Luan...
-Sem mas Lorena, por favor, eu quero ficar em casa, com você, do que adianta eu viajar, se é quando estou fazendo isso que eu fico mais preocupado, pensando no que está acontecendo a você? Eu quero poder cuidar de você, quero poder estar presente
-Tem certeza que você quer isso? -Ela me olhou atenciosa
-Toda a certeza do mundo -Calmamente ela deslizou para meu peito e eu a abracei com força contra mim
-Já vou avisando que eu dou mais trabalho do que uma bebê -Ela murmurou- Se por acaso você está pensando que é fácil
-Não estou, mas eu estou disposto a passar por tudo isso com você -Disse e mais uma vez ela deslizou sua mão por minha tatuagem
-Quando penso em coisas boas, sabe o que logo me vem a mente?
-O quê?
-Você Luan. Você é a melhor coisa que já conheci.  

Chuvas de ArrozWhere stories live. Discover now