Capítulo 17 (Luan)

415 31 2
                                    

  Lorena me olhava com atenção, pronta para me ouvir. Respirei fundo e decidi começar:

-Eu conheci a Jade quando ainda erámos apenas dois adolescentes, em um show. Trocamos telefones, mas não aconteceu nada de sério entre nós dois -Baixei a cabeça, reunindo forças para continuar, depois, voltei a olha-la- Naquela época, eu só queria saber de curtir, aproveitar ao máximo as vantagens que a fama estava me proporcionando, era como se... se eu não me importasse com ninguém -Lorena pareceu engolir em seco- Quando eu ficava com uma mulher, não conseguia enxergar nada de bom nela, não havia nem um resquicio de carinho pela minha parte. Alguns anos depois, eu encontrei a Jade de novo, em um evento. Acabamos ficando e por um motivo que não sei, acabei a pedindo em namoro, acho que apenas por capricho mesmo, já que ela dizia que não pertencia a homem nenhum. Logo a imprensa ficou sabendo e nós confirmamos que estávamos mesmo juntos. Para todos que nos acompanhavam, a relação não poderia estar indo melhor, mas nós dois sabíamos que isso não era verdade. Eu me tornei um cafageste! Ou talvez já fosse um. Eu deixei que nossa relação esfriasse e a cada dia, nos afastávamos mais. Quando brigávamos, eu sempre dizia que iria mudar, mas eu nunca mudava, as coisas só pareciam estar piorando, até que um dia ela... -Minha voz ficou embargada e Lorena apertou minha mão com força, me insentivando a continuar

-O que aconteceu? -Ela me pediu com a voz calma
-Ela... Ela me disse que estava grávida e que eu era o pai da criança. Eu fiquei cego na hora, gritei com ela, a chamei de irresponsável e bati a porta saindo de casa. Hoje eu vejo que na verdade eu não fiquei com raiva dela, eu tive raiva de mim, pois sabia que um homem como eu nunca poderia ser um bom pai.
-O que aconteceu depois? -Lorena me encarou. Parecia horrorizada.
-Nós voltamos a conversar e eu disse que não iria assumi-la com aquela criança por nada do mundo! Eu não queria abrir mão da minha vida. Nossas brigas se tornaram constantes. Logo eu comecei outra turnê, que durou uns dois meses. Quando retornei, resolvi passar no apartamento em que ela morava para vê-la. Nesses dois meses, eu havia refletido muito sobre minha vida e eu percebi que estava fazendo tudo errado, eu realmente mudei! Mudei por ela e pelo bebê que ela estava esperando! Estava disposto a assumi-la. Mas, quando eu entrei no apartamento -Lágrimas começaram a correr por meu rosto- eu a encontrei caida no banheiro, havia muito sangue e ela parecia inconsciente. Pedi por ajuda e ela foi levada para o hospital mais próximo, lá o medico me disse que pelo estado do feto, ela vinha tentando fazer um aborto caseiro a muito tempo e aquela última tentativa havia sido fatal para a criança e, quase para ela também. O doutor me disse que era uma menina de quatro meses -Desabei ao lembrar daquele momento- Eu fui um idiota! Um irresponsável! Eu tirei a vida de uma criança! Minha filha! E prejudiquei muito a Jade -Fiquei em pé, andando desorientado pelo quarto
-Eu sinto muito -Lorena disse encarando suas mãos. Parecia em choque
-Era a minha filha Lorena e eu não fiz nada para protegê-la, se eu tivesse dado apoio a Jade, nada disso jamais teria acontecido -Cai de joelhos no chão, me lamentando ainda mais- Eu sou um assassino, um assassino...
-Não diga isso Luan -Lorena caminhou até mim, se ajoelhando na minha frente. Com muita delicadesa, ela segurou meu rosto em suas mãos
-Eu disse que era horrível, não queria que você tivesse ouvido isso nunca -Disse com a voz embargada- Você deve ter nojo de mim -Desviei meu olhar, mas mais uma vez, ela puxou minha cabeça, me fazendo olhar para ela
-Não vou mentir que fiquei chocada, mas vocês dois eram apenas dois adolecentes! Tá, vocês erraram, mas todos erram nessa vida Luan!
-Eu errei mais, eu tirei a vida de uma pessoa.
-Não! Você estava disposto a mudar, a aceitá-la, não lembra?
-Eu me arrependi tarde demais.
-Seus pais sabem que isso aconteceu?
-Não, nem os da Jade. Depois disso, nós demos um jeito de abafar o ocorrido. Você é a primeira pessoa pra quem eu conto -Ficamos um tempo em silêncio, até eu resolver continuar- Eu, só quero que saiba, que eu não sou o cara certo pra você, nunca fui...
-O que está querendo dizer?
-Que eu te amo demais pra ser egoísta com você! -Lorena arregalou os olhos para mim. Desde que começamos a namorar, eu nunca havia dito que a amava. Nunca havia dito aquilo a mulher alguma. Apenas a ela- Eu não sou bom o suficiente pra você, eu não te mereço -Toquei seu rosto, o acariciando com meus polegares- Você é perfeita demais, a mulher mais linda, carinhosa e risonha que já conheci... Você é como a luz e eu a escuridão. Eu não posso fazer isso com você.
-Está me deixando?
-Não, apenas te liberando
-Luan, eu te amo, te amo de verdade! Eu quero ficar com você! Eu quero você. Apesar de qualquer coisa, eu quero te ajudar a superar tudo isso. Você é um homem bom, todos tem direito a uma segunda chance
-Eu mereço ficar sozinho... -Balançando a cabeça, Lorena me surpreendeu de surpresa com um beijo. Ela chorava, quando encostou sua testa na minha, abraçando seu corpo ao meu
-Só vou sofrer se você me deixar, por favor, eu preciso de você -Seu desespero partiu meu coração, mesmo sem intenção, eu já estava lhe causando mau
-Foi bom enquanto durou, foi mais do que eu merecia. Você me mostrou um lado da vida que eu não conhecia Lorena, você foi um anjo.
-Só quero que entenda que você não teve culpa Luan!
-Nós dois sabemos que não é verdade
-Vai mesmo jogar tudo no lixo? -Lorena começou a chorar
-Como jogar os momentos mais felizes da minha vida fora? Eu nunca faria isso! Não com as nossas memórias! -Lorena se sentou no meu colo, chorando muito em meu ombro. A abracei com força, enquanto pensava em como estava sendo dificil para mim abrir mão dela:
-Eu pensei que me amava -Ela sussurrava em prantos
-Eu amo -Queria dizer mais, mas parecia haver um nó na minha garganta. Apoiei minha cabeça sobre a sua e senti algumas lágrimas saltitarem de meus olhos, caindo diretamente em seus cabelos- Eu te amo muito Lorena -Sussurrei tão baixo, que provavelmente ela não deve ter ouvido
-Minha vida está um caos!
-Você é forte, vai vencer todos estes obstáculos, vai me esquecer e se apaixonar por alguém que a mareça...
-Por que não para de dizer isso? É você que está desistindo de nós! -Ela se levantou furiosa
-Eu só quero o seu melhor...
-Você era o meu melhor! Agora acabou! Não é isso que você queria? Pronto, Conseguiu! -Me levantei, ficando cara a cara com ela- Eu não aguento mais isso, se você vai embora, por favor, suma daqui de uma vez! -Ela gritou
-Eu sinto muito Lorena -A olhando bem, lhe dei as costas e desci as escadas que davam para a sala, onde se encontrava toda a família de Lorena. Eles encararam o meu estado, mas não ousaram perguntar nada. Sai em silêncio, indo até meu carro, que estava estacionado na rua. Onde chorei, tudo o que estava segurando. Eu tinha de liberá-la, ela não merecia uma vida ao meu lado. Eu não a merecia. Chorando sobre o.volante, olhei para a janela do quarto de Lorena e a vi debruçada sobre ela, chorando. Logo em seguida, Susi e dona Ester chegaram e as duas abraçaram. Ela era uma mulher forte, logo conseguiria superar tudo aquilo. E se esquecer de mim.  


Chuvas de ArrozWhere stories live. Discover now