Capítulo 26 (Lorena)

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Luan ainda me encarava sério, enquanto eu pensava em alguma maneira de contar o que estava acontecendo a ele. Por mais que eu tentasse, sabia que não havia uma maneira de contar que talvez houvesse uma grande chance de eu estar doente sem ele pirar, então, menti:-Exames? -Repeti a pergunta tentando ganhar mais tempo-Sim, você não me disse nada sobre isso -Ele me avaliou sério-Há sim, os exames! -Bati a mão de leve na minha cabeça, como se tivesse acabado de me lembrar do que se tratava- Quando fui ao hospital fazer o teste de gravidez, acabei fazendo alguns exames de rotina também, nada de mais-Há -Luan relaxou os ombros e eu percebi que ele havia ficado mais calmo- Por um momento, pensei que estivesse doente-Ficou preocupado comigo? -Sorri acariciando seu rosto-Lorena, eu vivo a minha vida me preocupando com você -Ele respondeu ao meu toque, se aproximando para me receber com um beijo. Ele acariciava todo meu corpo, enquanto eu me perdia em seus toques- Topa fazer uma caminhada comigo? -Ele sussurrou, se afastando um pouco, como se buscá-se por algum motivo pra não me manter presa na cama-Caminhar? A essas horas? -Indaguei o encarando-Por favor, tenho uma surpresa pra você-Me promete que não vai aprontar nada?-Dou minha palavra de que você vai adorar-Tudo bem, espera eu me vestir? -Ele assentiu, enquanto eu saia da cama. Vi que Luan me observava com o canto do olho, enquanto ele se vestia também. Optei por um vestido azul, com comprimento até a altura do joelho. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e depois de prontos saímos do quarto.Assim que chegamos a recepção, uma mulher entregou uma cesta a Luan, logo descobri o que ele tinha em mente. Caminhamos pela praia por alguns instantes, até estarmos um pouco afastados. Luan estendeu uma toalha no chão e eu me sentei o ajudando a tirar alguns sanduíches e sobremesas que estavam dentro da cesta:-Sério, piquenique? -Levantei minhas sobrancelhas para ele-Pensei que fosse uma ideia bem original -Ele se justificou dando de ombros, apenas ri-Acredita que eu nunca fiz isso antes? -Luan me olhou-De que planeta você veio? -Ele brincou e eu desviei meu olhar sorrindo-Desculpe se eu não tive infância-Tudo bem, esse problema será resolvido agora -Ele riu se sentando próximo a mim, enquanto eu me aninhava ao seu corpo- Sabe, quando crianças, meus pais sempre levavam Bruna e eu para fazer isso, ás vezes eu queria que tudo aquilo voltasse -Luan disse melancólico-Sei como é -Disse concordando com ele-Sabe?-Sim, ás vezes eu daria tudo para ter minha avó... quer dizer, minha bisavó de volta, foi ela que me fez ser a pessoa que sou hoje-Pode me falar mais sobre ela? -Luan apoiou seu queixo sobre a minha cabeça-Ela se chamava Elena, avó da minha mãe, Susi. Queria que você tivesse conhecido ela, vocês iriam se dar bem, ela é a pessoa com o maior senso de humor que já conheci-O que aconteceu com ela?-Ela ficou velhinha e doente, então, ela nos deixou-Sinto muito -Luan disse com sinceridade-Tudo bem, nunca vou me esquecer dos momentos que passamos juntas -Nesse instante, nós dois olhamos juntos para o céu. A Lua estava cheia e parecia mais próxima de nós do que nunca, refletindo com sua luz a água azul do mar do caribe:-Você já olhou para a Lua e imaginou a quantidade de pessoas que poderiam estar olhando para ela no mesmo instante que você? -Também, mas já fiquei imaginando se o amor da minha vida estaria olhando para ela no mesmo momento que eu-Será que ele estava?-Eu não sei, porque você não me diz? -Sorri o beijando- Eu te amo Luan-Eu também te amo Lorena -Ele sussurrou me abraçando com força- Vamos fazer um pacto?-Que pacto?-Sempre que sentirmos saudades um do outro, podíamos olhar para a Lua, sabendo que o outro também estaria olhando para ela naquele mesmo instante, ela serviria para nos aproximar-Gostei da ideia -Sorri o encarando-Então estamos combinados? -Ele estendeu a mão para mim e eu a segurei-Combinadíssimos! Agora vamos comer? Estou morta de fome -Naquela noite, depois do piquenique, deitamos na toalha que havia sido forrada sobre a areia e ficamos olhando para o céu estrelado, para a Lua e imaginando o quanto um único homem poderia ter criado coisas tão belas e perfeitas, eu não conseguia imaginar um mundo, em que as coisas não fossem exatamente do jeito que são.Aquela semana a sós com Luan só serviu para me mostrar o quanto eu estava certa desde o princípio em relação aos sentimentos que tinha por ele. Luan era um homem doce, puro e quando estava apaixonado, era para valer. Ele também era calado e misterioso em certos momentos e isso despertava em mim uma vontade enorme de saber o que ele estava pensando e sentindo, em outras palavras, Luan havia trazido mais significado e desafios para a minha vida, coisas que haviam completado um vazio que eu só havia percebido depois dele. Andando pelas ruas de Punta Cana, Luan encontrou o pingente de uma Lua e o comprou para mim, o abotoando a minha pulseira, juntamente ao coração, a mascara, simbolo do teatro e ao microfone, aquela pulseira trazia toda a nossa história e eu gostei da ideia de ir adicionando a ela um novo pingente a cada acontecimento pelo qual passássemos.No nosso último dia juntos, Luan não desembarcou comigo em São Paulo, ao invés disso, ele pegou um voo para Minas Gerais, já que no dia seguinte ele já teria show em Belo Horizonte.Depois de matar a saudade da minha família, tentei me preparar psicologicamente para ouvir o que o Doutor Henrique teria para me dizer em relação aos meu exames. No outro dia, logo pela manhã, criei coragem e fui até lá.Confesso que Henrique era totalmente diferente do que eu havia imaginado. Era jovem, tinha cabelos castanhos e olhos claros, barba por fazer, um belo sorriso e estava muito bem vestido em seu terno, me surpreendeu saber que ele não era muito mais velho do que eu:-Surpresa com algo? -Ele perguntou, fazendo sinal para que eu me sentasse na cadeira em frente a sua mesa, após me cumrprimentar-Não, só pensei que o senhor fosse mais...-Velho? -Ele sorriu amigavelmente para mim- Todos sempre dizem a mesma coisa -Ele riu, ficando em silêncio por alguns instantes- Eu estive olhando os seus exames Lorena...-Estou doente? -O interrompi. Ele baixou seu olhar, evitando me encarar e depois de respirar fundo, se virou para mim me encarando- Eu quero que saiba que eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para te ajudar -Naquele instante, soube que o que eu mais havia temido, havia acontecido-Me ajude, por favor -Disse, as lágrimas escapando dos meus olhos-Eu vou, prometo -Ele estendeu sua mão sobre a mesa e segurou a minha. Naquele instante desabei a chorar, meus exames apontavam que eu tinha câncer. 


Chuvas de ArrozWhere stories live. Discover now