Capítulo 56 (Luan) - ÚLTIMO CAPÍTULO

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  Foram as horas mais agoniantes da minha vida. Em um minuto tudo estava bem e no seguinte, de repente, tudo começou a dar errado.
Infelizmente Henrique e as enfermeiras não me deixaram entrar na sala para acompanhar a cirurgia que eles fariam em Lorena. Era grave. Muito grave. Ela estava perdendo nossa filhinha, além de estar correndo um sério risco também. Quando a levaram para a sala, me sentei em uma poltrona e tudo o que consegui fazer foi rezar. Rezar para que ela e minha pequena ficassem bem.
Pouco tempo depois, meus pais, os avós de Lorena e Susi chegaram. Assim como eu, todos estavam muito ansiosos e preocupados. A cirurgia já havia começado a mais ou menos umas três horas e até agora ninguém havia aparecido para nos trazer qualquer notícia:
-Eles estão demorando muito -Protestei
-Calma querido, é uma cirurgia, tudo tem que ser feito com muito cuidado -Minha mãe tentou me consolar, colocando sua mão sobre meu ombro
-Se acontecer alguma coisa com a Lorena, com nossa filha... eu... -Dizia, sentindo as lágrimas dominarem pouco a pouco meus olhos
-Não mesmo, minha filha e minha neta vão ficar bem! -Susi disse emocionada do outro lado da sala, enquanto senhor Olavo e Ester a abraçavam com força- Minha filha -Ela chorava
-Não vamos nos precipitar, vai correr tudo bem, você vai ver -Meu pai disse, apertando minha mão
-Obrigado pai
-Por que não rezamos? Todos nós juntos? -Minha mãe sugeriu. Susi me entreolhou e balançando a cabeça, se levantou com seus pais, vindo até nós. Demos todos as mãos e começamos a rezar pela saúde de Lorena e da pequena Nicole, que mesmo sem termos visto, já a amávamos mais do que tudo. Nos envolvendo depois, em um forte abraço em grupo.
Algum tempo depois, Henrique saiu da sala de cirurgia, sua roupa estava coberta de sangue. Me levantei desesperado, o encarando:
-Como elas estão? -Meu olhar suplicava por respostas. Antes de responder, ele encarou a todos nós
-Apesar do estado gravíssimo da Lorena, a cirurgia foi um sucesso -Ele disse, para o alivio de todos
-E a minha filha? -Perguntei
-Infelizmente a criança nasceu muito fraca, provavelmente por ser prematura, a levamos para a incubadora, mas ainda não podemos dizer se ela conseguirá sobreviver -Senti uma pontada em meu coração, mas me segurei para não desabar- E minha mulher?
-Ela foi levada para o quarto. Ela perdeu muito sangue, está muito frágil e provavelmente esteja dormindo, mas deve acordar em algumas horas
-Será que eu posso vê-la?
-Claro, vou levá-lo até ela.
Depois de passarmos por várias salas, todas localizadas em um longo corredor, finalmente Henrique me mostrou em qual sala estava Lorena:
-Fique a vontade, volto em alguns minutos, tenho que me trocar -Balancei a cabeça, garantindo que estava tudo bem e, enquanto ele se afastava, abri a porta, avistando minha princesa dormindo tranquilamente em seu leito. Me aproximei lentamente, as lágrimas me dominando pouco a pouco:
-Oie meu amor -Murmurei ficando ao seu lado e acariciando seu rosto. Ela estava pálida, seus lábios estavam secos- Agora vai ficar tudo bem, eu te prometo -Sussurrei me sentando em uma cadeira ao seu lado- Quando você acordar, tudo vai voltar a ser como era antes -Algumas lágrimas fujonas caíram- Vamos voltar para casa e cuidar da nossa filhinha. Ela está muito doente agora, mas quando você a pegar no colo, sei que tudo vai ficar bem -Segurei sua mão, sorrindo calmamente- Você sempre sabe o que fazer, sempre soube Lorena.

Admito que passei um bom tempo sentando, apenas olhando para Lorena, queria estar ali quando ela acordasse, mas acabei sendo vencido pelo cansaço. Sentando na cadeira, apoiei minha cabeça na beirada do leito e acabei dormindo. Lembro de ter acordado, no que pareceu ser uma eternidade depois, com alguém deslizando uma de suas mãos por meus cabelos e por minha nuca repetidamente, em um movimento extremamente suave. Eu reconhecia aquele toque. Abri os olhos lentamente e me deparei com Lorena me olhando e sorrindo para mim:
-Até parece que foi você que acabou de sair de uma cirurgia -Ela me encarou com um ar brincalhão, mas eu percebi sua voz fraca, mesmo que ela tivesse tentando esconder isso de mim
-Como se sente? -Me ajeitei na cadeira, segurando sua mão
-Fraca e com muita dor, mas, fora isso, estou muito bem -Ela me lançou um sorriso fraco
-Fiquei tão preocupado com você -Me aproximei, colocando minha testa na sua. Lorena estendeu sua mão live, acariciando as laterais do meu rosto, seus lindos olhos azuis fixos nos meus
-Eu estou aqui. Estou com você. Sempre vou estar com você.
-É tão bom ouvir sua voz -Fechei os olhos, saboreando seu toque e o doce som de sua voz
-Como está nossa filha? -Ela sussurrou, e no mesmo instante, meus olhos voltaram a se encontrar com os seus. O azul marinho de seus olhos, agora tinha dado lugar ao medo e preocupação
-Ela nasceu muito fraquinha e agora está na incubadora, talvez ela não resista, mas... o Henrique disse que no momento não é possível definir nada.
-Você já a viu?
-Não, eu estou aqui com você desde que saiu da sala de cirurgia.
-Ela não pode morrer, Luan -Uma lágrima rolou por seu rosto- Não a nossa Nicole
-Ela não vai -Enxuguei sua lágrima com meu polegar- Ela vai ficar bem, eu sei que vai -Lorena balançou a cabeça concordando comigo
-Oi -Uma voz disse atrás de nós. Era Susi, acompanhada de meus pais e dos avós de Lorena- Soubemos que você havia acordado e viemos correndo te ver
-Oie mãe -Lorena disse, sorrindo para ela
-Você me chamou de mãe? -Susi disse completamente chocada, enquanto chorava
-É isso que você é, não é mesmo? Minha mãe -Susi sorriu, correndo em direção a filha e a abraçando. Sai dali, dando espaço para que todos pudessem falar com ela. Já fora da sala, liguei para Bruna e Manuela, dizendo que tudo havia corrido bem e que Lorena já havia acordado e, que elas poderiam vir até o hospital para vê-la.
Quando voltei para o quarto, encontrei minha mãe sentada ao lado de Lorena, mostrando a ela fotos da nossa filha na incubadora:
-Ela é linda -Lorena dizia emocionada- Você viu Lu? Sua mãe tirou fotos da nossa filhinha -Ela disse ao me ver
-Aproveitamos que você estava aqui e fomos até uma sala conhecer a nossa netinha -Minha mãe se explicou me olhando- Você quer ver?
-Claro que sim -Me aproximei, olhando as fotos no celular. Apesar de prematura, minha filha era realmente muito linda, branquinha, e bem pequenininha, talvez a bebê mas pequena que eu já tivesse visto
-Ela é pequenina assim? -Perguntei emocionado
-É sim -Meu pai disse me olhando- Quer ir até lá conhecê-la? -Ele perguntou
-Vai amor, dai depois, você pode me contar em detalhes o quanto ela se parece comigo -Lorena brincou
-Tudo bem, eu vou -Sai da sala com meu pai, e fomos até uma outra sala, que ficava próxima aos berçários. Uma enfermeira nos recebeu, nos levando até a incubadora que estava minha pequena. Haviam vários fios ligados a ela, e aquilo partiu meu coração em vários pedaços. Pessoalmente ela ainda era mais pequenina, não tenho dúvidas de que ela caberia na palma da minha mão. Ela quase não tinha cabelos, parecia bem fraquinha, mas ainda assim era a bebê mais linda que eu já havia visto.
-Agora sabe o que um pai sente, não é? -Meu pai me encarou sorrindo
-Sim, eu sei.
Quando retornamos ao quarto, Bruna e Manuela já havia chegado, Henrique também estava ali. Lorena sorria, parecia estar contente com algo:
-Por que toda essa alegria? -Me aproximei, voltando a me sentar ao lado dela
-Por que não me disse que a Bruna e o Henrique haviam ficado noivos? -Ela me olhou questionadora
-Há, bem...
-Tudo bem Lu, eu já sei, só estou brincando com você -Ela olhou para Bruna e Henrique que estavam abraçados em um canto do quarto- Espero que vocês dois sejam muito felizes e obrigada Henrique, graças a você minha filhinha está bem, serei sempre grata por isso -Ela disse
-Não tem porque me agradecer
-E você Luan? Viu ela?
-Vi sim -Disse a olhando
-Como ela é?
-Ela é a bebê mais linda que já vi, e não é porque é minha filha e você tinha razão, ela é a sua cara
-Então ela é mesmo muito linda -Lorena disse, fazendo todos rirem.

Já se passava as 23:00 horas, quando todos voltaram para casa. O horário de visitas já havia acabado, mas Henrique abriu uma exceção para mim, permitindo que eu passasse a noite ao lado de Lorena. Depois de tomar um banho rápido e vestir roupas limpas que a Bruna havia trazido para mim, voltei para o quarto, me sentando na cadeira novamente enquanto Lorena me observava:
-Você vai mesmo dormir nessa cadeira? -Ela questionou
-Não é tão ruim quanto parece -Brinquei- Mas talvez eu não consiga nem andar amanhã -Ri
-Não seria melhor se você dormisse aqui comigo? -Ela sugeriu
-Acho que a enfermeira me mataria se me visse fazer isso
-Não vale a pena correr esse risco por mim? -Ela brincou
-Vale isso e muito mais -Me levantei da cadeira e com todo o cuidado possível, me deitei na cama com Lorena, a colocando em uma posição confortável, de modo que ficava deitada sobre meu peito
-Não está bem melhor aqui? -Ela disse
-Muito -Murmurei beijando seu rosto
-Luan?
-O quê?
-Eu sei que você não gosta muito de tocar nesse assunto, mas eu tenho algo muito importante pra te dizer...
-Lorena...
-Não Lu, só me escute, está bem? -Ela disse e eu fiz como ela mandou- Por mais que você queira, eu sei que não vou viver por muito mais tempo, nós temos uma filha e, quando ela estiver maiorzinha, vai precisar de uma mãe. Eu sei que tem a Susi, sua mãe a minha avó, e a Bruna, que com certeza será uma titia babona, junto com a Manu, mas a Nick vai precisar de uma figura materna e eu não estarei aqui para fazer isso, portanto, quero que me prometa que vai se casar de novo, que vai ser feliz e que vai viver a sua vida quando eu morrer?
-Lo, você sabe que eu não tenho olhos para outras mulheres, eu amo você! -Disse sério
-Eu também te amo, mas se casar com outra pessoa, não vai significar que você não me amou. Eu só quero que você e a nossa filha sejam felizes
-Eu não posso prometer a você que vou me casar novamente
-Então me promete que vai ser feliz? Que vai fazer tudo o que você mais ama?
-Lo, porque está fazendo isso?
-Porque eu quero que você intenda que, mesmo quando eu não estiver mais aqui, você ainda vai estar e vai ter um vida toda pela frente, não quero que fique perdido sem mim. Promete?
-Eu prometo Lorena, agora vamos esquecer esse assunto? Você precisa descansar -Ela se aconchegou mais a mim
-Eu te amo Luan, como jamais pensei que fosse possível amar alguém, obrigada por ter me mostrado um sentimento tão bonito -Ela murmurou- Você vai ser pra sempre o meu amor, se lembre disso, está bem?
-Você também sempre será o meu amor, Lorena -Foram as últimas palavras que dizemos antes de pegarmos no sono. Acordei com o dia amanhecendo e senti algo gelado em meu peito. Era a Lorena. Me levantei desesperado, tentando fazer com que ela tivesse alguma reação, mas quando os enfermeiros entraram do quarto e me tiraram as pressas dali, minha ficha caiu. Minha esposa, a mulher que eu mais havia amado nesse mundo, faleceu abraçada a mim. De repente. De uma hora para a outra. Ela simplesmente havia resolvido me deixar. A vida havia perdido todo o seu sentido. Se é que havia algum.  

Chuvas de ArrozOnde histórias criam vida. Descubra agora