Capítulo 34 (Lorena)

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  1 MÊS DEPOIS...

Um mês já havia se passado desde o dia em comecei a fazer o meu tratamento com a quimioterapia. Minha mãe, Susi, havia insistido milhares de vezes, juntamente com meus avós para que eu voltasse para casa, mas eu simplesmente preferi ficar no meu apartamento, onde já estava estabilizada.
Consegui convencer Luan a voltar a fazer seus shows depois de uma semana ao meu lado. Apesar de não nos vermos a pouco mais de um mês, Luan me ligava sempre que podia, antes e depois dos shows, quando acordava, quando ia deitar... Sempre querendo saber como eu estava.
Já havia feito oito sessões de quimioterapia. E logo na terceira percebi que meus cabelos já começavam a cair. Lembro como se estivesse acontecendo agora. Acordei de manhã e depois de tomar um banho, fui pentear meus cabelos e, depois de perceber que os fios não paravam de cair, senti um grande desespero. Sempre mantive meus cabelos compridos, mas depois daquele ocorrido, eu sabia que mesmo se eu os mantivesse curtos, continuariam caindo do mesmo jeito, então, por mais que tenha sido difícil, decidi que estava na hora de raspá-los de uma vez por todas.
No dia que fui ao salão, Susi me acompanhou. Em minutos meus cabelos já estavam todos pelo chão do salão e, quando me vi careca em frente ao espelho, simplesmente não me reconheci. Naquele dia chorei muito.
Todos já sabiam da minha doença. Os pais de Luan, Bruna, Ian -Que ainda vivia como um parasita ao lado da Bruna- mas achamos melhor deixá-lo para lá, Luan me disse que aos poucos eles estavam se afastando, talvez por ele perceber que não conseguiria nos afetar tão fácil assim. Até as fãs do Luan já sabiam. Lógico que elas não me conheciam a muito tempo, mas quando ficaram sabendo que eu tinha câncer, todas, repito, todas começaram a me mandar mensagens de apoio na internet, quando saia do hospital, depois de mais uma sessão de quimio, sempre via meninas com faixas e cartazes, torcendo para que eu ficasse boa logo. Eu sorria em relação a tudo aquilo, como elas poderiam gostar tanto assim de mim?
Luan e eu também eramos o assunto mais comentado na televisão atualmente. As pessoas debatiam sobre a nossa relação e apesar de não comentarem, sabiam que no fundo se perguntavam o que um homem como o Luan estaria fazendo com uma mulher a beira da morte.
Eu simplesmente ignorava tudo o que estava acontecendo ao meu redor, não queria ter que enfrentar toda aquela pressão:
-No que você está pensando? -Manuela se aproximou, sentando ao meu lado no sofá. Ela estava de férias do trabalho e decidiu ficar alguns dias comigo
-Só em como o mundo inteiro está desabando ao meu lado e em como eu sou boa em fingir que está tudo bem -Disse rindo
-Isso não teve graça, Lorena -Ela me repreendeu
-Não é mesmo para ter -Encarei o chão
-Falou com o Luan hoje? -Ela disse depois de alguns segundos em silêncio
-Ainda não, por quê?
-Ele disse que está voltando para Sampa amanhã...
-O QUÊ? -Minha voz não conseguiu esconder o quanto eu estava apavorada- Pensei que ele só viria no fim do mês
-Parece que ele comentou algo sobre os shows terem sido cancelados ou algo do tipo
-Ele não pode me ver agora, Manu!
-Você não pode se esconder para sempre dele, Lorena! Além disso, ele já sabe que você teve que raspar seus cabelos, você mesma contou a ele
-Saber não é o mesmo que ver! -Me levantei nervosa, caminhando até a cozinha
-Conhecendo o Luan, tenho certeza de que ele não vai dar a mínima para isso!
-E o que você acha que ele vai sentir quando me ver assim? -Apontei para o lenço que havia na minha cabeça, em pouco tempo, ele já havia se tornado um acessório indispensável para mim- Aos poucos eu estou perdendo a minha essência de mulher, Manu. E o Luan -Disse sentindo meus olhos marejando- O Luan é o tipo de homem que qualquer mulher daria a vida para ter, mulheres com cabelos! Você entende? -Disse começando a chorar
-Você anda muito insegura, Lo -Manuela me abraçou com força- Como pode se esquecer de que você é a única mulher nesse mundo que o Luan ama? Ou acha que eu já me esqueci da bagunça que vocês fizeram no meu apartamento? -Ela brincou e ao me lembrar da situação, comecei a rir- Mas, falando sério, você ainda é você e seus cabelos vão crescer de novo, assim que tudo isso acabar. Nada mudou Lorena. -Enquanto abraçava minha amiga, desejei que suas palavras fossem verdade e que ela estivesse certa, mas sabia que não era bem assim.

Á noite, depois que Manuela foi se deitar, me deitei em minha cama e fiquei m bom tempo olhando para o teto. Quando meu telefone tocou, já sabia quem era:
-Oie Lu
-Oi princesa! Como vai? -Senti meu coração apertar
-Bem e você?
-Melhor agora, ouvindo sua voz -Ele disse carinhoso
-Fiquei vermelha como um pimentão agora -Brinquei rindo
-Queria estar ai pra ver esse seu sorriso
-Luan! Isso é trapaça -Ri- A Manu disse que você está vindo amanhã aqui pra Sampa
-Sim, eu queria ter te ligado, mas hoje eu tive que fazer uma gravação pra um programa e fiquei o dia inteiro enrolado com isso, me desculpa?
-Não tem problema
-Estou louco pra te ver -Senti minha alma congelar. Por mais que eu também quisesse ver o Luan, não queria que ele visse minha atual condição
-Devo avisar que estou bem diferente da última vez que me viu, tipo, eu ainda não era careca
-Não seja tola Lorena! Você acha mesmo que eu me importo com isso?
-Você diz isso agora, mas, e quando me ver? Como vai reagir?
-Não quero discutir com você, me promete que não vai mais tocar nesse assunto -Ele disse sério
-Como quiser. Tenho que desligar, estou cansada
-Eu também, o dia foi bem cheio
-Boa noite, Luan
-Boa noite, Lorena -Ele disse e eu desliguei, sentindo uma angustia me dominar.

Luan chegaria ao escurecer, então, assim que o dia amanheceu, coloquei Manuela atrás de algumas encomendas para mim.
Eu sei o que Luan havia dito, mas eu realmente não estava preparada para que ele me visse daquele jeito:
-Foi a única que encontrei que parece combinar com você -Quando Manuela chegou já era tarde, ela havia percorrido a São Paulo toda em busca de uma peruca para mim. Está também possuía fios loiros e compridos, muito parecidos com meus cabelos. Quando a coloquei, pensei que me sentiria bem de novo, talvez pela possibilidade de achar que não seria mais careca, só que foi tudo ao contrário, me senti mais desconfortável com aquilo, do que com o lenço:
-Ficou lindo -Manuela comentou- Você gostou?
-Sim, eu gostei -Disse tirando a peruca e a colocando sobre a cama- Eu vou tomar um banho, se o Luan chegar, diga a ele que eu não irei demorar
-Claro -Manuela me olhou desconfiada e saiu dali, indo para a sala.
Peguei uma toalha e fui até o banheiro, tomei uma ducha rápida e depois de me secar, fui me vestir. Optei por um vestido de renda branca e, enquanto me vestia, percebi o quanto havia emagrecido e o quanto o vestido havia ficado grande em mim, com certeza precisaria levá-lo para a costureira apertar.

Chuvas de ArrozDonde viven las historias. Descúbrelo ahora