Capítulo 51 (Luan)

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1 MÊS E ALGUNS DIAS DEPOIS...

Pela primeira vez em muito tempo eu estava realmente feliz. Feliz por simplesmente estar em casa com minha mulher, por cuidar dela e, por ter forças para curtir sua gravidez. Lorena havia acabado de completar três meses de gestação e apesar de sua barriga passar despercebida pelos olhos de todos, ela também estava muito feliz e animada com a ideia de ter um bebê. Eu sabia que o fato de estar grávida a enfraquecia cada vez mais. Mas ela não parecia se importar com isso. Sempre que alguém tocava no assunto, Lorena acariciava sua "barriga" sorrindo e, dizia que ali dentro estava o seu anjinho.No dia anterior, Henrique havia marcado uma ultrassom conosco, para que pudêssemos descobrir o sexo do bebê. Lembro de ver Lorena em um misto de ansiedade e animação enquanto Henrique passava um gel em sua barriga e, logo depois, começar a deslizar um aparelho por ela. Eu fiquei olhando para o monitor, tentando entender alguma coisa, quando Henrique parou e olhou para Lorena:-Quer mesmo saber? -Ele perguntou, esperando pela autorização dela-Sim, por favor -Ela pediu sorridente. Ele olhou de relance para mim e depois novamente para ela-É uma menina, parabéns -Ele sorriu. Observei quando as lágrimas se formaram em seus olhos e ela sorria de felicidade. Me aproximei, tomando sua mão e beijando sua testa:-Uma menina, Lu -Ela sussurrou para mim-Sim, nossa menina -Sorri em resposta.Quando chegamos em casa, Lorena contou a novidade a Manuela, que vibrou com a notícia e depois telefonamos para todos nossos familiares, para que todos ficassem informados sobre a novidade. Naquela noite, depois que fomos nos deitar, abracei Lorena a mim, enquanto discutíamos sobre o nome que daríamos a nossa filha:-Não acha que Luana ficaria esquisito? Já que seu nome é Luan? -Ela disse olhando para mim-Tem razão -Concordei com ela- O que você sugere então?-Que tal Nicole? -Nicole?-Sim. Não sei se sabe, mas Nicole significa "a que conduz o povo a vitória" ou "a que vence com o povo", não sei, mas, me faz pensar que ela vai ser uma garota forte e guerreira e... -Ela respirou fundo, olhando para mim- Quando eu não estiver mais aqui...-Ei -Toquei seu rosto- Se ela puxar a você, pode ter certeza que ela vai ser a garota mais corajosa desse mundo. Adorei esse nome.-Sério? -Ela me lançou um grande sorriso-Mas é claro! Já está escolhido, nossa pequena vai se chamar Nicole-Obrigada Luan! -Ela me deu um beijo casto nos lábios.No dia seguinte seria domingo, então eu resolvi convidar a todos para que pudessem comemorar aquela notícia tão especial juntamente conosco. Meus pais, Bruna, Henrique, Manuela, a família de Lorena, estavam todos presentes e, em pouco tempo, a casa ficou completamente lotada:-Parabéns! -Todos diziam animados, nos parabenizando. Até Susi -Por incrível que pareça- nos parabenizou, apesar de ainda me olhar de lado.Lorena estava um pouco fraca hoje, por isso estava sentada em sua cadeira de rodas, perto de sua avó, minha mãe, Manuela e de Bruna, bem ao lado da piscina, onde havíamos colocado uma mesa. Nós, homens, estávamos próximos a churrasqueira e, enquanto todos conversavam sobre assuntos aleatórios, eu me preocupava em assar a carne:-Uma netinha, quem diria -Meu pai comentou, olhando para mim- A Lorena parece muito feliz com a notícia -Automaticamente, busquei por ela e, fiquei feliz, quando vi que ela sorria descontraída-Sim, ela está, como eu também estou-Sua neta, mas já vai ser minha bisneta! -Sr. Olavo, avô de Lorena disse- E olha que eu nem sou tão velho assim! -Ele brincou e todos nós rimos-Amarildo, pode pegar o refrigerante na geladeira para nós? -Minha mãe gritou-Claro querida! -Ele respondeu-Eu te ajudo -Olavo o acompanhou até a cozinha, me deixando a sós com Henrique-Então Henrique, eu sei que não é da minha conta, mas como vão as coisas com a minha irmã? -Disse meio sorrindo, para não o deixar muito tenso-Muito bem Luan, não é porque você é irmão dela, nem nada disso, mas a Bruna é a melhor garota que eu já conheci-Fico feliz em saber, ela não fala muito disso comigo -Disse virando um pedaço de carne na churrasqueira- Mas dá pra ver que ela tá muito feliz com você-Antes que diga alguma coisa, eu prometo cuidar muito bem da sua irmã, não precisa se preocupar-Não ia dizer nada disso -Disse retirando um pedaço de carne e o cortando na tábua- Você é um cara legal Henrique, minha irmã está bem com você, sem contar as inúmeras vezes que ajudou a Lorena, por isso, eu nunca vou poder te agradecer -O olhei sério-É o meu trabalho, não precisa me agradecer. Acredite, se pudesse, eu faria muito mais por vocês.-Eu sei que faria. -Ele se moveu, dando a entender que iria até Bruna, mas parou, se voltando para mim-Sabe, o que vocês tem é raro -Ele disse, ganhando minha atenção- O amor de vocês, é o mais verdadeiro que eu já vi -Ele piscou, indo para a mesa, enquanto meu pai e o sr. Olavo colocavam os refrigerantes, gelo e algumas cervejas que estavam dentro de uma caixinha de isopor sobre a mesa. Levei a tabua com a carne cortada até a mesa, enquanto observava todos se servirem com arroz, carne, vinagrete e macarrão com queijo. Lorena também se serviu, mas não comeu muito.Depois do almoço, Bruna, Henrique e Manuela se jogaram na piscina. Meus pais e os avós de Lorena conversavam em um canto. E Lorena estava sentada em sua cadeira, observando tudo aquilo:-Oie -Disse me aproximando dela e lhe dando um beijo na testa-Oi -Ela sorriu-Não está cansada? Não quer se deitar um pouco? -Perguntei preocupado, me ajoelhando ao seu lado-Não estou bem -Ela dizia olhando em direção a piscina- Não é incrível? -Ela perguntou-O quê? -Olhei na mesma direção que ela-A energia que eles tem? -Henrique, Bruna e Manuela jogavam vôlei dentro da piscina e, naquele momento, todos pareciam ter voltado aos tempos de criança-É, é sim-Você deveria se divertir mais também-Não, isso não é mais pra mim -Comentei distraído-Por quê? -Porque agora eu tenho você e, uma filha, que em poucos meses virá a esse mundo, esse tipo de diversão não faz mais o meu tipo-Qual o seu tipo agora? -Eu não sei, talvez quando eu me deito na cama com você e ficamos falando sobre várias coisas, ou quando nos sentamos juntos para ver tv, ou, até mesmo, como hoje, quando reunimos nossas famílias e os observamos se divertirem-Parece chato -Ela brincou colocando língua para mim-Não, não é, fica melhor ainda quando minha mulher me beija -Ri, me aproximando para beijá-la ternamente nos lábios- Eu me divirto, e muito. Acredite, não é porque não me jogo na piscina que não estou feliz. Eu mudei muito Lorena.-Há não! -Ela disse colocando as mãos no rosto -O que foi? -Perguntei preocupado, me assustando com sua reação-Me casei com um velho! -Ele olhou para mim rindo. Eu amava os dias em que ela acordava com todo aquele bom humor-Eu não sou velho! -Não é, mas age como um -Ela não parava de sorrir-Engraçadinha -Ri, a beijando mais uma vez-Será que você pode pegar um pouco de água para mim? -Ela pediu acariciando meus cabelos- Minha garganta ficou seca de repente-Claro meu amor, eu já volto -Me levantei, saindo do jardim e indo até a cozinha. Peguei um copo no armário e depois caminhei até o filtro, pegando um pouco de água. Quando vi Lorena cruzar a cozinha em minha direção:-Será que podemos conversar? -Ela disse, indo direto ao ponto-Claro, sobre o quê? -Perguntei de cabeça baixa-Sobre a Lorena -A olhei, sem saber o que esperar- Eu falei com ela a alguns dias atrás e, como já não era de se esperar, ela falou sobre a forma que eu te tratei no hospital e exigiu que eu te pedisse desculpas. Quero que perdoe as coisas horríveis que te disse e o tapa que lhe dei, não deveria ter feito aquilo-Eu mereci -Disse- Mas, como ela descobriu sobre isso? Eu não mencionei nada com ela-Não? Se não foi você, então, quem foi? -Susi me olhou surpresa-Não faço a menor ideia-Mesmo assim, isso não importa, só quero que saiba que, não quero que fique este clima ruim entre nós. A Lorena precisa de todo o apoio que conseguir agora e, quando minha neta nascer, não quero ter que deixar de vir até aqui vê-la, porque simplesmente não me dou bem com você-Tudo bem Susi, imagino o que você vem passando nos últimos meses -Sem motivo algum, ela me abraçou-Você também -Ela sussurrou, me encarando logo depois- Me preocupei tanto com a minha dor, que me esqueci da dor dos outros. Você sempre tratou minha filha tão bem Luan, sempre se deu bem com todos nós, juro que não sei de onde tirei motivos para implicar com você -Ela se calou por alguns instantes, parecendo pensar no que diria a seguir- A Lorena também me contou sobre os boatos que se esparramaram de você e, me disse que você contou a ela como tudo havia acontecido -Confesso que me senti desconfortável ao ter que falar de novo daquele assunto. A imprensa já havia largado mais do meu pé, só que a maioria ainda dizia que eu havia deixado os palcos por ciúmes da Lorena, que agora ela me obrigava ficar em casa e tals, besteiras que eu preferia deixar de lado:-Sabe o que eu achei mais incrível? -Ela perguntou, mas eu não disse nada- Quando perguntei a ela, como ela podia ter tanta certeza de que você tivesse contado toda a verdade a ela, ela apenas se virou para mim e me disse que você se amavam, e que isso era a resposta para todas as coisas.-Onde quer chegar com tudo isso?-Você não diz, nem deixa aparentar, mas sei que está sofrendo Luan e eu não tinha o direito de te culpar das coisas que estão acontecendo a Lorena. Foi apenas uma triste coincidência do destino, uma fatalidade, mas parecia mais fácil para mim tentar encontrar um culpado. Quanto a gravidez, depois de ver o quanto ela está feliz, não tenho dúvidas de que essa criança vai vir como um presente. Obrigada Luan.-Não me agradeça, eu não fiz nada. Agradeça a Deus, ele sim sabe de todas as coisas e do que é melhor para cada um de nós.-Você tem razão -Ela sorriu para mim, saindo da cozinha. Segundos depois, também sai, com o copo de Lorena em minhas mãos:-Sua água -Entreguei o copo a ela-Obrigada -Ela disse dando um grande gole- Por que demorou tanto?-Estava conversando com Susi-Ela te pediu desculpas?-Sim-Ainda bem-Ela me disse que você a ameaçou -Comentei-Sim, disse a ela que se não fizesse as pazes com você, não precisaria mais voltar a falar comigo-Forte argumento. Mas, como você descobriu da nossa briga?-Arleidy me contou, além disso, não precisava ser um gênio para perceber que vocês estavam se estranhando-Obrigado por isso-Não fiz isso por você, fiz por nossa filha, não quero que ela viva no meio de um briga entre o pai e a avó-Sei que ela será grata por isso -Sorri, pensando em como mesmo depois de tudo, ela ainda se mantinha centrada e preocupada com o que acontecia com as pessoas que ela amava.Meus pais, os avós de Lorena, Bruna e Henrique, foram embora pelo entardecer. Manuela saiu na parte da noite, com um rapaz que ela estava conhecendo, deixando a casa livre para mim e Lorena. Ela estava em um de seus melhores dias, sorrindo, brincando... tudo aquilo me deixava muito feliz.Decidimos que veríamos a um filme juntos, mas antes, resolvemos fazer um brigadeiro de panela. Apesar de não poder se levantar da cadeira de rodas, Lorena ia me dizendo o que colocar na panela, enquanto eu tentava usar todas as minhas habilidades de cozinheiro para fazer aquilo dar certo. Depois de levar a panela ao fogo, mostrei a ela como a mistura havia ficado e ela me garantiu que o chocolate já estava no ponto:-Está ótimo! Agora é só esperar esfriar. Será que você pode pegar... -Ela se calou de repente-Pegar o que meu amor? -A olhei, mas ela parecia confusa e pensativa- Lorena, o que você quer que eu pegue? -Perguntava, mas ela não me ouvia. Parecia estar ocupada demais pensando em algo- Lorena? -Chamei por seu nome, já preocupado com sua reação-Eu não me lembro o que ia te pedir, veio e sumiu de repente -Ela disse assustada. Aquela foi a primeira vez que Lorena teve uma rápida crise de esquecimento causada pelo tumor. Dali em diante, eu sabia que as coisas só iriam piorar.

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