Capítulo 30 (Lorena)

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-Não vai atender? -Manuela disse, ao ver meu celular tocar mais uma vez
-Eu não sei -Murmurei encarando o aparelho que tocava incansavelmente.
Depois que deixei Ilhéus, fui diretamente para o Rio de Janeiro, onde Manuela me acolheu com todo o carinho. Eu ainda não tinha forças para voltar para casa, nem para responder as milhares de perguntas que iriam surgir:
-Sabe que não pode ignorá-lo pelo resto da vida, não sabe? -Manuela disse, me encarando séria
-Há, eu posso sim
-Lorena, se coloque no lugar dele! Poxa, ele deve estar arrasado, ele te ama sua cabeça dura! -Ela disse seria, pegando o telefone da mesinha de centro e o entregando a mim- Agora atende e conta pra ele de uma vez por todas o que está acontecendo! -Manuela era uma pessoa legal, mas, dependendo da situação, poderia ser muito autoritária também. Peguei o telefone de suas mãos e o atendi:
-É isso mesmo que você quer? -A voz de Luan estava diferente e, na mesma hora me perguntei se ele esteve chorando. Meu Luan. Por nada nesse mundo eu queria que ele derramasse uma lágrima por mim, eu nunca quis fazer com que ele sofresse
-É o que eu quero Luan -Respondi depois do que pareceu uma eternidade
-Não Lorena, conte a verdade a ele! -Marcela insistia ao meu lado, mas eu a ignorei
-Quer dizer que eu não fui nada pra você? -Ele parecia bravo, mas ao mesmo tempo, decepcionado comigo. Uma lágrima rolou pelo meu rosto, respirei fundo e fiz de tudo para controlar minhas emoções
-Não leu a carta? Foi bom enquanto durou, mas não dava mais pra mim, Luan.
-Eu li, mas ainda não consigo acreditar. -Por quê não? Não achou que fôssemos ficar juntos pelo resto da vida, achou? -Disse, sentindo raiva de mim mesma por ter que mentir, só Deus sabe o quanto eu desejava poder ter uma vida ao lado do Luan, eu o amava!
-Por que está sendo tão grossa? -Sua voz partiu meu coração
-Porque me dói ter que ficar falando dessas coisas com você! Não quero piorar as coisas...
-Por que não me disse de uma vez o que estava sentindo? Antes de me transformar em um brinquedo? -Eu não sabia como fazer isso e eu nunca brincaria com os seus sentimentos! Foi real até o fim!
-E quando acabou? -Eu não sei -Nunca vai acabar Luan, imaginei
-Ontem a noite, quando nós fizemos amor, enquanto eu te tocava, te beijava... você já não sentia mais nada por mim? -Senti um calafrio percorrer o meu corpo, sim, nossa noite. Foi perfeito, você sempre foi, quis dizer, mas não consegui.
-Não -Respondi, sentindo as lágrimas chegarem e um grande nó na garganta- Você sempre foi maravilhoso comigo e eu quero que seja feliz
-Eu amo você -Senti sua dor e solidão
-Mas eu não amo mais você, quero que me esqueça e me deixe em paz, esta bem? -Doeu mais do que tudo ter de dizer aquelas palavras a ele, palavras que eu nunca imaginei dizer um dia
-Como quiser! Ainda vou te esquecer Lorena Montillo, escreve ai! -Ele esbravejou, desligando o telefone na minha cara. Comecei a chorar desesperadamente, havia acado de abrir mão da pessoa que me fazia a pessoa mais feliz desse mundo, da pessoa que eu mais havia amado:
-Ai amiga, o que você fez? -Manuela me abraçou com força
-Eu o libertei, Manu -Respondi soluçando
-Você poderia ter voltado atrás...
-Sim, eu poderia, mas ai estaria sendo egoísta
-Ele te amava -Ela tocou meus cabelos
-Eu também o amava, e ainda o amo -Me sentei no sofá para poder encará-la- Mas eu quero que ele seja feliz, e ele nunca vai encontrar essa felicidade ao meu lado! Ele me contou o que planejava para o futuro e eu não me encaixava nele
-Como pode ter tanta certeza? Talvez ele tivesse planejado todo esse futuro com você! Já parou parar pensar que talvez, somente talvez, nada mais faça sentido para ele?
-Não importa mais, eu vou morrer mesmo -Disse desesperançosa
-Não, você não vai morrer, tenha fé amiga! Além disso, o doutor Henrique é um ótimo médico e sei que está apenas esperando você voltar para começar o tratamento
-Eu não quero passar meus últimos dias em um hospital! Eu quero aproveitar as coisas boas da vida, eu não quero morrer, Manuela! Será que não entende? -Comecei a chorar- Eu estou fadada ao fim
-Não diga isso, eu estou aqui -Manuela me abraçou- Preciso que você fique bem, assim como sua família precisa! Não posso te perder, Lo! Você é mais do que uma amiga pra mim -Ela começou a chorar
-Independente do que aconteça, sempre seremos amigas, sempre Manu! -A apertei com força, enquanto chorávamos juntas.A noite, depois que fizemos pipoca doce e nos sentamos juntas na sala para ver filme, tentamos esquecer todas as coisas ruins que estavam acontecendo, pelo menos, enquanto estivéssemos juntas. Depois do filme, Manuela foi para o seu quarto e eu fui para o quarto de hospedes, o mesmo em que havia dormido com Luan. Assim que entrei, uma melancolia me invadiu, me fazendo lembrar dos momentos que havia tido ali com o Luan. Sorri me lembrando de cada detalhe. Apesar de haver um vazio enorme no meu coração, eu sabia que Luan ficaria bem. Ele era um homem incrível, o melhor que eu já havia conhecido, era engraçado, companheiro, romântico e muito atraente -sorri ao me lembrar do seu corpo perfeito. Mas eu não me arrependo de nada, não me arrependo de tê-lo conhecido e de ter me apaixonado perdidamente por ele, de tê-lo amado mais a cada segundo e de no fim, ter abrido mão do nosso amor para que ele fosse feliz, para que encontrasse outra mulher, se casasse e tivesse filhos com ela, porque sabia que se ele estivesse bem, eu também estaria.Na manhã seguinte, me despedi de Manuela e voltei para São Paulo, eu adorava ficar com minha amiga, mas não queria preocupá-la com meus problemas, além disso, eu queria aproveitar minha vida ao máximo, não queria que ninguém soubesse que estava doente, nem queria ter que ficar indo ao hospital regularmente, não queria que as pessoas tivessem pena de mim.
Por isso, tratei de comprar um apartamento e me mudar para ele o mais rápido possível, eu amava minha família, mais se continuasse perto deles, sabia que poderiam desconfiar e tudo iria por água abaixo, apesar de não terem aprovado, foi melhor assim.Pouco tempo depois já estava no meu apartamento, ainda trabalhava, fazendo fotos para revistas, apesar de saber que havia emagrecido muito e andava muito abatida, não havia desistido do meu sonho de ser atriz. Minhas dores de cabeça também eram mais frequentes e não havia remédio no mundo que conseguisse fazer essa dor parar, as vezes eu me esquecia de coisas simples e mudava de humor rapidamente, nesses dias, passava o dia inteiro trancada em meu quarto, deitada na cama, alheia a tudo o que acontecia no mundo. Felizmente, hoje não era um desses dias. Estava na sala folheando uma revista com o meu último ensaio, apesar da minha magreza, a maquiagem havia dado conta do recado e as fotos haviam ficado boas. Estava distraída, quando alguém bateu a porta:
-Já vai! Gritei me levantando do sofá e indo até a porta. Quando a abri, fiquei completamente surpresa:
-Luan? O que você está fazendo aqui? -Engoli em seco. Ele estava encostado no portal da porta e se virou rapidamente ao som da minha voz. Ele estava sério e assim como eu parecia abatido, havia olheiras em volta dos seus olhos e seu semblante estava mais triste do que nunca:-Temos que conversar -Ele murmurou, me encarando. [...]


Chuvas de ArrozOnde histórias criam vida. Descubra agora