Capítulo 33 (Lorena)

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Depois de receber a notícia de que teria que fazer quimioterapia logo pela manhã, Luan passou a noite toda em claro comigo, me consolando e secando minhas lágrimas. Eu não sei se eu estava preparada para encarar tudo aquilo, mas depois que eu vi a forma como minha família havia ficado ao saber da minha doença, eu resolvi enfrentar tudo por eles e por Luan também, ele estava sendo tão maravilhoso comigo, me curaria por ele também.
Havia chegado cedo ao hospital para começar com a quimioterapia, fui recebida por uma enfermeira que me levou até uma sala, onde haviam várias pessoas sentadas em poltronas fazendo o tratamento. Me sentei em um poltrona e depois de colocar uma agulha na minha veia, a enfermeira injetou o conteúdo quimioterápico:-Fique tranquila querida, em algumas horas você poderá ir -Ela sorriu simpática para mim
-Obrigada -Respondi tristonha
-Aliás, acho que alguém quer te fazer companhia -Ela desviou seu olhar para a porta e quando olhei também, vi Luan com uma máscara encostado na parede, esperando autorização para entrar. A enfermeira acenou para ele, que começou a caminhar em minha direção, enquanto ela se afastava lentamente:
-Pensei que não pudesse ficar aqui comigo -Sorri, feliz por ele estar ali
-As enfermeiras disseram que não haveria problema, desde que eu usasse isso -Ele apontou para sua máscara, se ajoelhando ao meu lado:-Meu pai já chegou?
-Conversei com ele agora à pouco e ele disse que já estava à caminho. Como se sente? -Ele murmurou atencioso
-Por enquanto, bem.
-Ei, eu estou nessa com você, não esquece tá?
-Não tem como esquecer o que você está fazendo por mim, Luan. Obrigada -Lentamente ele tirou sua máscara- Luan? -Olhei para ele em reprovação
-É que eu não posso te beijar com isso -Ele riu, se aproximando rapidamente para me dar um selinho
-Senhor, coloque a máscara, por favor, os medicamentos usados aqui são muito fortes! -Uma enfermeira chamou nossa atenção. Quando ela se deu conta que se tratava do Luan, ela ruborizou levemente, enquanto ele colocava a máscara de volta. Ela ficou alguns instantes nos olhando e depois saiu de mansinho, enquanto eu ria em silêncio.
-Acho que você deixou a enfermeira sem graça -Disse para ele
-Por que diz isso?
-Talvez porque ela tenha ficado da cor de uma rosa -Ri
-Eu mau olhei para ela! -Ele contestou
-E precisa? -Olhei rapidamente ao redor da sala e percebi que várias pessoas olhavam discretamente para nós, a maioria eram mulheres. Luan pareceu notar e riu da situação
-Só estão olhando porque estão vendo o "Luan Santana" aqui -Ele disse indiferente
-Ou talvez estejam se perguntando o que alguém como você estaria fazendo ao lado de uma garota como eu -Luan pareceu refletir um pouco sobre aquilo e depois respondeu
-Sabe o que eu responderia a essas pessoas? Que eu estou ao lado dessa garota, porque ela é a única mulher que eu amo no mundo todo e que eu vou estar sempre do lado dela, aconteça o que acontecer-Luan segurou minha mão, a apertando com força
-Eu te amo -Sussurrei
-Te amo também -Ele disse, piscando para mim.Meu pai chegou pouco tempo depois, passou ali para me ver e depois desapareceu, dizendo que iria conversar com o Dr. Henrique.
Luan não havia saído do meu lado para nada e depois de algumas horas, a enfermeira me liberou, no dia seguinte teria que voltar de novo:
-Vamos, vou te levar pra casa -Luan me ajudava a caminhar pelos corredores do hospital. Eu estava me sentindo esquisita, parecia fraca e acho que se o Luan não estivesse me segurando, teria caído no chão. Senti meu estômago se revirar e assim que chegamos ao estacionamento eu não aguentei. Me soltei de Luan e corri até um canto mais escondido, onde vomitei tudo. Segundos depois Luan já estava ao meu lado, segurando meu cabelo para que este não se sujasse. Foi constrangedor saber que meu namorado havia acabado de presenciar uma cena daquelas:
-Me desculpe -Disse chorando, evitando olhar para ele
-Tudo bem, Lorena, não tem que pedir desculpas, isso é normal. Vem, você precisa se limpar -Luan me levou até o banheiro feminino que havia ali no estacionamento. Ele entrou junto comigo, ignorando todas as regras. Havia uma moça lá dentro, que ficou completamente confusa quando o viu entrar junto comigo, mas sem questionar nada, ela apenas saiu em silêncio. Luan pegou em minha cintura e me ajudou a sentar na pia, pegando um papel toalha e o molhando logo em seguida, o deslizando lentamente por meu rosto e logo depois por meus lábios:
-Prontinho, tá linda de novo! -Ele sorriu, jogando o papel no cesto
-Que vergonha -Sussurrei. Lágrimas ainda corriam pelo canto dos meus olhos
-Falando assim, até parece que ninguém passou por isso. Já te contei da vez que eu sai pra beber com o Rober? -Ri, ele já havia me contado aquela história- Aquilo sim não foi bonito -Ele brincou- Você está fazendo quimioterapia amor, isso é totalmente normal -Ele levou uma de suas mãos até meu rosto, o alisando cuidadosamente-Pelo menos, até seu corpo se acostumar com o medicamento.
-Mesmo assim, não queria que você tivesse que ter visto isso -Disse sem graça
-Como se nós não fôssemos namorados, né? Lorena, você é a minha mulher e eu sou o seu homem, não temos que ter vergonha um do outro
-Sua mulher? -Olhei para ele desconfiada
-Bem, não oficialmente, mas um dia vai ser -Ele disse, dando de ombros e me encarando fortemente- Eu quero que seja minha para sempre Lorena Montillo, eu te amo mais que tudo nesse mundo -Ele murmurou, aproximando seu rosto do meu e sem me deixar dizer nada, ele me beijou com todo o carinho e amor do mundo. Levei minhas mãos até seus cabelos, o puxando lentamente para mim. Segundos depois ele parou me olhando, seus olhos brilhavam, exalando todo o amor que ele sentia por mim, todo o desejo- Me promete que vai ficar boa? -Ele murmurou e pela primeira vez desde que havia lhe dado a notícia, vi seus belos olhos castanhos se enxerem de lágrimas
-Eu prometo -Disse e uma lágrima escapuliu de seus olhos, ela correu até o canto de sua boca e com o meu dedo polegar eu a sequei- Vou ficar boa por você - Disse e ele me abraçou com força, desabando sobre meu ombro, chorando tudo o que tinha para chorar. Não o culpo, era um peso muito grande para se carregar:
-Vocês não tem vergonha? -Uma voz veio da porta e quando olhamos para ela, vimos uma mulher de mãos dada com uma criança, só então me toquei de que ainda estávamos no banheiro feminino e que Luan com certeza não deveria estar ali- Não olhe querida! -A mulher tapava os olhos da sua filha- Vou chamar os seguranças agora! -Ela saiu gritando. Luan me olhou com seus olhinhos vermelhos, mas havia um sorriso grande em seus lábios:
-Acho melhor irmos -Ele disse pegando em minha cintura e me ajudando a descer da pia. Enquanto corríamos até o carro, ríamos igual duas crianças.Luan me levou até o meu apartamento. Eu estava cansada, já estava tarde e eu ainda não havia comido nada, nem Luan, que havia ficado esse tempo todo junto comigo. Luan ficou ali pela cozinha e eu fui até meu quarto, onde tomei um banho e me joguei em minha cama, ainda conseguia sentir o cheiro do remédio solto pelo ar, mesmo que ele estivesse apenas na minha cabeça.
Estava deitada, quase pegando no sono, quando Luan entrou no quarto, com dois copos:
-O que é isso? -Perguntei me sentando na cama, enquanto ele se sentava ao meu lado
-Você disse que não queria almoçar, eu achei dois abacates na geladeira e decidi fazer um creme de abacate pra gente -Ele disse me entregando um copo
-Eu agradeço Luan, mas eu estou me sentindo muito enjoada
-Eu sei que está meu amor, mas você tem que engolir algo, por mim -Peguei o copo de suas mãos e o bebi. Estava uma delicia, mas meu estômago queria rejeitar tudo.
-Você já almoçou? -Perguntei preocupada, entregando meu copo a ele
-Fiz um sanduíche com o que encontrei na sua geladeira -Ele sorriu
-Luan, você tem que se alimentar, eu não vou me perdoar se você ficar doente
-Eu estou bem, Lorena -Ele murmurou, mas pela cor de sua pele sabia que era mentira
-Por que não vai para a casa dos seus pais? Ficar com eles e descansar um pouco?
-E você vai ficar sozinha?
-O que tem? Eu vou ficar bem
-E se você precisar de mim?
-Não precisa se preocupar Lu! Susi disse que viria com meus avós me visitar hoje e provavelmente ficarão o resto do dia aqui, não estarei sozinha -Peguei em sua mão- Você já fez muito por mim, precisa descansar agora. Além disso, quero que você volte a fazer seus shows, suas fãs sentem saudades.
-Eu sei, mas Lorena... -Antes que ele pudesse continuar, lhe dei um beijo casto
-Eu sei que você quer me ajudar Luan, mas não precisa parar a sua vida por mim, você entende? -Ele balançou a cabeça em afirmação-Tudo bem -Ele se levantou-Se sua família perguntar por mim, diga que estou bem, tá? -Ele fez que sim com a cabeça e saiu do quarto. Continuei deitada em minha cama durante um bom tempo, olhando para o teto e tentando imaginar o que seria da minha vida dali adiante. Resolvi me levantar e tomar um pouco de água na cozinha, minha garganta estava seca. Assim que passei pela sala, não pude controlar o sorriso que surgiu de repente em meus lábios. Luan dormia tranquilamente no sofá, me aproximei notando sua respiração constante e o seu peito subindo e descendo lentamente. Ele não havia ido para a casa dos seus pais, mesmo depois de eu ter insistido para ele fazer isso, ele não me deixou. Ele continuou ali, comigo. O sofá era bastante espaçoso, me aproximei e me deitei apertadinha com Luan. Ele acordou, me lançando um sorriso acolhedor, me envolvendo em seus braços e me dando um beijo no rosto. Voltando a pegar no sono segundos depois. Eu não sabia como seria o meu amanhã, mas de uma coisa eu tinha certeza, enquanto eu tivesse o Luan, tudo ficaria bem.


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