Capítulo 27 (Lorena)

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-Você tem um tumor no cérebro Lorena, isso explica as dores de cabeça que você vem sentindo com certa frequência, mas ainda não sabemos o tamanho deste tumor - Dr. Henrique dizia, me explicando cada detalhe daquele exame

-Eu vou morrer, não vou? -Disse o encarando ainda perplexa com a noticia que ele havia me dado

-Não diga isso Lorena...-Mas a uma grande possibilidade, não há? -O encarei-Não posso te dizer nada agora, só quero que intenda que vai ser preciso que você tenha paciência, vamos fazer mais alguns exames e depois vamos diagnosticar a melhor forma de tratamento para você-Não, minha família não pode saber que eu estou doente-Mas você terá que dizer a eles, você tem que começar um tratamento o mais rápido possível, isso pode salvar a sua vida Lorena!-Eu já estou morta doutor -Me levantei da cadeira, caminhando até a porta para sair da sala-Por favor, me deixe te ajudar! -O Dr. Henrique veio atrás de mim, tentando me convencer a mudar de ideia-Eu sei que a doença que eu tenho é grave, principalmente na região em que ela se encontra! -Me virei para ele o encarando séria- Não sei se esse tratamento vai fazer alguma diferença-Você acha que não, talvez faça -Ele disse firme- Vai desistir agora? -Eu não sei o que fazer, só me de alguns dias, ok? -Tudo bem -Ele disse colocando as mãos dentro dos bolsos do jaleco- Estarei te esperando-Como sabe que vou voltar?-Uma mulher como você não vai simplesmente desistir, você vai lutar e eu vou te ajudar nesta batalha -Ele disse e com um maneio de cabeça eu deixei a sala dele. Enquanto caminhava pelos corredores daquele hospital, sentia minha garganta se fechar em um nó. Apressei os passos, até que finalmente cheguei ao estacionamento. Quando já estava finalmente dentro do meu carro, apoiei minha cabeça no volante e chorei feito uma criança. Eu estava doente e sabia que era grave. Não poderia contar a minha família, eles ficariam loucos! Há não, ainda tinha o Luan, o que eu iria dizer a ele? Dizer a verdade e mentir que tudo ficaria bem? Dizer que eu tinha câncer, mas que ele não precisaria se preocupar que eu iria me curar e ter uma vida próspera ao lado dele? Sabia que se escolhesse qualquer umas destas opções não estaria mentindo somente para ele, como também estaria mentindo para mim mesma. Por que eu? Havia planejado tantas coisas para a minha vida e agora, gradativamente, de uma hora para a outra, tudo parecia estar mais distante do que nunca. Aquela conversa que havia tido com Luan sobre o futuro que queríamos, parecia nunca ter acontecido. Meu sonho de ser atriz, casar, ter filhos, uma casa... Tudo parecia estar sendo destruído junto com as lágrimas que salpicavam dos meus olhos.Não sei quanto tempo fiquei ali, mas minhas lágrimas pareciam não ter fim e a cada probabilidade de eu nunca conseguir acumular o número de memórias que as demais pessoas da minha idade acumulariam me fez perceber o quanto a vida as vezes gostava de nos pregar peças e de puxar o nosso tapete, nos derrubando literalmente de cara no chão.Como que para me deixar ainda pior, meu telefone começou a tocar. Era Luan. Droga! Ele iria perceber na hora a minha voz de choro, eu não podia conversar com ele agora, não no estado em que eu estava. Deixei que o telefone tocasse até cair e depois mandei uma mensagem para ele, dizendo que estava ocupada e que telefonaria mais tarde.Susi também ligou, perguntando se eu não almoçaria em casa, apenas mandei uma mensagem, dizendo que iria comer fora e que ela não me esperasse. Não almocei, apenas permaneci ali, parada, esperando que o meu próprio destino me destruísse. Quando estava a ponto de explodir, telefonei para Manuela, que me atendeu ao segundo toque:-Se você não sabe, as pessoas trabalham -Ele disse brincando do outro lado da linha, mas parou ao perceber o tom da minha voz-Manu -Dizia chorando-Lorena? O que aconteceu? Você está bem?-Eu estou morrendo Manu -Dizia entre soluços. Minha amiga parecia ter ficado louca do outro lado da linha, me pedindo para manter a calma e explicar a ela exatamente o que estava acontecendo. Por mais que fosse difícil, contei a ela tudo o que estava acontecendo e assim como eu, ela parecia ter ficado em choque, começando a chorar junto comigo também:-Eu não sei o que fazer Manu -Dizia aos prantos-Ai amiga -Ela soluçava- Por mais que seja difícil, você vai ter que aceitar e fazer esse tratamento, é a sua vida que está em jogo, lembra?-Eu não sei se tudo o que planejei faz mais sentido agora-Lorena, você pode se curar, você tem que ter fé, tem que acreditar. Sua família já sabe?-Não, não sei se vou conseguir contar a eles-E o Luan? -Não, também não. Não acho que ele vá querer uma mulher doente, a beira da morta, ao lado dele-É você que está dizendo isso! O Luan te ama e você sabe muito bem disso! -Não sei se o nosso amor é tão forte a ponto de conseguir superar tudo isso-Não quer vir aqui pra casa? Você pode desabafar comigo, se quiser-Eu adoraria Manuela, acredite, você é a única pessoa que consegue ouvir uma coisa dessas e não pirar -Disse-Só não pirei porque tenho fé e sei que você vai conseguir passar por tudo isso e ficar bem. Aliás, quem aturava uma amiga chata e bêbada nas festas e mesma de saco cheio não enlouquecia? -Ela riu pela primeira vez depois que lhe dei a notícia-Eu -Sorri para mim mesma-Então eu também não vou enlouquecer.Depois da conversa que havia tido com Manuela eu já me sentia bem melhor. Não extraordinária, mas aceitando mais bem a notícia. Não que eu não estivesse em choque, porque estava. Quando voltei para casa, já se passavam das 18:00 horas, havia passado a manhã e a tarde toda fora de casa. E meu subconsciente procurava uma maneira fácil de ver minha família sem desabar na frente deles:-Lorena, aonde estava? Estávamos preocupados! -Susi me abraçou assim que abri a porta para entrar em casa-Desculpe, meu celular ficou sem bateria, estava com umas colegas-Que colegas?-Ué Susi, colegas -Disse cabisbaixa-Chegou bem na hora querida! Estou preparando lasanha, já que sei que você adora! -Ester disse vindo da cozinha-Eu também gosto de lasanha -Olavo, meu avô, disse sentado na poltrona, lendo alguns documentos do hospital-Mas você sabe muito bem que esta está sendo feita especialmente para a Lorena -Ester o corrigiu- A propósito, deve estar quase pronta -Tá, eu... eu vou subir e tomar um banho, daqui a pouco eu desço-Você está bem filha? -Susi acariciou meu rosto- Parece pálida-Impressão sua, eu estou bem -Disse contendo as lágrimas que pareciam querer escapar. Me virei rapidamente e subi as escadas indo em direção ao meu quarto. Tranquei a porta e fui diretamente em direção ao banheiro, parando por alguns instantes em frente ao espelho para me observar:As lágrimas vieram instantaneamente e eu me despi, indo em direção ao chuveiro. Durante o banho, deixei que minhas lágrimas se misturassem com a água que corria pelo meu corpo. Sai de lá alguns minutos depois, me vesti e me joguei em minha cama, chorando desenfreadamente. Como eu poderia jantar com a minha família daquele jeito?Meu telefone começou a tocar, era Luan e desta vez, eu teria que atendê-lo, mesmo que ele descobrisse tudo. Talvez Manuela estivesse certa, talvez eu deveria contar tudo a ele:-Alô -Disse tentando me controlar-Oie amor! -Ele disse animado e sua animação quase me fez chorar- Pode falar agora?-Claro-Sua voz está diferente... Estava chorando? -Bingo! Ele nunca errava-Briguei com Susi -Menti-Devo me preocupar? -Não, foram os mesmos motivos de sempre, pode ficar tranquilo -Ele se manteve alguns segundos em silêncio- Você queria me dizer algo? -Puxei assunto, se ficasse muito calada, ele saberia que eu estava mentindo-Você tem lido as fofocas que andam saindo?-Eu estava, mas parei quando suas fãs começaram a dizer que eu estava ficando com você apenas por interesse e que isso só iria durar até eu conseguir um papel de destaque na TV -Ri, tentando parecer descontraída-Nem todas são assim, te garanto-Eu sei, apenas as maldosas, tem as boazinhas, que dizem que eu tenho sorte por ter conhecido o Luan Jr e tals, afinal, quem é Luan Jr? Por que se for seu filho, você ainda não me apresentou, ou pior, não me disse que tinha filho -Luan caiu na gargalhada do outro lado da linha- Por que está rindo?-Você já conheceu o Luan Jr, amor-Não que eu me lembre -Não estava entendendo nada-Não se lembra dele? Claro que você já o conheceu! -Onde eu o vi?-Ué, no barco, lá no Mato Grosso do Sul, na nossa semana juntos no Caribe...-Ai meu Deus! Então Luan Jr é o...-O caminho para o paraíso? Isso ai! -Ele disse rindo-Será que os pais das suas fãs sabem que elas chamam... Há, você sabe! De Luan Jr?-Com certeza não! -Ele não parava de rir- Acho que é tipo um "código" que elas inventaram-Então quando elas disseram que eu era sortuda por ter conhecido o Luan Jr, elas se referiam a isso? -Disse indignada-Sim -Ai, que vergonha -Disse sem graça-Vergonha por que? Você já conhece esse carinha a algum tempo -Ele gargalhou e confesso que aquela gargalhada pareceu ter purificado a minha alma-Eu te amo Luan -Disse de repente e mais uma vez ele se calou. Aquelas palavras haviam saído de repente, como se eu sentisse que fosse a última vez que eu conseguiria dize-las a ele-Eu também te amo -Ele murmurou- Queria te ver-Eu também-Te tocar, te beijar, te amar... Queria que você estivesse aqui comigo-Eu gostaria de estar com você -Sussurrei, fechando os olhos e imaginando quantas coisas boas já havia vivido com Luan em tão pouco tempo-Quinta-feira que vem, eu vou estar em Ilhéus, na Bahia, você acha que consegue ir até lá? Nós podíamos passar um tempo juntos, porque só vou conseguir voltar para casa no final do mês-Eu vou -Disse firme- Além disso, eu tenho uma coisa muito, muito importante para te dizer -Disse consciente do que estava prestes a fazer, eu iria contar a Luan que estava doente, estava decidida a fazer isso, era a coisa certa, mas teria de ser pessoalmente-Tudo bem, vou ficar contando os dias pra te ver-Eu também-Ei?-Sim?-Quando brigar com a Susi, ou estiver com algum problema, não esquece que eu te amo tá?-Não esquecerei -Sorri, fechando os olhos, enquanto sentia uma lágrima correr gentilmente pelo meu rosto.


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