[girl almighty]

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Pensar; era o que mais fazia ultimamente. Pensar em como minha vida havia mudado em um espaço de tempo tão curto...

Dizem que quando algo nos transforma para sempre, sua vida se divide em duas partes: Antes e Depois. Após da morte dos meus pais há alguns anos atrás, minha vida nunca mais foi a mesma. Eu passei da garota sonhadora e sorridente a alguém sombrio, triste e que a alma fora consumida pela dor avassaladora da perda. Todas as minhas memórias eram pontas de fechas apontadas contra meu peito, e a cada lembrança me perfuravam cada fez mais fundo.

Mas, ultimamente minha vida tinha dado tantas voltas, que não sabia onde me situar. O convite inesperado de Simon para participar da turnê, conhecer os meninos, o que sentia por Harry. Era um terremoto emocional abalando todas as muralhas que construíra ao meu redor. E no meio desse caos, eu me encontrava perdida, desacostumada as vibrações que seguiam em sincronia com as batidas do meu coração.

Assim fitando o anoitecer eu me afundo no meu oceano infinito de pensamentos, os pés balançando debilmente na beira do palco.

Meus devaneios duram apenas alguns poucos minutos antes, pois sou arrancada deles pelo seu perfume. Um aroma suave amadeirado misturado a rosas e borboletas.

Era ele.

Fecho meus olhos, ouvindo as botas baterem contra a madeira, enquanto se aproxima. Se sentando ao meu lado, tão próximo que poderia sentir o toque da sua perna contra a minha. Queimando minha pele ao toque através do tecido da minha calça. 

-No que está pensando?- ele pergunta. Sua voz rouca faz com que minha pele se arrepie. O coração dando cambalhotas no peito. 

-Em tudo e em nada- eu respondo baixo fitando meus tênis surrados. Meu cabelo forma uma cortina negra entre nós, impedindo que  o visse pelo canto do olho.

-O quê?- pergunta a confusão na voz era evidente. Mesmo sem vê-lo, sabia que estava franzindo o cenho. Levanto o olhar dos cadarços, fitando seus olhos verdes.

-Nada- solto um sorriso fraco - Não entenderia.

Ninguém nunca entenderia.

-Então me explique-  rebate em sussurro, quase que para si mesmo.

Eu o encaro seriamente, incerta do que deveria fazer. Harry desvia o olhar para suas mãos, aparentemente nervoso. O silêncio caí, envolvendo-nos em um cobertor desconfortável de palavras não ditas e segredos guardados a sete chaves. 

A pequena porta em minha mente, onde estavam escondidas todas as memórias cortantes e pesarosas se entreabre. Mas eu a deixo assim, não luto contra as lembranças daquela noite, pois às vezes é preciso abaixar a guarda e dar minhas cicatrizes. Abrir meu coração.

- Hey - chamo sua atenção. Ele torna a olhar pra mim - No que está pensando?

-Em como você é inalcançável e misteriosa. - ele faz uma pausa e umedece os lábios rosados - E que tudo o que sei é que você teimosa, orgulhosa e canta muito bem.

- Resumiu a minha personalidade- lanço um sorriso irônico e ao mesmo tempo tristonho - E eu não canto bem eu toco bem.

- Não! - exclama frustrado passando os dedos entre os fios castanhos do seu cabelo  - Você é mais que isso.

Ele tinha razão. Por todos esses anos tenho me escondido em uma máscara, sendo alguém que não sou, construindo barreiras em minha volta. Sempre com medo de me machucar novamente.

- Então - digo depois de alguns minutos em silêncio, arqueando uma sobrancelha -  O que quer saber sobre mim?

Ele pensa por alguns instantes. Os lábios pressionados em uma linha pensativa. Era possível ver as engrenagens na sua cabeça girando como as peças de um relógio.

-Qual é sua cor favorita?- minha expressão dizia: "isso é sério"- Eu não sei o que perguntar.

- Preto - digo, por fim, com um revirar de olhos.

- É por isso que só usa calça preta? - inclina a cabeça levemente para o lado. Um gesto de pura curiosidade.

- Te pergunto o mesmo. - rio levemente - Deve ser porque tenho uma alma sombria.

- Okay. E isso foi idiota- ele revira os olhos. Mostro a língua infantilmente  como uma criança pequena.

- Quantos anos você tem? - ele bate os pés contra o palco, fazendo um barulho oco.

-20

- Não deveria estar na faculdade - franze a testa.

- Digamos que - desvio o olhar - estou de férias

- Trancou a faculdade?- me olha surpreso.

Assinto, girando os anéis nos meus dedos.

- Por quê?

- Depois da morte dos meus pais, não tinha cabeça pra nada - sussurro. Mesmo passados tantos anos a morte deles sempre seria um assunto delicado - Então meu tio me levou pra morar com ele, depois essa turnê e acabei não tendo como continuar o curso de Engenharia.

- Desculpe, eu não sabia- murmura.

-Tudo bem - eu sorrio fracamente, segurando as lágrimas que insistiam ser formar em meus olhos.

Quando me viro para encará-lo nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância. Os olhos de Harry intercalam entre meus olhos e lábios, como se pedisse permissão. Então eu o puxo para um beijo. Seus olhos de arregalam a princípio, depois de fecham, os braços envolvendo minha cintura, me puxando para perto. Sorrio nos lábios dele, inebriada. Meus braços envolvem seu pescoço. Harry abre meus lábios e explora minha boca. Nos afastamos apesar pela falta de ar, segundos antes de Louis aparecer.

- Procurem um quarto!!!- ele exclama, com uma das mãos na cintura, enrugando o nariz. Assustada com sua aparição repentina, me afasto de Harry. Sentindo um frio percorrer meu corpo pela falta de contato.

-O que houve Lou? - Harry pergunta ainda ofegante pelo beijo.

- Josh quebrou o pulso e não vai poder tocar - informa em um tom preocupado - e não temos ninguém pra substituir.

- Mas ele tá bem? - ele pergunta mordiscando o canto da boca em sinal de nervosismo.

- Tá - suspira, em um misto de cansaço e preocupação -, mas não pode fazer muito esforço.

- Acho que sei quem pode ajudar - digo

- QUEM?- perguntam em coro,  se virando para mim

...

-Não sabia que tocava bateria - comenta Liam, depois do show- E por sinal muito bem.

- Já fazia tempo que não tocava - dou de ombros, indiferente - Tive uma banda no colegial, por isso sei tocar.

- Continua sendo uma caixinha de surpresas - Harry diz, me empurrando de leve com o ombro.

- Always - cantarolo.

A.M

Eram definitivamente mais de três da manhã, mas continuávamos ali, nos encarando, sem dizer uma palavra. Enquanto ele acariciava meus cabelos. O silêncio nos envolvia dessa vez confortável, ocupando o espaço entre nós.

- Quanto mais eu penso que sei tudo de você - Harry quebra o silêncio - Mais você me surpreende.

Um sorriso molenga pelo sono se forma em meus lábios . Estávamos no seu quarto, ainda no hotel. Amanhã seria o último show da banda, e depois provavelmente nunca mais o veria novamente. Em seus olhos, sentia uma despedida silenciosa sendo feita.

- Tenha certeza de uma coisa, Hazza - murmuro - Eu te amo.

- Eu também te amo, minha mysterious girl.

[IMAGINES] LOVELYWhere stories live. Discover now