(dandelion)

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Quando criança adorava colher dentes de leão nos campos do parque ou nas frestas das calçadas, assoprava-os desejando algo de todo o meu coração. Sempre desejava a mesma coisa: Eu queria que ele voltasse.

Mas meu pai nunca voltou e o desejo de criança se desvaiu assim que um militar apareceu na nossa porta com o pesar no olhar.

Agora, meu desejos pareciam pesados demais para algo tão leve.

Andava sem presa pelas ruas do pequeno vilarejo de Homes Chapel. Meus pés me guiando em um caminho sem destino. Os pensamentos transbordando em minha mente.

Quando finalmente paro, estava em frente aos portões de ferro do cemitério. Respiro fundo, abrindo-os com um rangido enferrujado, que se assemelhava-se com um lamurio. Na parte leste do lugar, em meio a tantas outra lápides, estava a de meu pai. Era simples, mas digna. Gravadas em letras cursivas sobre o mármore branco, dizia: James Morgan. O melhor pai do mundo.

Deposito uma delicado lírio que segura em minha mãos, próximo a sua lápide, me sentando no chão logo em seguida. Lutando contra a maré que se formavam em meus olhos, me lamento com melancolia.

-Ah papai- fungo- Sinto tanto sua falta. Não tem ideia do quanto está sendo difícil sem você ao meu lado; mesmo depois de tanto tempo.

Respiro fundo.

Balanço a cabeça no intuito de afastar as lágrimas. Eu me levanto, as pernas estavam moles como gelatina e deixo meus pés me guiarem para fora do cemitério.

Eu andava distraída, me sentindo perdida, sozinha, imersa em meus problemas. Eu estava caindo, caindo, caindo, esperando chegar ao fundo do poço.

Um flash branco passa pela minha visão, e subitamente paro, girando em meus calcanhares, me deparo com um dente de leão, em meio a uma imensidão cinza de concreto.

A pequena e delicada planta me trazia memórias que com tanto custo esquecera, mas que agora rondavam a minha mente, se juntando aos meus demônios.

Meus olhos marejam, mas é inevitável deixar as lágrimas caírem. Cansada demais para segurá-las, deixo que deslizem pelo meu rosto, encharquem minha camisa e formem um rio de lágrimas.

Chorei como nunca havia chorado.

Com as mãos trêmulas e a visão embaçada, colho o pequeno dente de leão, como costumava fazer na tardes de verão, segurando-o firme, respiro fundo e desejo. Volte para mim.

Mas desta vez não pedia que meu pai voltasse, era impossível, pedi para que Harry voltasse.

Ele era minha âncora, e talvez, o único que pudesse me salvar.

Assopro. Pedindo, implorando, com todas minhas forças. Os pequenos frutos brancos dançarem no ar, sendo levados pelo vento.

Voltei a caminhar em direção a minha casa. Seus ossos cansados protestando a cada passo. Estava tão cansada que não olhava para onde estava indo. Tão cansada que nem reparei na figura em minha frente, até esbarar com ela.

O impacto do esbarrando no jogou contra a chão, produzindo um baque surdo. A pessoa me estende a mão e um pedido de desculpas. Sua voz era levemente familiar. Rouca. Doce. Uma melodia que eu poderia ouvir milhares de vezes sem me cansar.

Levantei os olhos. Meu olhar de encontrou com o dele. Um contraste de verde esmeralda e preto.

-Harry- seu nome saiu dos meus lábios suavemente, apesar da voz quebradiça.

Ele sorriu. Me abraçou. Disse que sentiu minha falta. Me convidou para tomar café.

Eu apenas assenti feliz. Afinal, meu desejo havia sido realizado.

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