[hey angel]

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Harry
Sinto meu rosto perder toda a cor e o sorriso se desmanchar sendo lavado de minha face.

Ela estava aqui na minha frente, depois de tudo o que havia acontecido. Depois de ter sumido sem avisos. Depois de ter partido meu coração. Depois de me fazer chorar por dias me perguntando o que havia feito de errado.

- Har... - começa. Cerro os punhos me contendo para não dizer tudo o que estava entalado na minha garganta há muito tempo e saio sem dizer uma palavra ou deixá-la dizer alguma coisa.

Eu precisava respirar.

Entro de forma brusca no meu carro e dirijo a toda velocidade para meu "refúgio"

E para completar Hailee, minha nada angelical anjo da guarda, aparece. Não podia vê-la pelo retrovisor, mas sentia sua presença - que como sempre se acomodava no banco de trás do carro.

Hailee tinha um sorriso sarcástico no rosto.

- Sabe a minha missão é te proteger, mas você parece que não querer cooperar- ergue uma das sobrancelhas. - A essa velocidade vai acabar se matando.

- Não enche - bufo voltando a prestar a atenção na estrada.

Ela começa a rir. Eu a olho irritado.

- O que foi?- diz secando uma lágrima no canto do olho de tanto rir - Sabe, é engraçado como vocês se apegam ao passado. Assim quando ele bate a porta reagem com se tivesse visto um fantasma.

- Não tem sentimentos - digo frio

- Não mesmo - rebate no mesmo tom de voz - Se não se lembra eu sou um anjo.

- E anjos não deviam ter asas, serem amáveis e proteger as pessoas - digo com deboche.

-Mundanos - resmunga

Então se instala um silêncio constrangedor dentro do carro que mantinha, agora, uma velocidade menor e estável.

Hailee tinha a cabeça escorada na janela e observava a paisagem correr no lado de fora. Enquanto eu mantinha os olhos atentos sobre a rodovia.

Estávamos em minha antiga casa da árvore. Sentados lado a lado, tão próximos que poderia sentir o suave toque do seu joelho no meu. Fitava a ripas de madeira no teto, contando-as.

Hailee tinha um olhar distante, pensativo. Ela girava seu pequeno anel entre os dedos, com um ar melancólico.

-Hai- eu a chamo. Ela parece sair de seus devaneios.
-O que?- pergunta. Hailee se vira ficando de frente para mim.
-No que tanto pensa?
-Nada- ela encolhe os ombros- É bobeira.
-Se quiser desabafar- digo.

Ela dá de ombros, suspirando profundamente. Parecia exausta, alguma coisa lhe afligia. O que poderia preocupar um anjo?

Decidi não perguntar nada, por mais curioso que estivesse.

-Por que vocês são assim?- ela pergunta subitamente, virando seu rosto em minha direção.

Eu me viro para Hailee com o cenho franzido.

-Do que esta falando?

-Porque se apegam tanto ao passado?

Suspiro fundo, passando os dedos pelo cabelo antes de responder ao anjo.

-Nosso passado faz parte do que somos hoje, provavelmente é por isso que nos apegamos a ele.

Hailee encosta sua cabeça contra a madeira.

-Não faz sentido - resmunga.

-Nós somos humanos não fazemos sentido, não precisamos de razões.

Ela bufa, fechando seus olhos azuis acinzentados, a testa franzida em confusão.

-Não tente entender- aconselho- só piora as coisas.

A anjo apertou os olhos, inquisitiva.

-O que quer dizer com isso?

-Por que quer tanto saber?- retruco.

Ela bufa, cruzando os braços e volta a fechar os olhos.

-Eu não sei- sussurra- Ás vezes me pego pensando em como seria se eu fosse mais como você. Se eu fosse humana. Sempre quis saber como seria se eu tivesse tido pais, crescesse, fosse à escola, me apaixonasse, casasse e tivesse meus próprios filhos.

Me surpreendia ver Hailee se abrindo, e falando abertamente sobre o que sentia. Ela sempre fora muito fria em relação a seus sentimentos.

Ao terminar de falar, a anjo parecia ter tirado um peso de suas costas, estava mais relaxada, menos tensa. O persistente franzido na sua testa sumira.

Por mais que tentasse não conseguia parar de admirá-la, era como se algo me atraísse a Hailee. Seus olhos ainda se mantiam fechados, as cascatas negras caiam em suas costas, os lábios avermelhados, contrastavam com sua pele alva. Ela era um anjo, literalmente. Se me concentrasse poderia imaginar suas asas, surgindo no meio de seus cachos, prateadas quase translúcidas, macias como seda ao toque.

Em um movimento involuntário, me aproximei. Minha mão tocou a pele macia de seu rosto, acariciando sua bochecha com o polegar. Hailee suspirou, encostando sua testa na minha. Puxei sua boca na direção da minha, mas ela desviou o rosto. Meus lábios tocaram sua bochecha.

-Não posso- fala baixinho- Anjos não podem se envolver com humanos, Harry. É proibido. Me desculpe.

Eu meneio com a cabeça, negando. Ela não tinha porque se desculpar. Não era sua culpa.

[IMAGINES] LOVELYWhere stories live. Discover now