16. Proposta - Laís

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Quando regressou de seu jantar com os antigos colegas de formatura minha mãe tinha uma expressão contente. De relance ela olhou para a caixa de pizza, suspirei ao me preparar para seu sermão e para defender que não havia nada de errado em sair da dieta saudável ás vezes. Mas Theo levantou-se apressado antes que minha mãe dissesse qualquer coisa.

— Desculpe abusar e trazer a pizza. — ele passou incomodado, as mãos na lateral das pernas ao acenar para a minha mãe. — Bem, já é tarde. Melhor eu ir.

— Laís merecesse esse agrado, às vezes. Até mais, Dr. Theo. — ela disse com um sorriso no rosto.

Eu abri a boca surpresa com seu bom humor. Pelo jeito a festa foi maravilhosa. Ou minha mãe tivera vergonha em dar seu habitual sermão diante de um médico, embora ela já me fizera passar muita vergonha na frente dos meus médicos quando íamos nas consultas.

Deixaria o inquérito sobre a festa para depois, desci com Theo até a porta de entrada do prédio. Depois de nossa noite de confidencias eu me sentia relutante em deixá-lo ir, havia dúvida em meu coração se ele ficaria bem sozinho. Eu tinha minha mãe para me acolher à noite, caso o desamparo me dominasse, mas ele não tinha ninguém a sua espera.

— A gente se vê na terça, quando eu for contar histórias? — sondei para ver o quanto ele estava bem ou não.

— Sim — ele sorriu discreto, ao entrar no carro. Eu acreditei em seu sorriso. Ele ficaria bem, meu coração se tranquilizou. — Me bipa que eu subo quando a emergência estivar mais calma.

— Até mais, Theo.

Acenei, observando o carro dele se afastar, nossos segredos compartilhados pareciam ter amplificado nossa amizade, como se houvesse passado muito tempo e nós sempre tivéssemos estado um ao lado do outro. Essa era uma boa sensação.

Entrei no elevador, refletindo como seria horrível carregar tanta culpa. A dor dele era tão palpável que me causara também dor. Quando o abracei eu só queria que ele ficasse bem, que fosse possível fazer algo para ajudá-lo. E quanto mais eu o apertava em meus braços mais eu o queria consolar. Eu fizera uma promessa a Theo, e iria honrá-la com grande gosto.

Ao entrar em meu apartamento, suspirei em busca de meu equilíbrio. Minha mãe já estava deitada, pensei que dormia, mas me enganei.

— E aí, como foi a noite com o médico? — ela perguntou com a voz arrastada pelo sono.

—Tinha pizza, isso já diz que foi boa. — impliquei. Seu sermão sobre boa alimentação seria bem aceito no momento, pois eu não pretendia comentar sobre os acontecimentos na companhia de Theo. Estes tinham um peso dramático e eu preferia que ela pensasse que meus encontros com Theo fossem algo descomplicado onde apenas rolava conversas sem importância.

— Não vou nem falar nada sobre essa tal pizza. — ela me fitou com se falasse com uma adolescente rebelde que não tem mais concerto. — Mas vê se não abusa, só por que seu novo amigo é um médico.

— Minha noite foi bem normal, — menti. Olhei-a intrigada por sua aparente calma quanto minha alimentação, percebi que algo bom acontecera na festa. Falar sobre isso seria melhor. — mas não fui eu que cheguei cheia de risinhos em casa. — Joguei o meu travesseiro em sua direção, rindo. — Quero saber tudo sobre essa sua festa. Como foi?

— Não aconteceu nada de mais, mas foi muito bom rever antigos amigos. — pelo jeito ela também não estava disposta a contar os detalhes.

— Só amigos? — impliquei. — Ah, não tinha nenhum senhor interessante?

Corações RessuscitadosDonde viven las historias. Descúbrelo ahora