25. Hospital - Laís

255 30 6
                                    

Segurava um livro repleto de figuras coloridas ao entrar no hospital. Eu havia perdido a terça-feira, mas pelo menos Claudete fora uma boa amiga e aceitou organizar as crianças na sala de recreação na quinta.

Eu ligaria para Theo quando terminasse as leituras da tarde, quem sabe poderíamos combinar um sorvete. Ainda estava desapontada por ele ter marcado plantão para o final de semana, pois não iríamos nos ver nesse último sábado. E na próxima semana, quando Cauã viesse, eu não sei como as coisas iam se desenrolar entre meu amigo e meu futuro namorado. E isso me causava preocupações.

Ao abrir a porta do elevador, surpreendi-me por avistar Theo e o Dr. Klaus saírem do acesso ao telhado e percorrerem o corredor. Era interessante o fato dele frequentar o telhado, assim como eu fizera tantas vezes. Era como se compartilhássemos mais coisas ainda do que já havíamos até então. Talvez pudéssemos combinar um piquenique algum dia ali no telhado, seria legal.

O rosto de Theo transparecia uma luminosidade contagiante ao acenar em minha direção o que me fez sorrir também. De repente todas as dúvidas sobre a quantas andava nossa amizade se dissiparam. Enquanto ele caminhava em minha direção eu podia sentir a nossa alegria emanar em comunhão.

— Eu ia te ligar agora mesmo — ele disse com espontaneidade, ao parar a um passo de mim. — Mas te contar isso pessoalmente será melhor.

— Diga logo qual é a novidade! — soltei em um suspiro ansioso. O Dr. Klaus nos observava em silêncio, com um risinho discreto no canto dos lábios.

— Hoje mais cedo o chefe do hospital me chamou em sua sala — ele sorriu, misterioso antes de terminar. Meu coração começou a batucar em expectativa, eu tinha uma ideia do que ele diria. — Bem, sou oficialmente um cirurgião novamente. E tenho minha primeira cirurgia marcada ainda para esta tarde.

A notícia atingiu meu corpo como uma onda grande demais para ser contida. Explodindo de euforia eu me joguei sobre o pescoço de Theo, o envolvi com meus braços, quase o acertei com o livro infantil que eu carregava.

— Sério, Theo! Isso é tão maravilhoso! — comemorei com um quase gritinho — Você Finalmente conseguiu sua grande coisa! Conseguiu o que tanto desejava, parabéns!

— Você teve um papel importante nisso — suas mãos em minhas costas me apartaram contra ele, eu podia sentir o calor trocado entre nós. — Obrigado — ele sussurrou.

A sua respiração assim tão perto de minha nuca me causou um arrepio. Senti-me estranha, como se fosse errado abraçá-lo daquele modo prolongado e ao mesmo tempo uma vontade desesperadora de apertá-lo com mais força.

Separei-me de Theo, afastei a mecha de meu cabelo para trás da orelha e sorri sem jeito em uma tentativa de parabenizá-lo outra vez. Havia um clima estranho no ar, não sabíamos o que dizer em seguida.

Nós nos olhávamos de relance, como se um olho no olho fosse algo a evitar. Aonde foi parar a minha naturalidade habitual quando estava com Theo? Comecei a me sentir culpada por não perguntar mais sobre sua grande conquista. Eu sentia que havia muito em meu peito para dizer a ele, mas não encontrava palavras.

Dr. Klaus pigarreou, demonstrava se afetar também com a tensão no ar. Isso pareceu motivar Theo a dizer algo.

— Preciso me preparar para a cirurgia — ele acenou já se distanciando.

— Tenha uma boa cirurgia! — desejei quando ele e seu amigo se afastavam. Theo ainda se virou para trás por alguns segundos e acenou em despedida.

Vendo-o se afastar a sensação inominável que borbulhava em meu estômago não diminuiu. Havia acontecido algo naquele corredor, algo que me deixava estranhamente desconfortável e ao mesmo tempo ansiosa para vê-lo novamente.

Talvez eu apenas estivesse emocionada por ele finalmente ter conseguido alcançar sua grande coisa. Não havia nada demais em ficar eufórica e de coração acelerado por receber uma boa notícia de um amigo, havia?

Olhei mais uma vez para a direção na qual os dois médicos tomaram seus rumos. Sim, havia algo muito errado nessa sensação em meu peito. E ele parecia ter percebido isso também.

Desde a primeira vez que fomos à sorveteria, a transformação de sua aparência física me chamara atenção. Eu não era imune àqueles olhos verdes e seu sorriso discreto, Theo era um homem atraente. Tentei que isso não ganhasse destaque em nossa amizade, mas esse abraço prolongado parecia ter mudado isso.

Isso não podia acontecer! Eu não podia misturar as coisas, deixar que nossa amizade alcançasse outro nível. Cauã logo chegaria, e eu devia ser madura o suficiente para não permitir que uma leve atração física prejudicasse meu relacionamento com meu futuro namorado. Eu não me deixaria impressionar deste modo por Theo.

Suspirei ao abraçar o livro infantil trazido e me dirigi à sala de recreação, era melhor simplesmente esquecer esse abraço prolongado e seguir com o plano.  


Corações RessuscitadosWhere stories live. Discover now