19. Luzinhas - Laís

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A última resenha colocada no blog gerou vários comentários, respondi a todos me divertia com as opiniões e anotei os pedidos para novas resenhas. Para então eu me dedicar em retirar as bolinhas de Natal da caixa.

Minha mãe havia colocado nossa arvorezinha de um metro no canto vazio entre o sofá e a parede. Não tínhamos uma coleção grande de enfeites festivos, afinal havia tantas outras coisas ocupando nossa mente nessas épocas que decoração natalina era supérflua.

Ao finalizar da montagem da árvore de Natal, gostei do resultado colorido e alegre. As luzinhas piscando davam um toque final, de certo modo, até romântico ao lugar. Acho que Cauã vai gostar, fazia o lugar onde ele iria dormir mais aconchegante.

— O que achou? — questionei minha mãe sobre a árvore quando ela passou pela sala com passos apressados, após encontrar o secador esquecido na cozinha momentos antes.

— É uma árvore modesta, mas gosto dela. — ela sorriu largo ao me abraçar. — Nem acredito que em breve será Natal! Esse vai ser um bom Natal, podemos até fazer uma festa aqui em casa.

— Uma festa? — observei-a surpresa. — Nunca demos uma festa.

— Nada grande, apenas um jantar entre amigos. — pensativa, ela andou para o quarto.

Amei a ideia, não havia planejado nada para o Natal ou Ano Novo. Contudo agora eu abraçara a ideia, já começava a pensar nas gostosuras que faríamos para a ceia e como iríamos nos divertir. Um jantar entre amigos, no qual eu estaria com meu namorado e convidaria Theo, Claudete e Dr. Emílio; minha mãe também poderia convidar seus novos amigos. Sorri ao pegar uma folha de papel e lápis para anotar tudo o que seria preciso comprar para nossa pequena festa.

Ouvi minha mãe resmungar no quarto que seu cabelo não tinha jeito de ganhar a liso desejado. Nestes últimos dias ela também agia de modo ansioso andando com passos ligeiros pelo apartamento, diferente de mim, não parecia ter ligação com a vinda de nosso hospede e sim com o novo jantar marcado com seus antigos colegas de faculdade.

Desde o primeiro encontro, ela adquiria certa alegria toda vez que o seu celular tocava. Se antes eu via minha mãe desesperada em suas coversas pelo celular, resmungando que havia problemas no trabalho para resolver ou cobranças de contas à pagar, agora ela sussurrava entre risinhos e se afastava para eu não ouvir.

Pelo jeito, ter retomado a amizade com seus antigos colegas de faculdade lhe fizera bem, e ela estava cheia de segredos. Eu torcia do fundo de meu coração que essa nova alegria dela fosse permanente.

Depois de brigar alguns minutos com o secador de cabelo, minha mãe resolveu fazer chapinha no cabelo. Eu gostava dos seus cabelos naturalmente selvagens, contudo ela estava nervosa com o jantar por isso nem disse nada. Concentrei-me em preparar uma torta de maçã para acompanhar a sessão de filmes.

Cortando as maçãs, sorri. Cozinhar havia alcançado um status de boas pequenas coisas desde que comer passou a ser um prazer e não uma junção de itens em uma lista feita pela nutricionista.

Ao pegar uma nova maçã vi a discreta cicatriz em minha mão. Essa coisinha pequena causara grande dor física, mas fora a responsável por alguém especial entrar em minha vida. No fim, ter entrado naquela sala 12 foi bem mais do que uma pequena coisa. Ganhar um novo amigo era definitivamente uma grande coisa.

Tudo estava tão diferente do ano anterior, na verdade de minha vida inteira. Eu nunca pensei que um dia eu fosse esperar um namorado chegar, ou que eu tivesse outro grande amigo que não fosse Cauã. Ou ainda que iria organizar uma festa de Natal.

Eu só esperava que Cauã gostasse também de Theo, pois eu tinha grandes planos de fazermos muitos passeios em conjunto. Cauã não era fã dos outros médicos e nem enfermeiras, pois os considerava velhos que só entendem de doença e nada sobre a vida. Eu discordava dele, pois Claudete e Dr. Emílio haviam me ensinado muito sobre a vida, sobre compaixão e sobre as pequenas boas coisas.

Mas Theo era mais jovem e, depois que abandonou seu estado de total desamparo, era uma agradável companhia. Talvez Cauã percebesse tudo isso quando eu o apresentasse a Theo e aceitasse sua amizade.

— Laís, preciso de ajuda com a chapinha! — a voz de minha mãe me convocou, afastando-me dos pensamentos sem sentido que se embolavam em minha mente.

Provavelmente minha ajudainexperiente seria um desastre e minha mãe acabaria tendo que ir com o cabelopreso em seu jantar, porém a novidade de auxiliá-la a se arrumar causava-mecerta euforia e eu aceitei o desafio.    


Corações RessuscitadosWhere stories live. Discover now