Capítulo 1

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Lisa

Eu sou uma garota comum, nada de excepcional, mas pelo menos sou divertida, tirando meu gênio, é claro. É o que dizem.
Trabalho em uma casa noturna. Sou a garota das bebidas, sirvo o pessoal no balcão; sou a bartender. As vezes sou obrigada a chamar meu amigo, Felipe, o "pequeno" armário que assume o papel de segurança da casa. Sempre tem um engraçadinho pra ter que botar pra fora, por não se comportar, não que eu não de conta, sou geniosa.
Mas não sou muito grande, tenho 1,60 de altura, sou ruiva natural, de cabelos longos, belas curvas e seios fartos. Segundo a descrição da minha melhor amiga. Porém não arrumo muitos namorados, por causa do meu temperamento, mas também não sou muito importunada.
Hoje a casa está lotada, acho que a noite das fantasias está bombando. Claro que até nós, funcionários, temos fantasias padrão, isto é, iguais.
Nós as garotas, estamos todas usando espartilhos de época, somente com cores diferentes. E os homens, com ternos de época do ano 1800. Até que estou gostando disso, mas parece que os clientes também, demais até.
Acho que eles não entendem o que significa "olhe, mas não toque."
Estou começando a sentir os efeitos de permanecer tanto tempo em pé. Não parei de preparar bebidas desde a hora que abriu e preciso urgentemente de um cigarro.
Olho para o lado e vejo minha única e melhor amiga, Carol, trabalhando a doidado, mas sem tirar os olhos da entrada. Seus olhos brilham e não é difícil imaginar o motivo. Ela e Felipe estão tão apaixonados que embrulha o estômago. Gosto muito dos meus amigos, mas as vezes eles me fazem vomitar arco-íris.
Eu realmente estava precisando tirar uns minutos para descansar, minhas pernas estão me matando, sem contar que pelo tanto que bebi, já deveria ter ido ao banheiro faz tempo.
Não sou alta, então os sapatos de salto me caem bem, mas isso não significa que gosto de usar essa porcaria.
Dificulta a beça andar de saltos altíssimos, pelo meio de um bando de desconhecidos aglomerados e com um bocado de álcool no cérebro.
Dane-se a quantidade de pessoas esperando para encher mais a cara. Vou sair agora.
Faço sinal para Felipe, que está na entrada, para que fique de olho no bar, mais do que ele já está, é claro, e aviso a Carol que preciso muito ir até o banheiro e fumar pelo menos três cigarros. Abro a meia porta ao lado do bar e saio me equilibrando ao meio daquele mar de pessoas dançando e bebendo. Vou por um pequeno corredor, paralelo ao bar, onde tem um banheiro apenas para funcionários. Termino, lavo minhas mãos, ajeito a maquiagem e volto pelo corredor e me encaminho para a saída, vivo falando para a Amanda, dona da casa, que deveria haver um lugar reservado apenas para fumantes, mas a pessoa nunca me ouve.
Dou uma piscadela ao passar por Felipe na porta e saio para o vento gelado da noite, que me atinge em cheio, me fazendo soltar palavrões. Isso era bem claro que iria acontecer, saí sem pegar meu longo casaco.
Tiro o maço de cigarros, mais que amassados, do meio dos meus seios e meu isqueiro, ascendendo o primeiro cigarro.
Não me distancio muito da porta, pois ao redor está cheio de pessoas fumando, incluindo uns caras que parecem me comer com os olhos.
Olho para a direção em que eles estão me secando e reviro os olhos. Homens! Não podem ver um par de peitos e belas pernas, que ficam babando.
Acendo o segundo cigarro e quando levanto a cabeça, vejo um cara parado a minha frente, com um sorriso torto e ele cheira a muita bebida. Ele é uns bons trinta centímetros mais alto, e olha que estou de salto alto. Faço a cara mais marrenta que tenho e o encaro, olhando direto dentro dos olhos.
_ O que você quer? _ pergunto com a voz áspera.
_ Me arruma um cigarro desse aí? Deve estar gostoso, considerando de onde saiu. _ ele se inclinou na minha direção e na hora meu sangue ferveu.
_ Você só pode estar brincando! _ e antes de raciocinar, fechei minha mão e dei um belo soco de direita em sua mandíbula, mas não tão belo assim pelo visto, pela dor lacerante que senti.
Ele caiu com todo o seu tamanho, perdendo a consciência, enquanto eu me curvava de dor. Puta merda! Acho que quebrei meus dedos!
Lágrimas escorregam dos meus olhos sem a minha permissão e percebo que os amigos dele se aproximaram, dizendo frases ofensivas para mim. Olhei para a porta e avistei Felipe vindo em minha direção e com sua pior cara possível, fazendo os imbecis recuarem.
_ Essa maluca acertou nosso amigo e ele está desmaiado.
_ E por que exatamente ela fez isso? _ Pergunta Felipe de cara feia.
Dois deles colocaram o cara caído dentro de um carro e saíram, enquanto os outros três ficaram nos encarando, e um deles cuspiu as palavras.
_ Prenda essa cadela! Sua cadela precisa ficar em um canil.
_ E vocês de umas porradas. Dêem o fora. Vão andando, nada de tumulto e nada de se aproximar da garota. _ ele se virou para mim e suavisou as feições. _ O que houve, Lisa?
Ainda engasgada com a dor, tentei responder, mas não precisei. Ele olhou para a mão que eu segurava, deu um pequeno sorriso, suspirou e me levou de volta para dentro da boate.
Entramos para o lado de dentro do bar e ele pegou uma toalha de limpar o balcão, enrolou em uma pequena quantidade de gelo e colocou sobre a minha mão. Eu senti queimar. Lágrimas escorriam dos meus olhos, enquanto eu prendia a respiração.
_ Ninguém nunca lhe ensinou a dar um soco direito, garota? _ Pergunta Felipe com preocupação, enquanto Carol surta ao meu lado.
_ Meu Deus! O que você fez dessa vez, Lisa?
_ Eu preciso ir para o hospital, acho que quebrei alguma coisa. Felipe, por favor, chame um táxi para mim!
Ele faz o que eu peço e me leva lá para fora, assim que o carro chega.
Eu entro, digo para onde o taxista deve me levar e ele arranca com o carro. Chegamos bem rápido até, tiro o dinheiro da bolsa, pago e entro na ala de emergência do hospital mais vazia que eu já tinha visto. Acho que o efeito de toda a tequila que bebi, está começando a passar, já que comecei a sentir a dor aumentar.
Chego ao balcão e o recepcionista me olha como se estivesse nua. Acho que vou ter que quebrar o resto da minha mão na cara dele.
_ Pois não, gracinha?
Olho para mim e percebo qual é o problema. Ainda estou com a fantasia de época, ou a falta dela. Um espartilho com uma micro saia Pink, meia arrastão Preta e saltos altos, Pink também.
É claro, no calor do momento, esqueci completamente de pegar meu casaco que cobriria tudo e evitaria olhares como esse, que o recepcionista imbecil está dirigindo à mim.
_ Preciso de atendimento e de uns raio-X.
_ Preencha esse formulário e pode aguardar ali, na ala de espera. _ realmente tenho vontade de socar a cara dele, será que ele não percebeu que a mão machucada é a direita e eu não sou canhota?!
_ Querido, não sei se você percebeu, mas minha mão está machucada e não sou canhota. Preencha você a droga do formulário!
_ Qual é o problema? Não há necessidade de gritar.
_ É claro que há! _ Esqueço da mão e bato com o braço em cima do balcão e isso me faz gemer e me contorcer de dor. Solto um par de palavrões.
_ Tudo bem, ruivinha. Me passa seus documentos que vou ajudar. _ ele dá um sorriso torto, me olhando de cima a baixo. Isso faz meu sangue ferver.
_ Vou quebrar o resto da minha mão na sua cara! _ eu termino de dizer isso, em voz alta, (para não dizer que eu estava gritando ) e o médico aparece.
_ Isso aqui é um hospital, não lugar para gritos. Qual é o problema?
Me viro para ele enfurecida agora. Mas ele vê a minha mão e arregala os olhos. Olho para a direção do seu olhar e percebo que minha mão está com uma cor esquisita e inchada.
_ Essa garota precisa de atendimento, mas não preencheu o formulário. _ diz o recepcionista idiota.
_ Estou vendo os documentos dela em cima do balcão, faça a gentileza de preencher com o que tem e escreva o que faltar depois. Na saída a gente resolve. Ela vem comigo agora. _ ele não esperou que eu me pronunciasse, simplesmente, me segurou pelo braço e me levou para uma sala de exames.
Olhei para o crachá com seu nome que dizia "Dr.Luiz Azevedo". Ele tinha belos olhos verdes e cabelos louros escuros. Ele até que era bonito, e era alto, mas pra mim, quem não era?
Ele me fez sentar em uma maca para me examinar, e bem que tentou ser discreto ao me olhar, mas admito que com tão pouca roupa, fica mesmo difícil.
Ele segurou em meu braço e eu gemi.
_ Humm... Por favor, está doendo...
_ É claro que está, querida, você tem dois dedos quebrados aí. Se incomoda em me dizer como conseguiu isso?
_ Soquei a cara de um idiota. _ ele olhou para mim e deu um belo sorriso.
_ Bem, considerando o tamanho das suas unhas... E aposto que ninguém te ensinou a dar um bom soco, certo?
_ Não. Todo mundo está me dizendo isso. _ revirei os olhos.
Ele fez raios-X e observou a chapa confirmando dois dedos quebrados. Me receitou remédios para a dor, colocou talas em meus dedos e enfaixou minha mão, colocando um pequeno bilhetinho em meio as faixas, com mais um de seus belos sorrisos.
Fingi não ter visto, e fiz questão de não ver, até chegar em casa.
Passei pela recepção, peguei a porcaria dos meus documentos, mostrei o dedo do meio para o recepcionista e com o celular na mão, liguei para chamar um táxi.
Fui direto pra casa e sem se preocupar em trocar de roupas ou tomar um banho, caí direto em minha cama e mergulhei em um sono profundo, dormindo igual uma pedra.

Acordei atrasada. Durante o dia eu faço a administração da boate, faço a contabilidade. Tenho uma pasta com tudo organizado, isso ajuda muito, ainda mais com a mão desse jeito.
Isolo minha mão, pra não mecher nela enquanto tomo banho, pois não vou ter tempo de tirar as faixas e mesmo assim, não posso molhar as talas. Maldito idiota, e eu burra por nem saber dar um único soco, sem me machucar.
Tento ser rápida no banho, mesmo com apenas uma mão. Escovo os dentes e saio correndo para o meu quarto, para me vestir. Com dificuldades, mas, né, fazer o que? Coloco um vestido simples, estilo tubinho, Preto, até os joelhos, mas com um decote que favorece meus seios. Até parece que tudo não favorece meus seios.
Coloco um par de sapatos, vermelhos, de saltos altos e tento secar meus cabelos no secador, modelando como posso os cachos das pontas. Não entendo porque eles não podem ser inteiros lisos. Assim que termino, o resultado até que é aceitável. Já com a maquiagem, não tem muito o que fazer. Então, passo um rímel e um gloss.
Estou muito atrasada e nem visto o casaco, apenas o coloco sobre o braço, pego a minha bolsa, que de pequena não tem nada, e a pasta com os papéis para fazer o meu trabalho.
Moro a duas quadras da boate, o que facilita um pouco as coisas, mas não consigo ter desculpas para os meus atrasos e isso é um saco. Dormir é tão bom...
Na metade da segunda quadra, já estou arfando, é difícil andar rápido com um salto dessa altura. É norma da Amanda, suas lindas funcionárias, tem sempre que estar de salto. Diz ela que nos torna mais belas e atraentes, isso até uma de nós cair e quebrar o pescoço. Espero que essa não seja eu.
Então, estou eu andando rápido e com dificuldades, pois minha chefe exige que suas funcionárias andem sempre no salto. E também estou com grande dificuldade, com a bolsa pesada, a pasta com tantos papéis e documentos e ainda com meu casaco, que não tive tempo de vestir e venho carregando no braço. Tudo porque sou idiota e não consigo controlar o meu gênio e saio por aí descendo o braço nos cretinos que aparecem no meu caminho. Da última vez, foi uma garrafa, mas o cara mais que mereceu.
Meu salto prende em uma rachadura no chão da calçada, e tento a todo custo soltar. Com uma mão ocupada e a outra impossibilitada, tento pegar impulso e meu erro é não olhar a diante. Consigo um bom impulso e quando vou com força e rápido para frente, como não estava olhando, não tenho tempo de evitar dar de encontro, com um homem de terno preto, que mais me fazia lembrar um armário, com seus músculos rígidos e sua altura imponente.
Se em pé ele já seria grande perto de mim, imagina do chão onde fui parar, derrubando metade do que tinha em minha bolsa, nada pequena, e não era pouca coisa dentro dela, e o pior, a pasta com tudo que tinha de documentos organizados, se espalhando pela calçada, da maneira mais bagunçada possível. Puta merda! Estou muito ferrada!
Foi tudo tão rápido, eu sei que não poderia ter evitado, ou sim, se estivesse mais atenta a minha volta, ou mais precisamente, a minha frente. Mas ele também poderia ter desviado ou tentado me segurar para não cair.
E o esperado acontece. Meu sangue ferve.
_ Seu idiota! _ só depois de xingar, é que eu realmente olho para ele. E fico paralisada e presa aos seus olhos profundos e... Surpresos.

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