CAPÍTULO 7

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Lisa

Eu realmente não esperava ver o médico que havia me atendido na emergência do hospital. Ele parecia cansado, mas ao mesmo tempo pareceu animado por me ver. E eu? Surpresa, mas nem um pouco a fim de interagir com ele.
Forcei um sorriso e voltei a tragar o meu cigarro, sem tirar os olhos do doutor "bonitão".
─ E aí, doutor? Está bem distante de seu ambiente de trabalho.
─ Na verdade, foi apenas uma coincidência. Não estou vestido de maneira adequada para vir à balada.
─ Estou vendo, o uniforme deveria ser usado só dentro do hospital, não? Mas não estou entendendo qual é a coincidência que o fez chegar aqui? ─ ele aponta para a outra esquina em que tem um carro parado com as luzes de alerta ligados.
─ Meu carro quebrou e estou esperando o guincho. Quando vi você aqui decidi dizer um oi, já que não apareceu no hospital e não me ligou.
─ Eu sei que preciso de atendimento para ver como estão meus dedos, mas eu não ligaria pra você. Não mesmo. ─ disse séria para ele entender o recado.
─ Você entendeu errado, princesa. ─ disse ele sem graça.
─ Então me explique.
─ Eu faço boxe em uma academia e pensei em te indicar fazer aulas lá. Eu também sou instrutor. ─ levantei as sobrancelhas. Isso sim era surpresa!
─ Ah... Entendi. Vou até o hospital no começo da semana, para ver como estou e conversamos sobre isso. ─ apontei para o carro dele. ─ Seu guincho chegou.
─ Bem, estou indo então, e tenta não quebrar os outros dedos. ─ ele sorriu e eu retribui lhe mostrando o dedo do meio, seu sorriso se abre ainda mais.
Ascendo mais um cigarro e começo a pensar que, talvez, só talvez, eu pense demais na maldade das pessoas.
Eu sei com certeza que Carol deve estar puta da vida comigo, por ter que cuidar do bar e de Amanda ao mesmo tempo, acredito que ela já esteja mais que bêbada, chega a ser engraçado.
Me viro para dar uma olhada em Felipe na entrada, para saber se na cara dele aparece algum indicativo de que devo voltar correndo e... Vejo Dean parado a me observar. Meu coração começa a disparar e não entendo o que isso significa.
Sorrio para ele e faço sinal para que ele se aproxime. Ele caminha lentamente em minha direção.
─ Olá, homem de palavra. Resolveu me pagar aquela bebida?
─ Olá ruivinha pequena e enfezada. Sim, acho que seria uma boa oportunidade para começar a pagar minha dívida.
─ Bom, comece fazendo seu irmão me pedir desculpas. ─ o encaro séria e ele devolve um sorriso sarcástico.
─ Você só pode estar brincando.
─ È, estou, mas poderia não estar.
Ele continua a me olhar de uma maneira estranha, mas com diversão no olhar. Dou uma ultima tragada no cigarro e jogo a bituca. Me viro para caminhar ao seu lado e meu salto enrosca na calçada. Puta merda! Outra vez isso.
Quando penso que vou me desequilibrar, Dean me segura em seus braços.
─ Opa, isso não para de se repetir. ─ ele diz com humor, e quando olho para ele para responder, percebo que nossos rostos estão próximos demais.
─ Eu... ─ olho para sua boca e engulo em seco. Ele tinha uma boca bem desenhada, dava até vontade de tocar.
Levantei meus olhos para ver os dele e vi que estavam vidrados em minha boca, assim como eu estava segundos antes. Tentei recuar mais percebi que meu salto ainda estava preso e Dean mantinha os braços a minha volta de maneira protetora. Isso era estranho, eu nunca me senti protegida e pela primeira vez conheci essa sensação.
E então ele olha para baixo e repara no meu salto preso e vai descendo com as mão passando pelas laterais do meu corpo e minha pernas até chegar aos meus tornozelos, depois solta o meu salto de maneira delicada e levanta olhando em meus olhos. E eu ali prendendo a respiração.
─ Pronto, ruivinha, já está livre.
─ Lisa. Meu nome é Lisa. Tenho a leve impressão de que você esqueceu. ─ agora ele parece sem jeito.
─ Na verdade tenho certa dificuldade de guardar nomes.
─ Tudo bem, DJ. Vou me lembrar disso. ─ aponto para a boate lotada. ─ Tenho que voltar para lá. E você ainda me deve uma bebida. ─ não espero pela sua resposta e sigo para a entrada, sentindo sua presença atrás de mim, parecendo um calor confortável.
Quando entro e sigo direto para o bar principal, espero ver tudo menos a cena em minha frente.
Amanda está mais que bêbada, sem conseguir atender no bar e uma Carol atrapalhada tentando dar conta de atender e cuidar da chefe bêbada ao mesmo tempo.
Passo direto pelo bar principal e vou até um dos bares secundários. Chamo Izabel para ajudar no principal já que o fluxo ali atrás está mais fácil.
─ È mesmo necessário eu ir para lá? Amanda pediu que eu ficasse aqui. ─ pergunta ela, falando alto ao meu ouvido para poder ser ouvida através da musica alta.
─ Amanda não está mais em condições de decidir nada. ─ e aponto para onde nossa chefe está.
Izabel revira os olhos e me acompanha até o bar principal, onde a Carol já parece estar furiosa.
─ Olha para isso! Eu sabia que não daria certo! ─ grita Carol para ser ouvida.
Faço sinal positivo e entramos no bar para ajudar a atender e tentar controlar uma Amanda bêbada, dançando e flertando com alguns clientes. Isso de certa maneira era até hilário.
Discretamente pego meu celular que está na parte interna do balcão do bar e ligo a câmera e começo a filmar, as meninas percebem e começam a rir. Sim vou filmar e quando Amanda estiver em casa se curando da ressaca, vou enviar o vídeo. A cara dela será impagável.
Perco o Dean de vista desde a hora em que entramos, mas não tenho tempo de procurar com os olhos, estou ocupada demais e pelo jeito será assim até próximo a hora de fechar.
Peço para um dos garçons que servem o pessoal nas mesas, para trazer um daqueles bancos altos, para colocar minha chefe sentada em um dos cantos do bar. Estava difícil andar de um lado para o outro para atender com ela no caminho, bêbada e atrapalhando.
Depois de pelo menos três horas trabalhando direto, o fluxo no bar central diminui e posso respirar um pouco mais aliviada.
Pego minha garrafa de tequila e tomo duas doses seguidas e quando a estou guardando no lugar, dou de cara com Dean me observando no balcão do bar.
Eu tenho sempre a impressão de que ele não gosta que o chame de DJ, então o faço como provocação.
─ Oi, DJ, pensei que já tivesse ido embora.
─ Não, ainda é cedo. Não tenho idéia do que faria em casa a essa hora que não fosse dormir e definitivamente, não é o que eu quero.
─ Bem, DJ, na minha companhia seria outra coisa. ─ desisto de guardar a minha garrafa e sirvo mais uma dose para mim e ofereço uma para ele.
─ Ah, seria mesmo? ─ ele aponta para o copo. ─ o certo não seria eu pagar a bebida em vez de você me oferecer?
─ Só bebe DJ. E, sim, seria. ─ ele bebe e eu bebo. Acho que cheguei ao meu limite e devo parar de beber, pois já estou pensando em dizer ciosas que não devo... Mas ele não colabora...
─ E então, vai me dizer o que eu poderia fazer em sua companhia? ─ ele pergunta interessado com um leve sorriso. Ai meu Deus, como ele é lindo! Decido ser ousada e responder.
Me debruço no bar ficando bem próxima de seu rosto para que ele me ouça e mal percebo que meus seios forçam o decote.
─ Quer que eu descreva? ─ ele apenas confirma com a cabeça, parece estar prendendo a respiração. Então eu continuo. ─ Eu beijaria essa sua boca até não poder mais respirar, subiria sobre você, para sentir a extensão do meu corpo no seu. Bagunçaria seus cabelos enquanto sinto seus lábios quentes nos meus seios, fazendo minha respiração acelerar, me fazendo desejar sentir o seu membro quente e pulsante dentro de mim. Você atenderia ao meu desejo e me deixaria cavalgar até você estremecer de prazer.
Digo tudo isso com meus olhos mirados em sua boca, que se abre apenas o suficiente para puxar o ar. Sim, ele estava o tempo todo prendendo a respiração. Eu realmente o surpreendi, mas continuo na mesma posição o encarando e esperando por sua resposta, na expectativa. Mas acho que ele ficou perdido sem saber o que responder. Eu ri internamente de satisfação.
─ Eu... È... Você...
Recuo um pouco e desvio os meus olhos dele para prestar atenção a uma cena se desenrolando atrás dele, perto de uma mesa, á esquerda da entrada.
O Irmão de Dean meche com a Lilian, que volta de lá de fora, provavelmente estava fumando, a outra garota nova que Amanda trouxe hoje para trabalhar, ela é do tipo agressiva e parece gostar de dominar e comandar situações, tipo essa que está acontecendo, sem precisar dar um soco como eu e manter até mesmo as unhas intactas.
Vejo que Felipe está de olho no que está acontecendo. E Lilian também preta atenção aos olhares do segurança.
O Irmão de Dean diz algo no ouvido dela, e em resposta ela paga as duas mão dele e coloca sobre os seus seios, no momento certo, é claro, em que Felipe não estava olhando.
O cara fica surpreso, mas logo se empolga. Grande erro.
Lilian levanta os braços com cara de espanto para chamar a atenção do segurança, que com total rapidez e competência, chama mais dois e começam a retirar ele da boate, de maneira até delicada, eu diria. Mas sei que ele será proibido de voltar à boate, tenho certeza que Felipe terá o prazer de dizer isso a ele. E eu sou a única que pode dizer o que houve e livrá-lo da culpa. Que ironia.
È claro que tudo isso aconteceu bem rápido, a ponto de Dean ainda estar procurando palavras para dizer algo.
Tomo mais uma dose da minha bebida e faço sinal para que ele olhe lá para trás dele.
─ Acho que é hora de voltar para casa e realmente dormir, DJ. ─ digo sorrindo abertamente.
Ele se vira e suspira ao ver seu irmão ser retirado a força. Volta a olhar para mim, faz sinal para que eu lhe sirva uma dose. Eu obedeço ainda sorrindo, ele bebe, revira os olhos e balança a cabeça pela cena ocorrida com seu irmão. E quando penso que ele já está indo, me puxa pela mão, me fazendo debruçar novamente no balcão do bar, para falar ao meu ouvido.
─ Nossa conversa ainda não acabou. Eu volto amanhã à noite. ─ e me dá um beijo suave no pescoço, á baixo da minha orelha e roça aquela barba gostosa.
Agora quem está surpresa sou eu e prendendo a respiração.
Ele desliza suavemente sua mão pelo meu braço até a minha mão, sorri ao me olhar e vai embora.
E eu fico ali parada querendo saber o que foi isso.
Mas acha que minha noite já acabou? Graças a Amanda aprontando pela boate, minha noite ainda seria longa.
È claro que tinha diminuído o fluxo de pessoas e dava para respirar mais aliviada, mas só sossegaria até por a Amanda em um taxi e despachar ela para casa.
No momento ela estava na pista de dança, dançando indecentemente com um cara que ela conheceu no bar. Ele até que era bonito, alto e até combinava com ela, mas alguém tinha que dar fim na dança dela ou acabaria se tornando um strip tease particular em publico.
Deixei as meninas atendendo e fui perguntar ao Felipe se ele tinha idéia de quem poderia ser o cara.
─ Você não está lembrando-se dele, Lisa?
─ Não mesmo. Quem é ele?
─ É o dono daquela concessionária que fica na outra quadra e parece que estão se dando bem. ─ ele faz sinal para que eu olhe para os dois e quase tenho um ataque de nervos.
Amanda está dançando colada a ele de costas e levantando aos poucos sua saia que já não está mais na altura aceitável das pernas.
─ Só me diga que ele é legal e confiável. ─ digo com pressa de receber a resposta para correr e dar um jeito naquilo.
─ Sim, ele é. Conheço-o já algum tempo, o nome dele é Douglas.
─ Ótimo, terá que servir.
Ando rapidamente até a pista e chamo a atenção do cara, que obviamente tem que se abaixar, para poder me ouvir. Explico a situação e vejo que ele realmente entende de maneira cavalheira e concorda em levar minha chefe para casa para evitar mais constrangimento, que com certeza ela teria ao ficar sóbria e saber tudo o que aconteceu.
Ele teve um pouco de dificuldade em convencê-la de que estava na hora de ir, mas que só iria depois de deixá-la em casa. Depois de alguns beijinhos e sussurros de incentivo ele conseguiu convencer a mulher mais difícil de ser convencida, tanto sóbria quanto bêbada.
E pronto, o problema maior havia sido resolvido e a noite poderia acabar tranquila sem maiores imprevistos. Na verdade a noite já tinha acabado, estava quase amanhecendo e eu não via a hora de poder deitar em minha cama. E foi pensando nisso que Dean voltou a rondar os meus pensamentos.
Quando cheguei em casa já era de manhã. Tomei um belo banho quente e caí na cama, estava muito cansada e com sono, mas demorei um pouco para adormecer. Ainda estava sobre o efeito do álcool, mas o que realmente estava atormentando os meus pensamentos, era a lembrança de como o Dean havia me tocado, o beijo suave com o roçar da barba e suas palavras "Nossa conversa ainda não acabou. Eu volto amanhã à noite."
Sorri com a possibilidade de um próximo encontro e mergulhei em um sono profundo, ainda lembrando do seu toque.

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