CAPÍTULO 8

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Dean

Eu realmente não conseguia entender o por que raios um médico estava ali falando com a Lisa. Eticamente falando ele não deveria nem estar usando jaleco! Sem contar que embora ela seja naturalmente branca, isso não é cor de uma pessoa doente, então, não há necessidades de ele estar ali falando com ela... Espera... Isso é ciumes?
Coço a cabeça, desvio o olhar daquela direção, respiro fundo, e forço o suficiente para manter a calma... Mas infelizmente quando olho novamente, vejo ela sorrindo para ele, enquanto alterna em um possível bate-papo saudável e tragadas no cigarro.
Eu permaneço ali atento a situação, e tentando na sorte adquirir o dom da leitura labial, mas em vão... Aí, de repente ele aponta para fora. Na direção em que ele aponta, há um carro com o pisca alerta ligado. Eles provavelmente sairão depois da balada. Então trato feito. Pago a bebida, pois não sou de quebrar acordos, e volto para o conforto do meu lar.
Agora eles estão conversando olhando para a mão da Lisa, que está levemente enfaixada, e é aí que ouço um homem falando comigo.
─ O que é que um homem que não fuma costuma fazer em um fumódromo? - Era Douglas, um amigo de infância que eu tinha. e que a muito tempo havia perdido contato
─ Hey parceiro, o que você faz por aqui? - eu disse, de certa forma impressionado. Ele tinha ido embora pro Texas se não me engano. - Você não tinha ido embora pro Texas?
─ Sim, eu até tinha... Mas levantei alguns fundos e abri uma concessionária aqui perto. - disse ele colocando a mão no bolso do paletó. Ele realmente tinha pinta de empresário. Tirou do bolso uma carteira de cigarros, colocou um na boca, e me ofereceu, o qual neguei com a cabeça. - E você? Que tem feito?
─ Estou trabalhando em um escritório administrativo. Trabalho com diversas empresas, como uma terceirizada. - Tivemos então uma conversa breve sobre o passado, mulheres, viajens e negócios e claro, carros.
─ Bom. Só saí fumar um pouco, já vou voltar pra dentro. Anote meu número! Vamos manter contato! - Após me passar seu telefone, ele apenas sorri e diz - Agora tenho que voltar. Aquela moça do bar parece estar me dando mole...
Nos despedirmos, e ele entrou por entre a multidão, sumindo na galera, enquanto eu, coloquei a mão na cintura, e fiquei pensando nas coisas que já nos aconteceram no passado, na época dos 18 anos, na Lisa... Lisa! Ela não sai da minha cabeça, porcaria! Uma mulher tão pequena não deveria ocupar tanto espaço na mente de um homem, e quando olho pra frente, ela já não está mais acompanhada do homem de jaleco branco. Está sozinha, e se virando na minha direção. Ela olha diretamente para mim, da um sorriso e faz um sinal para que eu me aproxime, e eu vou... lentamente.
─ Olá, homem de palavra. Resolveu me pagar aquela bebida? ─ ela me diz sorrindo.
─ Olá ruivinha pequena e enfezada. ─ Resolvo brincar ─ Sim, acho que seria uma boa oportunidade para começar a pagar minha dívida. ─ Falo isso me aproximando cada vez mais.
─ Bom, comece fazendo seu irmão me pedir desculpas. ─ Ela me encara séria, e a minha única reação é dar um leve sorriso desconfortável...
─ Você só pode estar brincando. ─ Eu falo.
─ É, estou, mas poderia não estar. ─ Ela me responde, me deixando aliviado.
Sem saber o que falar, permaneço apenas a admirando, enquanto ela fuma seu cigarro, vendo graça no que acabou de acontecer, e deixando sair um leve sorriso. Ela traga o cigarro e joga a bituca fora, se virando para chegar ao meu lado, mas do nada, ela tropeça em alguma coisa.
Ela estava prestes a cair com tudo no chão, e minha única ação é segurar ela, mas de alguma forma, e eu não sei ainda como, eu acabei envolvendo ela em meus braços. A situação está levemente constrangedora... Preciso quebrar um pouco o gelo:
─ Opa, isso não para de se repetir. ─ Digo isso sorrindo, e agora paro para olhar pra ela, até que noto o quão próximo está nossos rostos. Tanto que sinto o cheiro do cigarro no hálito dela. Isso sempre foi horrível para mim, é horrível pra qualquer pessoa... Mas não com ela...
─ Eu... ─ Ela olha para os meus lábios e para de falar instantaneamente. Fico tentando imaginar o que ela diz, mas não consigo pensar em nada, pois estou retribuindo na mesma moeda, estou olhando para os lábios dela também.
Ela agora tenta se afastar, mas o salto preso não deixa. E mesmo assim, se ela não me empurrasse, não sairia dos meus braços, pois como eu disse, acabei a envolvendo. Isso estava um tanto quanto estranho, mas mesmo assim, ela parecia estar confortável.
E então eu decido olhar para baixo. O salto dela se enroscou em um vão falho da calçada, e eu como sendo um bom cavalheiro, devo ajudá-la. Eu vou descendo lentamente, mas não quero me soltar dela, então desço deslizando as mãos pelas laterais de seu corpo, gravando mentalmente sua silhueta... Passo pelas pernas, e finalmente chego nos tornozelos, soltando o salto de um jeito delicado, para não machucá-la, me levantando logo em seguida e olhando em seus olhos. Ela parece estar prendendo a respiração.
─ Pronto, ruivinha, já está livre. ─ Digo novamente para quebrar o gelo outra vez.
─ Lisa. Meu nome é Lisa. ─ ela fala olhando para o nada, como se estivesse tentando encaixar na mente o que aconteceu. De repente, ela olha para mim com uma feição bem séria no rosto e diz ─ Tenho a leve impressão de que você esqueceu. ─ Fico um pouco envergonhado, pois realmente esqueci.
─ Na verdade tenho certa dificuldade de guardar nomes. - respondo.
─ Tudo bem, DJ. Vou me lembrar disso. ─ ela fala isso e aponta na direção do interior da boate ─ Tenho que voltar para lá. E você ainda me deve uma bebida. ─ ela não espera nenhuma ação minha, simplesmente segue caminhando e eu acompanho ela, seguindo-a logo atrás, e próximo para que ela me perceba, mas não tropece em mim. Não quero ser o motivo dos desastres dela.
Quando a gente chega no interior super lotado da casa, ela vai diretamente para o bar central, onde ela comumente trabalha, e aparentemente ela está chocada com a situação.
Uma das bartenders parece que esgotou o estoque sozinha. Está tão bebada, que se juntar todos os embriagados da casa, não da ela. Dando em cima de clientes, e tentando ser impedida pela outra bartender que estava ali.
Lisa passa direto, e vai para um dos bares laterais, e eu, como não quero ser o "sombra" dela, caminho até o bar principal, onde vi meu irmão e o Douglas conversando.
─ Dean, olha quem eu encontrei! ─ disse Marcos apontando para o Douglas
─ A gente já tinha se esbarrado lá fora ─ disse Douglas, me acenando novamente ─
─ Oi seus lindos ─ disse a bartender bêbada, colocando três copos em nossa frente, e tentando acertar tequila dentro deles. Derramando a maior parte no balcão, ela até consegue servir os três copos e depois diz ─ Por conta da casa!
─ Desculpa, ela está fora de si! ─ diz a outra bartender, tirando a embriagada dali, e trazendo um pano para limpar a sujeira ─ Como estava super lotado hoje, nossa chefe resolveu ajudar, mas ela não é muito forte com bebidas, e isso não ta ajudando.
─ Tudo bem, vá cuidar dela ─ eu respondo e pego minha comanda ─ Cobre daqui! ─ Eu tento ser caridoso, e pego o pano da mão dela, limpando toda a tequila esparramada no balcão.
Quando a bartender pega o pano da minha mão, a tal chefe bêbada simplesmente dá um leve empurrão nela, e coloca em nossa frente um prato com sal e limão fatiado.
Bebemos a tequila, conversamos um pouco sobre o negócio do Douglas na região, e eu notei que ele não tirava os olhos da moça alterada. Uma garota puxa o Marcos pra dançar, e eu me aproximo mais do Douglas, para que conversemos melhor sem gritar tanto.
─ O negócio com carros é promissor? ─ Pergunto tentando puxar assunto.
─ É a melhor coisa que eu poderia querer! ─ Ele responde ─ Está na hora de eu expandir meus negócios, e acho que não foi a toa que eu te encontrei aqui!
─ Olha para isso! Eu sabia que não daria certo! ─ interrompe a bartender gritando na outra direção, auto o suficiente para que todos ao redor conseguissem escutar. Quando percebo que ela está falando diretamente com Lisa, que está de volta no bar principal.
Ela faz sinal positivo e entra no bar com outra garota.
Ela vai até certo ponto e tentando ser discreta, algo que já percebi que ela não é, pega o celular e começa a filmar a moça, enquanto as outras meninas começam a rir.
Ela ainda não notou minha presença ali pelo visto, e não quero atrapalhar ela, pois a partir de agora, parece que a situação irá se complicar ainda mais.
Quando olho na direção de Douglas, ele está me encarando, com um sorriso malicioso no rosto, e uma garrafa de cerveja que eu sequer vi chegar ali, próximo aos lábios. Ele solta o ar, como se desse uma leve gargalhada, e olha para frente, movendo o rosto em negativa, colocando o bico da garrafa na boca e tomando um gole.
─ Parece que você nem ouviu a proposta... ─ Ele diz...
─ Ah, claro... A proposta... ─ Eu digo sem tirar os olhos dele agora. ─ Qual proposta?
─ Foram duas coisas que me fizeram crescer Dean. Uma delas, foi encarar as oportunidades da vida, e a outra foi sacrificar o que era garantido para mim. Isso se tornou promissor, eu cresci e me tornei o que sou. E você? Vai encarar a oportunidade, ou simplesmente sacrificar o que já está garantido? ─ Ele diz e aponta com o fundo da garrafa na direção da Lisa.
Eu olho para ela, boquiaberto, e olho novamente para ele, falando:
─ Eu não entendi porcaria nenhuma do que você quis dizer cara!
Ele simplesmente da uma gargalhada alta, toma o resto da cerveja, chama uma das garçonetes e diz para ela me servir a bebida mais forte que ela tivesse ali. Depois olha para mim, e diz:
─ Preciso ir Dean. eu peguei seu endereço com seu irmão, e também o endereço do escritório. Aguarde minha visita, pois tenho uma oportunidade pra você!
Ele se levanta, sai e eu olho novamente para Lisa. Eu realmente não entendi porcaria nenhuma do que ele quis dizer!
A garota trás minha bebida, que realmente era forte, e eu peço mais uma cerveja, ficando ali por mais um tempo, sem notar a hora passar. Devem ter se passado umas duas ou três horas comigo em silencio, bebendo cerveja e olhando a Lisa sem simplesmente pensar em nada.
É quando ela pega uma garrafa de tequila, e manda duas doses em sequencia, e quando ela vai guardar a garrafa, finalmente me encontra com os olhos, meio embriagado e a admirando do balcão do bar. Nesse momento vou me aproximando dela.
─ Oi, DJ, pensei que já tivesse ido embora. ─ Tenho a impressão de que ela faz pra me provocar, em me chamar pelas iniciais...
─ Não, ainda é cedo. ─ Respondo ─ Não tenho ideia do que faria em casa a essa hora que não fosse dormir e definitivamente, não é o que eu quero. ─ Eu digo isso com um pouco de malícia, mesmo que sem intenção... Deve ser o teor alcoólico...
─ Bem, DJ, na minha companhia seria outra coisa. ─ Ela volta com a garrafa nas mãos, e serve uma dose para cada.
─ Ah, seria mesmo? ─ aponto para o copo. ─ o certo não seria eu pagar a bebida em vez de você me oferecer?
─ Só bebe DJ. E, sim, seria. ─ Bebemos ao mesmo tempo. Ela já está aparentemente embriagada... Pessoas muito brancas geralmente ficam vermelhas quando o nível de álcool já não está muito normal... E eu, bem... Continuo etilicamente ousado...
─ E então, vai me dizer o que eu poderia fazer em sua companhia? ─ Pergunto interessado dando um leve sorriso.
Ela se debruça no balcão, chegando bem próximo ao meu rosto, falando de forma bem delicada e até erótica...
─ Quer que eu descreva? ─ Minha boca seca, meu corpo treme, eu congelo e não consigo pronunciar uma palara que seja... Apenas confirmo com a cabeça. ─ Eu beijaria essa sua boca até não poder mais respirar, subiria sobre você, para sentir a extensão do meu corpo no seu. Bagunçaria seus cabelos enquanto sinto seus lábios quentes nos meus seios, fazendo minha respiração acelerar, me fazendo desejar sentir o seu membro quente e pulsante dentro de mim. Você atenderia ao meu desejo e me deixaria cavalgar até você estremecer de prazer.
Ela fala tudo isso, e mira minha boca com os olhos... Eu continuo congelado, parado, travado... Consigo perceber o decote dela mais avantajado pela posição em que ela está... Ela está esperando uma resposta, aguardando que eu fale alguma coisa... Petrifiquei. Pense em algo antes de estragar tudo... O que eu poderia dizer? Estou ficando excitado, porcaria! Posso convidá-la... Posso respirar... Droga, eu estava prendendo a respiração, devido ao acontecido! Eu estou oficialmente surpreso com tudo isso, e ela continua ali me olhando com um sorriso malicioso. Só consigo pensar agora na cena descrita, na minha ereção involuntária e tequila...
─ Eu... É... Você... ─ Sem sucesso Don Juan! Não fale nada!
Ela da uma leve recuada e olha para algum ponto atrás de mim, perto de uma mesa, á esquerda da entrada.
Marcos está mexendo com uma garçonete, o que é normal depois de bêbado ele fazer. Mas espero que eu não tenha que voltar aqui me acertar com ela também. Mal estou conseguindo quitar um acordo com uma, que dirá com duas! Deixo de dar atenção a cena e olho novamente para Lisa, que não tira os olhos da cena. Enquanto ela se distrai, aproveito para buscar palavras.
Ela toma mais uma dose da tequila e aponta para que eu olhe para trás..
─ Acho que é hora de voltar para casa e realmente dormir, DJ. ─ ela diz e da um enorme sorriso. Seus dentes são perfeitamente brancos, pra uma fumante.
Eu me viro, e suspiro ao ver o paspalho sendo tirado do bar acompanhado de três homens fortes e mal encarados. Eu sabia que uma hora ou outra, ia dar merda. Tequila! Olho para Lisa, aponto para o copo, e ela me serve, ainda sorrindo abertamente. Eu tomo minha dose, e movo a cabeça em negativa. Quando noto, ela está virada de costas para mim, e eu aproveito a deixa para puxá-la pela mão, fazendo com que ela se debruce novamente no balcão do bar.
─ Nossa conversa ainda não acabou. Eu volto amanhã à noite. ─ O pescoço dela está a mostra agora, eu passo a mão pelos cabelos dela, e me sinto instigado com toda aquela situação anterior. É praticamente um convite para que eu beije. É exatamente isso que eu faço.
Ela prendeu a respiração, e isso indica que o feitiço se virou contra a feiticeira.
Deslizo suavemente a mão pelo seu braço até tocar a mão dela, sorrio e vou em direção a saída.
Quando olho para trás, ela ainda está com a mão esticada, olhando para o nada, e encostada no balcão. Ela congelou. Isso foi engraçado de certa forma.
Vou na direção da sala de segurança, para ver o que está acontecendo com meu irmão, e de fora consigo escutar a leve bronca que ele está levando. Ótimo jeito de começar o feriado. Bato na porta, peço para levar meu irmão embora, ele assina a lista negra, tira uma foto e é a partir daí que sabemos que seu rosto está registrado no "mural dos renegados da balada". Ele pode dar adeus as noites de balada na Red Night, assim como nas outras três baladas mais visitadas de toda Los Angeles, só neste ano.
A gente sai, pegamos um taxi, e vamos mais da metade do caminho em silêncio absoluto, até que ele decide falar.
─ Não fui eu Dean!
─ Tudo bem... ─ Eu respondo olhando a iluminação da rua.
─ Dean, eu não estou bêbado o suficiente ainda, cara!
─ Marcos! ─ Digo e me viro pra ele ─ Tudo bem!
Olho para fora novamente, e agora ele fica um tempo em silêncio, até que decide puxar assunto de novo.
─ Sabe o que o Douglas queria contigo?
─ Não faço a menor ideia...
Mais um momento de silêncio, e o Marcos resolve falar de novo. Mas dessa vez, eu preferia que ele tivesse ficado quieto.
─ Dean, tentei te encontrar dentro da RN pra te dizer uma coisa, mas não consegui te achar depois...
─ Porque não procurou direito... Eu não sai do mesmo lugar...
─ Enfim... A hora que a menina me tirou pra dançar, fomos para a pista de dança, e lá, uma outra garota me puxou de canto...
─ Que ótimo... Aí você, mesmo com tantas opções, resolveu molestar a bartender... ─ Eu disse com um tom irônico, pois eu realmente não estava bravo...
─ Dean, me ouve... A garota... Ela estava atrás de você...
─ De mim? ─ Eu olhei para ele tentando imaginar quem poderia ser a tal garota...
─ Sim... Era a Sabrine... Ela veio pra Los Angeles morar, e disse que quer saber de você...
Sabrine era minha ex namorada. Ela morava em Nova Iorque... A cidade que nunca dorme poderia ter engolido ela lá né... Mas infelizmente ela veio pra cá.
─ Dean... Eu acho que fiz algo que você não vai gostar muito...
Eu apenas o encarei, esperando ele falar...
─ Eu... Eu passei teu número pra ela.

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