CAPÍTULO 4

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Dean

Ela tirou os olhos de mim, evitando manter o contato visual, neste mesmo instante ela segura a mão enfaixada com a outra e reclama da dor com um gemido alto.
─ Você está bem? Desculpa... Eu... ─ tento me desculpar pela situação, mas de certa forma perdido naquela mulher.
─ Também devo pedir desculpas. ─ ela diz. ─ Será que poderia me ajudar, não consigo me levantar sozinha. ─ ela reclama da dor novamente e eu me preocupo com isso. Tento ajudá-la a se levantar, mas seu tamanho é tão pequeno que tenho medo de acabar lhe machucando mais, então faço isso com total cuidado.
Ao colocá-la em pé, ela me olha, e eu estou tão preocupado com sua situação que não consigo mudar nem mesmo a minha feição. Ela me olha fixamente e desvia o olhar tão rápido quanto.
─ Ah, meu Deus! Que droga! - ela diz meio eufórica.
─ Não se preocupe, eu te ajudo.
Ela fica ali desajeitada com os próprios saltos, enquanto eu corro atrás de papéis e de arquivos que voaram com o esbarrão que a gente deu, os coloquei de qualquer jeito na pasta. Entrego para ela, e vou atrás das coisas da bolsa, e acabo me deparando com algo que me deixou sem reação... Uma caixinha de absorventes. Ela dá uma tossida, e acredito que foi para disfarçar o riso, mas permaneço em silêncio
─ Acho que está tudo aí. ─ Estico para ela a bolsa, apenas pendurada nos meus dedos polegar e indicador. Ela acaba quase derrubando tudo novamente, já que agora ela estava tentando equilibrar tudo em uma mão só. Ela da uma leve agonizada, e perde o equilíbrio, e como única reação, a segurei em meus braços antes que ela caísse.
─ Opa! - falei para ela - Pronto! Pasta segura. ─ dei um leve sorriso. Olhei para o braço enfaixado e perguntei: ─ O que houve com sua mão?
─ Algo como "não sabe dar um soco de direita, garota?" ─ Neste exato momento me veio o Marcos na cabeça, o soco e o desmaio. Nada pude fazer do que cair na gargalhada. Ela se sentiu ofendida, ao que parece. Talvez por isso ela tenha me feito a pergunta ─ Qual é graça?
─ Foi você! ─ disse logo na sequência , ainda sem conseguir parar de rir.
─ Fui eu o quê? ─ Ela pareceu estar irritada, e se saiu na defensiva. ─ Quer saber de uma coisa, você pode me explicar no caminho, preciso de ajuda com as minhas coisas e estou muito atrasada.
─ Bom, eu posso te ajudar, mas depois quem vai ter que me ajudar é você. Para onde você está indo?
─ Eu trabalho na Red Night, é para lá que estou indo.
─ Mas não está indo no sentido errado?
─ Não, você é que está indo para o sentido errado. ─ ela aponta com o dedo para o lado oposto ao que eu estava indo, me mostrando a fachada.
─ Eu acho que passei direto, estava distraído com o celular e... - ela me interrompe no meio da frase.
─ Isso explica muita coisa. Vem! ─ Ela segura minha mão e vai me puxando para o sentido da balada.
Ao lado da Red Night tinha um beco, que dava a uma porta de acesso a área administrativa. Essa porta dava a uma escadaria que levava a parte superior da boate, onde provavelmente era a área administrativa. Ela me leva escadaria acima. Por algum motivo penso qual seria o nome dela e o porquê ainda não perguntei.
Subimos até o fim da escada, perto da porta de acesso onde supostamente seria o escritório. Ali, um casal se amassava de maneira bem... Digamos... Calorosa. Percebi quem eles eram naquele mesmo instante... A bartender e o segurança da noite anterior... A pequena garota ruiva interviu a atitude dos dois:
─ Será que poderiam lembrar por um minuto apenas de que este local não é adequado para esse tipo de comportamento? ─ eles se viram para ela.
─ Bom dia para você também, Lisa. Como está a mão? - disse a bartender. Então o nome dela é Lisa...
─ Quebrada.
─ Pelo visto vou realmente ter que te ensinar a dar uns socos. ─ disse o segurança me dando uma olhada de canto de olho.
─ Quem é seu amigo? ─ Pergunta a moça fazendo uma cara esquisita.
─ Bom na verdade... ─ ela vira o corpo na minha direção, enquanto eu tenho manter a calma, fingindo que nada estava acontecendo.
─ Ah, meu nome é Dean Jansen. ─ O segurança vem em minha direção, e me cumprimenta com um aperto firme de mão, tentando mostrar certa autoridade.
Um silêncio se faz no local até que a baixinha pergunta:
─ Amanda já está me esperando?
─ Pra sua sorte, ela acordou resfriada e pediu que fizéssemos a reunião semanal no próximo sábado. ─ disse a moça, se curvando para pegar a bolsa no chão. A ruivinha pergunta:
─ E o resto do pessoal?
─ Já foram. Você se superou no atraso hoje, ruiva! ─ Diz o segurança, dando um beijinho na testa dela, e lhe entregando um molho de chaves. ─ Quem chega por ultimo fecha tudo e sai, são as regras. ─ Ele segura na mão da moça e saem pela porta, me deixando apenas na companhia da mocinha.
A gente entra, e ela larga a bolsa em cima de uma poltrona enquanto se joga na da frente, relaxando o corpo e respirando fundo. Ela me olha, e por algum motivo percebo que estou ali simplesmente a admirando.
─ Então, DJ, o que posso fazer para te ajudar?
─ DJ? ─ Pergunto levantando uma das sobrancelhas.
─ Sim, acho agradável. Você não?
─ Bem... ─ Na verdade não. Mas quem sou eu nesse momento para abrir questionamentos...
─ De que tipo de ajuda você precisa?
─ Talvez você nem queira mais me ajudar quando eu te contar.
─ Só vou saber se me disser, mas em todo o caso, eu disse que ajudaria. Diga. Se estiver ao meu alcance... ─ Puxei o ar de maneira pesada, e evitei contato com os olhos na mão enfaixada, mas acho que essa atitude fez com que ela suspeitasse.
─ Ok, ontem houve uma festa a fantasia na boate e... Bem, meu irmão deixou cair um componente da fantasia que estava usando e preciso encontrar.
─ Hum, acho que teremos que entrar no salão para dar uma olhada. Se tivermos sorte a tia da limpeza ainda não começou. Espera só um segundo.
Ela olha pro relógio que fica na parede, que por sinal é chamativo até demais. Se levanta, e caminha para uma porta. Como ela não diz nada, eu decido acompanhá-la.
Vamos até uma sala onde ela deixa sua pasta em cima de uma mesa.
Voltamos para a sala principal, ela pega a bolsa e o casaco e faz sinal para eu ir na frente.
Eu desço dois degraus e olho para trás esperando ela trancar a porta, quando ela me olha com cara de pensativa. Sem saber qual o motivo, decido perguntar:
─ O que foi?
─ Eu acho que você esqueceu-se de me dizer o que exatamente está procurando. ─ Só de lembrar do Marcos apanhando de uma garota que tem metade do tamanho dele, me fez ficar de certa maneira desconfortável.
─ É que meu irmão estava fantasiado de... Policial e perdeu o distintivo ─ Termino de falar, e olho para a mão enfaixada dela por um tempo. Ela olha para a mão enfaixada, e novamente para mim, voltando a encarar as faixas com os olhos arregalados e a boca semiaberta.
─ Seu irmão...
─ Infelizmente. - Coloco as mãos no bolso meio desconfortável
─ Você quer dizer que o cretino que eu soquei, era seu irmão?! Mas que merda! ─ ela diz e enrosca o salto caindo em minha direção. A única coisa que da tempo de fazer é tirar as mãos dos bolsos, e envolver a moça em meus braços.
─ Que inferno! ─ Ela diz e tenta se afastar de mim, mas quase que impossível, já que o espaço é extremamente pequeno naquela escada.
─ Pare com isso! Tá querendo rolar as escadas e quebrar o pescoço? ─ seguro ela pelos braços e ela me encara.
─ Você tinha razão! Não tenho a mínima vontade de te ajudar. Saia da minha frente para que eu possa descer e ir embora!
─ Ah, qual é! Eu não tenho culpa de o meu irmão agir como um idiota! ─ Ela respira fundo, e me olha diretamente nos olhos.
─ Mas deveria ficar de olho nele quando está bêbado, isso me rendeu dois dedos quebrados!
─ Isso é culpa sua, por não saber dar um simples soco!
Ela desvia de mim, e desce os degraus a passos pesados demonstrando sua raiva. Ela para na porta de acesso ao beco, e me encara de canto de olho, enquanto passo por ela. Quando ela sai, eu respiro fundo, e falo:
─ Por favor, seja menos hostil. Eu não sou o culpado de nada e preciso viajar ainda hoje, não posso perder o vôo.
─ Não posso fazer nada a respeito, seu irmão que se vire!
─ Estou pedindo, por favor. ─ toco o braço dela, e ela da uma retraída, como se tivesse sentido um leve arrepio.
─ Tudo bem. Mas fica me devendo essa. ─ Eu dou um sorriso e ela retribui... E que sorriso! ─ Vem. - Ela diz.
Ela passa a minha frente, vamos a porta principal, e ela destranca, entrando e dando passagem para mim. Ela encosta a porta, acende as luzes principais e caminha em direção ao balcão do bar, pegando uma caixa com a escrita "Achados e Perdidos" feito de canetinha.
Ela da uma olhada dentro da caixa, e faz uma feição irreconhecível. Parece que está viajando em seus pensamentos. Isso instiga minha imaginação, e me faz querer entrar na mente dela, saber o que ela pensa... Que porcaria é essa que está acontecendo com a minha cabeça?!
Ela pega o distintivo e se vira pra mim. Ela deve ter percebido que eu estava a admirando.
─ Aqui está, DJ. ─ Ela me oferece o distintivo, mas quando vou pegar das mãos dela, ela puxa o braço, evitando que eu o pegue de imediato. ─ Não tão rápido.
─ Tudo bem, o que você deseja em troca? ─ Fiquei frustrado com a situação.
─ Você precisa voltar algumas vezes e me pagar algumas bebidas, ou o seu irmão, como compensação, até eu pensar em outra coisa. ─ Ela sorri.
─ Já sei. Isso vai nos custar por todo o acontecido.
─ È pegar ou largar.
─ Então eu pego.
─ Não tenho garantias, você pode sair por aquela porta e nunca mais voltar aqui. Enfim, vou ter que acreditar na sua palavra. ─ Ela da de ombros, e essa atitude me frustra mais ainda.
─ Pois saiba que sou um homem de palavra, Lisa. ─ Digo sério, mas apenas para deixar essa impressão mesmo.
Ela estica novamente o distintivo. Solta em minha mão, e eu consigo perceber que ela está me observando. Eu me viro novamente, dou um leve sorriso e a admiro por mais alguns segundos.
Caminho pela calçada com as mãos nos bolsos, lembrando da moça de cabelos ruivos... A Lisa... Como aquela garota entrou na minha mente... Aquele sorriso, aqueles olhos, até o jeito como ela fica quase que imperceptivelmente corada nos momentos em que ela se demonstrou estressada, e isso foi quase que a manhã inteira enquanto eu estive com ela.
Por algum motivo lembrei da ex. Ela se tornou ignorante no fim de nossa "trajetória". Aquele sorriso que se repete na minha cabeça... Aquele sorriso se repetindo em minha cabeça, igual no inicio, quando comecei a namorar com ela naquela época... A forma como ela se estressava, e como ficava corada quando estava com raiva... Tudo, exatamente tudo que ela fazia que me deixava nervoso e irritado, agora com outra pessoa, está me fazendo me sentir... Digamos... Bem... Afim de ver aquele sorriso de novo...
Marcos, seu idiota. Por sua causa eu acho que me apaixonei!

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