CAPÍTULO 11

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Lisa

O domingo amanheceu ensolarado, vi antes mesmo de levantar, pela janela que me esqueci de fechar, pois bebi muito para conseguir dormir depois do que aconteceu na Red Night. Não parei de pensar no beijo do Dean, na maneira como me segurou em seus braços, aquele cheiro maravilhoso de seu perfume, tudo isso me deixou fora de si, então acabei com a garrafa de tequila. Só assim apaguei caindo em um sono profundo.
E apesar do dia estar lido e não precisar sair da cama cedo, tinha algum ser inconveniente ligando para o meu celular.
Deixei tocar até cair e coloquei um travesseiro na cabeça, para evitar ouvir o toque, mas de nada adiantou, pois voltou a tocar por vezes seguida. Que saco essa pessoa insistente!
Me arrastei para fora da cama e fui engatinhando até a sala, para pegar o celular largado no sofá, que nem me lembro de ter deixado ali.
Ele voltou a tocar e pelo visor, vi um numero desconhecido. Quem seria às oito horas da manhã?
Não costumo atender números desconhecidos, mas pela insistência devia ser alguma coisa séria ou uma emergência. Então, atendi.
─ Alô?
─ Oi, Lisa, Tudo bem? É o doutor Luiz.
─ Ah, oi. Por que está me ligando em um domingo de manhã, sabe até que horas trabalhei ontem?
─ Claro, peço, desculpas, mas é que você marcou uma aula na academia para amanhã, mas não vou poder ser seu instrutor, tenho plantão amanhã.
─ Agradeço, mas não precisava se incomodar, mas posso marcar para outro dia.
─ Então, é por isso que estou te ligando. Estou livre hoje e pensei em termos a primeira aula, o que acha?
Ponderei por um momento, pois estava mesmo interessada em fazer aulas de boxe, mas a insistência dele e o interesse estavam começando a me incomodar. Mesmo assim, resolvo responder de maneira positiva. Não tenho nada melhor pra fazer no domingo mesmo.
─ Ok, que horário tem em mente?
─ Bom, se possível, agora.
─ Como assim? Acabei de acordar!
─ São oito horas, te pego as nove. Até mais! ─ e desliga sem esperar que eu diga algo.
Reviro os olhos. Esse Doutor Luiz...
Às nove horas em ponto, estou na portaria do meu prédio, pronta, de café da manhã tomado decentemente, pela primeira vez e a espera dele.
Estou de camiseta branca, uma legue preta e de tênis, acho que é o suficiente.
Vejo seu carro estacionar do outro lado da rua e me encaminho até lá.
Ele está sorrindo quando destrava a porta do carro, mas não sorrio de volta. Mesmo que eu tenha topado ir fazer a bendita aula hoje, e não ter nada para fazer no domingo, não estou nada feliz em acordar cedo.
Abro a porta e entro no carro e só depois disso que me dou conta de que nunca vi uma academia que abre aos domingos.
─ Oi, preparada?
─ Eu até que estou, mas estou mais curiosa em saber o que uma academia faz aberta hoje.
─ Na verdade, não está. ─ ele sorri como se tivesse dito algo de vantagem e me contraio no banco do carro, quando ele toca em minha mão que está com as talas nos dedos.
─ Então não vejo razão para estar no seu carro, indo para uma academia fechada.
─ Eu te disse que meu primo é o dono, e como não poderei te dar aula amanhã, quis fazer isso hoje. Ele me deu permissão e como sou instrutor lá e primo do dono, eu tenho as chaves.
─ Não sei se seria uma boa idéia, devia ter me dito isso quando me ligou. ─ digo desconfiada e de maneira que ele perceba.
─ Não precisa se preocupar, somos só amigos, lembra?
─ E como vou treinar se ainda estou com as talas? Tá achando que sou boba?
─ De maneira nenhuma, vamos tirá-las daqui a pouco. E vai ser mais para te mostrar como as coisas funcionam, se não quiser ir...
Olho para ele de canto e concordo com a cabeça, pra não ter que falar o que realmente estou pensando. Pois só posso estar ficando louca de confiar tanto assim nele, para ir a um lugar vazio com um cara que conheço a tão pouco tempo, para aprender a dar uns socos.
Ele liga o rádio e deixa tocar música durante o trajeto, mas estou tão nervosa que nem presto atenção ao o que exatamente toca durante o caminho, e também não conversamos durante o tempo que passamos dentro do carro. Gostaria de saber o que estava passando na cabeça dele, ele estava sério e concentrado no transito, mas me parecia estar planejando algo. Talvez não, eu era campeã em pensar sempre o pior, então provavelmente, ele só estivesse mesmo concentrado no transito e em dirigir. Mas meu sentido de alerta estava bem ligado, isso podia dizer alguma coisa, na verdade... Muita coisa.
Chegamos ao estacionamento espaçoso de uma bela academia. O dono deve ter muito dinheiro mesmo, mas pela aparência do local, não sei se iria querer bancar uma mensalidade dessas, pois não deve ser barato, mas levando em consideração que é só uma aula experimental, que ainda não preciso decidir se quero me matricular e que já que estou aqui, não custa nada, né? Eu acho...
Descemos do carro e andamos em direção a entrada.
A fachada é toda de vidro com grades vazadas, tem grandes portas duplas com o nome da academia estampada nelas, Arena Gym, em letras grandes, azuis e brilhosas. O Doutor usa um controle para desligar os alarmes e a grade que fica em frente às postas, corre para o lado, e então, ele usa a chave em sua mão para destrancar. Após entrar, faz sinal para que eu faça o mesmo. Instintivamente tenho vontade de recuar e não cometer a loucura que acho que estou cometendo, mas o orgulho é maior e não vou demonstrar medo, então me forço a entrar de cabeça erguida. Mas dou um pequeno pulo de susto ao ouvir o alarme ser ligado novamente e a grade voltar a tomar a frente das portas. Ele me olha com um sorrisinho e tranca as portas.
Não demonstro nenhuma reação e nem me movo, apenas o encaro, esperando qual seria o primeiro passo do Doutor.
─ Relaxe, Lisa. Não vou te morder. ─ diz com ironia.
─ Não estou tensa por você, seu convencido. Só um pouco nervosa, eu nunca treinei nada antes.
─ Então venha comigo, vou te mostrar tudo.
Havia uma linda recepção logo na entrada e podia se ver através dela, pela parede, que era toda de vidro também, uma sala grande e espaçosa, com aparelhos de musculação de variados tipos.
Ao passar pela sala, entramos em um curto corredor que leva a outra sala, com equipamentos aeróbicos e ainda posso ver mais salas separadas para aulas específicas. E ao lado direto tem uma porta, que ao ser aberta, percebo ser para treinar boxe, cheia de equipamentos que não faço idéia  pra que servem, a não ser o Heavy Bag (saco de pancadas), desse eu tenho certeza que vou gostar de extravasar a minha raiva. E agora é que me pergunto, por que não pensei nisso antes? Porque vejo agora que isso pode me acalmar e trazer muita satisfação, além de me preparar para eventuais problemas, mas só para me defender, é claro.
Ele me mostra um banco e faz sinal para que eu me sente, como não sei o que vai acontecer, me sento e observo.
Ele volta para a recepção, pelo menos é o que parece e volta com uma maleta de médico. Continuo só a observar e me contenho para não dizer nada.
Ele paga em minha mão com as talas e começa a tirar as faixas e em seguida tira as talas. Examina por um tempo minha mão e faz sinal positivo, como se isso fosse compreensivo.
Testo meus dedos, abrindo e fechado a mão e não parece nada mal.
─ Isso quer dizer que meus dedos estão bons?
─ Estão, mas espero que não force muito, pelo menos nos primeiros dias.
─ Então para que me trouxe até aqui se não vou poder socar alguma coisa? ─ ele começa a rir e realmente tenho vontade de socá-lo. Mas claro que não posso fazer isso... não ainda, é claro.
─ Qual é a graça? ─ ele percebe minha irritação e para de rir, mas o sorriso irritante que permanece, não parece coisa boa.
─ Você pode experimentar sim, só não deve usar de muita força, é claro. Mas em todo o caso, vai ficar bem, vou colocar uma bandagem em suas mãos e depois as luvas.
E assim ele o faz, deixando minhas mãos firmes, mas confortáveis. Já sinto que sou capaz de socar a cara dele, mas é melhor aprender como se faz. Ele já está me irritando, e pior, a culpa é minha, por ter dado toda essa confiança.
Depois que termina com minhas mãos e acho que o próximo passo é colocar as luvas, mas não, ele me manda ficar na frente do espelho que fica na parede oposta da entrada da sala de treinamento de boxe, fico em duvida do motivo para isso, mas não discuto e obedeço.
O Doutor aponta para o espelho e fico confusa, não entendo o que tenho que ver.
─ O que devo ver?
Ele se aproxima e para bem atrás de mim, perto demais até. Isso me causa desconforto.
E então ele passa os seus braços por entre os meus e quase  toca os meus seios.
─ Olha só para isso! Não há nada de errado, são anatomicamente perfeitos, mas não estão preparados para uma aula de boxe. Precisa de algo mais firme para usar quando for treinar. ─ meu sangue ferve e lhe dou uma cotovelada.
─ Pra me dizer isso, não precisa fazer isso! ─ ele se afasta e levanta as mãos como se rendesse.
─ Calma, não precisa se irritar, não vou te tocar. Foi só uma observação.
─ Acho bom. Porque não vai chegar perto dos meus seios. ─ ele concorda com a cabeça e com aquele sorriso irritante outra vez. Pega um elástico do bolso e me oferece.
─ Segunda observação. È melhor treinar de cabelos presos.
O encaro ainda de cara feia, pego o maldito elástico e prendo os cabelos em eu rabo firme, no alto da cabeça.
Só depois disso ele me coloca as luvas e me leva até o saco de pancadas, que será o substituto da cara dele. Não consigo parar de sentir raiva pela maneira que ele usou para me explicar algo simples.
Talvez eu até não desista de realmente fazer aulas aqui, mas vou exigir outro instrutor, não estou gostando nada disso. Tá me parecendo mais que segundas intenções.
Ele se posiciona para me mostrar como devo fazer e dá alguns golpes.
─ Você precisa afastar os pés e formar um "L" e se manter firme. Venha até aqui e faça e de alguns socos.
Faço o que ele diz e dou alguns socos, descobrindo que não é tão difícil e que gosto disso. Ele me mostra como socar adequadamente e me deixa se distanciando, pois seu celular toca e ele atende.
Não paro o que estou fazendo e nem tento ouvir a conversa dele, até porque, é difícil ouvir algo pela distancia que ele toma, mas pela cara dele, dá pra ver que não é boa coisa. E ele volta com uma cara estranha.
─ Sinto muito, Lisa, mas vamos ter que ir.
─ Aconteceu alguma coisa?
─ Problemas do trabalho. Venha, vamos tirar isso de suas mãos e vou te levar para casa.
─ Tudo bem. ─ na verdade me sinto aliviada por ter de ir embora, eu vi como ele me olhou o tempo todo. Isso me deu calafrios.
Estou livre das bandagens e das luvas e já estamos saindo quando o celular dele toca outra vez. Pela primeira vez vejo que ele está irritado, desliga o celular e guarda com raiva no bolso. Eu finjo não perceber e fico na minha, mas fico muito curiosa em saber o que tirou a falsa calma do Doutorzinho.
Passamos pelas portas, ele tranca tudo outra vez e liga os alarmes e caminhamos até o carro, pelo espaçoso estacionamento. Não falamos nada, apensa entramos no carro e voltamos para o meu apartamento. Agora estou incomodada, ele estava diferente.
Chegamos ao meu apartamento naquele silencio esquisito, dessa vez ele nem ligou o rádio.
─ Lisa, eu te ligo e marcamos uma outra aula, pode ser?
─ Vou ser sincera, não preciso de outra aula experimental. Mas pode deixar que... Vou pensar em me matricular. Se for o caso, eu te aviso.
Ele não responde, mas vejo que eu disse algo que ele não gostou. Não tenho medo de cara feia, então o encaro, mas ele não diz nada, segura minha mão, que agora está melhor, e a beija me olhando sério.
Não esboço reação, me viro, abro a porta do carro e saio, sem nem mesmo olhar para traz e entro no meu prédio.
Ele está redondamente enganado se acha que terá outra chance como essa, de estar sozinho comigo em um lugar fechado e vazio. Vai sonhando, imbecil. Não cometo a mesma burrice duas vezes.
Passo o resto do meu domingo comendo porcarias e lendo um livro novo que ainda estava embalado na minha estante.
Estou lendo uma cena bem envolvente e não entendo qual é o problema, por que tenho que pensar em Dean logo agora?
E pensando nele, agora no final do dia... O que será que ele está fazendo?

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