Quatro horas depois

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Brinquei com os meu celular enquanto ouvia Jenny dormir em minha cama. Eu estava sentada na cadeira a frente de escrivaninha.

“Comecei a me mover e percebi que havia algo me parando, uma mão, era Jason.”

Mordi minha bochecha com a lembrança e prendi meu cabelo com um elástico. Estava quente.

Ele não ligou, não mandou uma mensagem, não tentou falar comigo. Eu também não fiz questão. Não sabia quem tinha razão ou quem estava errado, porém de todos os modos ele havia me machucado.

Não apenas... não apenas escondendo a verdade de mim, porém quando ele... ele me magoou com as suas palavras, as palavras que ele escolheu.

Algumas delas, a maior parte delas, pareciam que ele havia recolhido de nossas conversas anteriores. Ele sabia meus segredos, eu contei cada um deles e agora ele estava usando-os contra mim.

O que seria de nós depois dessa briga?

Não, eu precisava de um tempo, não queria tomar decisões precipitadas e me arrepender depois.

Eu precisava que ele se afastasse. Neste momento Jason era uma das únicas pessoas que eu não queria ver.

“Pouco depois Jason começou a se mexer, um pouco de cada vez, uma mão, um pé.”

Desta vez era Jenny, ela estava voltando a vida depois de algo que poderia ser conhecido como a primeira grande ressaca da vida dela.

Tudo tem uma primeira vez.

— Minha cabeça dói — ela resmungou ainda com o rosto afundado em meu travesseiro com as marcas de sua maquiagem negra em seu novo desenho.

Os cabelos dela estavam armados, voltados para todos os lados quando ela se levantou e tomou a aspirina que eu coloquei ao lado de minha cama com o copo d’água.

— Eu disse que não era bom o que vinha depois de beber — coloquei meu celular na mesa, depois eu iria ligar para Vanessa.

— Foi bom enquanto durou — ela colocou o copo vazio na mesa e eu sorri — mas eu não sei se eu repetiria.

Ela sorriu de volta para mim, eu sabia que nenhuma de nós queria sorrir, porém eu gostava de saber que mesmo depois de tudo eu ainda conseguiria acordar todos os dias podendo sorrir novamente.

Ela saltou de minha cama, ainda estava com suas botinas e roupa inteira, passou a mão em seu rosto vendo as manchas negras.

Joguei para ela uma caixa de lencinhos de papel e ela retirou os borrões.

­— Tenho que ir para casa — ela disse e eu me levantei.

Começamos a andar, ela conhecia muito bem o caminho de entrada e saída, porém eu sentia que ela ainda queria detalhes sobre o que aconteceu naquela tarde.

As partes que não lembrava ou os momentos que tudo ficou confuso.

— Coma bem, tome bastante água, banho quase gelado e belisque suas bochechas, está muito pálida — eu a aconselhei abrindo a porta.

— Eu vomitei? — ela parecia apreensiva.

— Eu a carreguei em minhas costas, se você tivesse vomitado teria sido em mim e eu não teria permitido você encostar em minha cama se tivesse feito isso — dei um abraço nela e respirei fundo tentando averiguar se estava muito forte o cheiro de álcool.

Ela não tinha mais o aroma de bebida.

Também, depois do banho de perfume que eu dei nela, eu pensaria que aquilo se impregnou em suas células.

Mas isso foi apenas depois que eu escovei seus dentes.

Logo após ela ter vomitado no vaso sanitário.

Abençoados fossem os meus reflexos.

EstilhaçosWhere stories live. Discover now