Doze minutos depois

560 75 6
                                    

Doze minutos depois


Ficamos frente a frente à poucos passos do penhasco; fiz questão de não me aproximar mais, o chão estava escorregadio com o musgo úmido.

Entreguei o pen-drive a ele e ele o guardou no bolso.

— Sua vez — comentei tentando não olhar para ele, porém o vento estava contra meu rosto, o salgado do mar impregnando em mim, deixando-me grudenta.

— Seu irmão namorava Melody — não nego que foi uma grande surpresa saber que a história começava por ela — eles eram muito felizes até o dia em que ela, sem querer, foi a uma festa que eu estava e acabou tomando da bebida de Vanessa.

Ele sorriu para mim enquanto eu tentava imaginar qual era a festa que ele estava se referindo.

— Não demorou muito tempo para Vanessa me procurar dizendo que Melody estava perguntando pelo que havia dentro da bebida. Ela queria saber a droga que havia dentro da bebida de Vanessa.

Eram nomes e lugares que eu conhecia. Eram histórias que eu vivi e nunca soube de nada.

— Vanessa acabou cedendo a informação e Melody veio me procurar. Neste dia eu percebi que precisava de alguém que fosse meu intermediário, não queria lidar com as pessoas ao vivo e a cores. Vanessa me serviu neste aspecto.

Ele não era apenas arrogante, ele era ridículo.

— A garota — suponho que ele falava de Melody — era desesperada pela droga, tanto quanto qualquer viciado, era como se não conseguisse viver sem aquilo. Então ela apresentou seu irmão àquele mundo maravilhoso dizendo que comprava de Vanessa. Ele não comprava constantemente, apenas o suficiente para dias de prova ou brigas familiares — ele piscou para mim e eu recuei quase escorregando no chão — até o dia em que ele começou a consumir mais e mais.

Olhei para o horizonte, não queria ver como o seu rosto era indiferente a tragédia que acometeu minha família.

— Vanessa e William estavam traindo Melody, e ela sabia. Os dois tinham problemas, consumiam mais para tentar retirar de suas mentes os seus problemas, queriam afogar seus sentimentos nas drogas — ele enfiou suas mãos no jeans — neste mesmo tempo meu pai estava comercializando uma droga mais forte e a demanda aumentou.

O pai dele estava contrabandeando para adolescentes?

— William estava com uma grande dívida, disse a ele que se ajudasse Vanessa com o tráfico, sendo meu intermediário, eu poderia descontar aos poucos o que ele me devia. Seu irmão foi eficiente, você não acreditaria em quantas pessoas naquela escola dependem dos meus produtos ilícitos.

Estava começando a perceber que o mundo que eu vivia não era tão branco no preto quanto eu queria acreditar. Havia mais cinza do que eu gostaria.

— A dívida de Melody estava crescendo enquanto ela observava seu namorado se apaixonar por outra garota. Então a dívida ficou mais alta do que ela poderia pagar com dinheiro — ele gargalhou como se aquilo o fascinasse — descobrimos outra maneira.

Sexo.

Nojento.

Vadia.

— William não sabia, não desconfiava, ele pensava que ela estava parando e ficava culpado remoendo aquela sensação que estava traindo sua namorada. Ele me disse que iria parar de comercializar. Eu disse que se ele parasse teria que pagar integral com juros. O preço era um pouco exorbitante.

Minha mão latejava e eu sentia náuseas de ficar ao lado daquele garoto.

— Nesta época os boatos que Melody estava grávida se espalharam e ela contou ao namorado que ele não era o único suspeito de ser o pai. Ele terminou com ela. Então fiquei sabendo que vocês brigaram, bela briga, havia tantas palavras ditas que machucavam, mas não tinham veracidade... — seu celular começou a tocar — um segundo.

EstilhaçosWhere stories live. Discover now