Muitos anos depois
Haviam muitos ruídos bem distantes de Elisabeth. Ruídos que a distraíam da intensa luz a sua frente, porém nenhum deles conseguia mantê-la longe da mesma. Sua atração por ela era mais forte do que qualquer outra coisa que ela já havia sentido antes.
Mesmo um pouco hesitante, ela seguiu o seu caminho, hipnotizada por algo que não fazia ideia do que era.
Ela caminhou, sem rumo, sem contar o tempo que gastava e sem pensar se saberia voltar para o início de sua jornada. Nada disso a importava naquele momento. Tudo o que ela queria era saber o que havia de tão brilhante no final daquela estrada.
Os barulhos, de repente, cessaram, e ela olhou ao seu redor, vendo que tudo havia se transformado na intensa luz branca que agora a cegava.
Ela não conseguia mais ver suas mãos pálidas e enrugadas, ou seus sapatos ortopédicos que a ajudariam a lidar com sua joanete, ou até mesmo reclamar de sua prejudicada visão.
Não, ela não se sentia mais tão velha.
Ela não se sentia mais.
Ela não sentia mais nada.
E em apenas um minuto, ela viu toda sua vida bem diante de seus olhos. Do final até o início.
Ela assistiu todos os momentos que se prometeu jamais esquecer. O nascimento de seus netos. O casamento de seus filhos. A formatura de seus filhos. A morte de seus pais. Sua mudança para o continente. Seu casamento com Jason. Seu primeiro dia na delegacia. Seu embate com Andrei. Seu primeiro encontro com Jason. Seus momentos preciosos com seus amigos. E William.
E como se ela o tivesse chamado, William estava bem a sua frente, com o mesmo jeito criança-adolescente que ela havia visto pela última vez.
Ainda estava com sua franja ridícula, sua blusa vermelha, sua bermuda azul, o machuado em seu joelho e o cadarço desamarrado. Tudo o que ela se lembrava. No entanto o que realmente a chocou foram os detalhes que ela não se lembrava. Como o nariz dele era mais redondo que o dela. Como seus dentes eram mais alinhados. Como suas sobrancelhas eram mais grossas. Como seus olhos eram mais transparentes.
Ele estendeu a mão na direção dela e ela a pegou, vendo que havia rejuvenecido para a idade que ele a havia deixado.
Ela tomou sua mão com ternura, segurando-a com força e sentindo a maciez e o carinho se espalharem por sua pele.
Ele era mais real do que ela.
— Você está aqui — ela sussurrou, sentindo sua garganta se amarrar com todas as palavras que ela não seria capaz de pronunciar.
— Eu te prometi que iria esperar — ele deu se ombros, guiando-a por um caminho que vagarosamente aparecia ao redor deles.
Era um campo infinito, cheio de pessoas andando, conversando e esperando. O verde do campo estava colorido com flores, bancos e árvores. E acima deles, havia apenas uma luz branca, que desaparecia ao horizonte, um local que pessoas também desapareciam.
— Você me esperou por todos estes anos? — ela indagou, olhando ao seu redor quando eles escolheram um banco para se sentarem.
Era confortável, porém algo a dizia que ela deveria seguir em frente, até o horizonte. Contudo ela conseguiu resistir aquela vontade, porque William estava ali com ela.
Talvez não tivesse nem carne, nem osso, mas ele estava ali e aquilo era a única coisa que lhe importava.
— Não esperei muito. Tem pessoas que esperam mais — ele voltou a falar, vislumbrando algo que ela não conseguia enxergar. Ainda — mamãe e papai lhe mandaram oi. Eles queriam te esperar, porém eles já estavam cansados e queriam descansar.
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Estilhaços
Teen FictionPor que você precisa do amor? Você não precisa. Por que você sente saudade? Você não sente. Como seguir em frente? Você não segue. Elisabeth Marshall viu seu mundo despedaçar com a morte de seu irmão, Will. Cada. Pequeno. Estilhaço. Desapareceu bem...