Quarenta minutos depois

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Quarenta minutos depois

Entrei em casa pouco antes do anoitecer, acendi a luz da sala e fui até a cozinha; se eu conseguisse deixar o macarrão pronto não precisaria me preocupar com ele depois, seria apenas esquentar.

Acendi a luz da cozinha e comecei a retirar o que iria preparar: macarrão, panela, óleo, água.

Aquilo era o básico e eu poderia me lembrar do restante ao longo do processo.

Fui até o meu quarto para trocar de roupa, pois estava com muito calor e a calça comprida que eu estava usando não ajudava.

Arranquei a peça de roupa, estava prestes a sair quando algo prendeu minha visão e eu fiquei encarando sem realmente entender o que estava acontecendo... até que eu vi a janela de meu quarto aberta.

Scott esteve aqui?

Em cima de minha cama havia um buquê de cravos vermelhos, raros nesta época do ano, extremamente raros nesta ilha. Havia um pedaço de papel dobrado com o meu nome inscrito com a letra que eu já bem conhecia.

Não, não era Scott.

O bilhete estava meticulosamente dobrado, não conseguia ler o que estava escrito.

Havia palavras dele.

Poderia ser um pedido de perdão misturado com uma tentativa de retomarmos de onde paramos... ou poderia ser um pedido de perdão simplesmente por não ter dito antes que não daria certo e ele queria fingir que não me conhecia mais.

Eu não sabia muito bem o que fazer com as flores, na dúvida, preparei-me para fazer o que achei mais sábio para minha saúde.

Abri a janela o máximo que pude e peguei as flores pelo caule, mirei — sempre diziam que eu precisava melhorar a minha mira, pois eu sempre errava o alvo quando se tratava de algo muito amplo — tomei impulso e parei um pouco antes de arremessar as flores pela janela.

Pensei no que eu sentiria se eu visse as pétalas cor de sangue voando com a força que eu havia usado, vendo-as planar pelo quarto até cair no chão para eu pisoteá-las depois.

Elas deixariam um rastro por onde estiveram assim como eu fazia com o que eu tocava.

William e Jason tinham razão, eu amava demais, por isso não consegui destruir as flores.

Eu não queria magoar o dono de cada botão que aquele buquê tinha para mim.

Guardar as flores significaria que ele estava perdoado e que eu não me importava que ele mentisse para mim.

Agora não era mais apenas por causa de meu irmão e suas drogas, era também por causa do fato que ele disse que não queria me conhecer, que ele sabia que Melody iniciou meu irmão as drogas e não Vanessa.

Eu estava brava com ele por ele não ter tentado me convencer que a pensar da maneira correta mesmo não me contando sobre os segredos de William.

Ele poderia ter feito isso, apenas optou por não fazê-lo.

Andei pela casa com o buquê de flores, abri a porta de entrada e me dirigi até a lata de lixo, abri e joguei as flores lá com o cartão e tudo, nem me prestei a lê-lo, pois sabia que se eu o fizesse penderia a julgá-lo ainda mais.

Tanto para o bem como para o mal.

Eu estava cansada do drama que passava pela minha mente a tarde inteira.

“Eu não podia contar o segredo! Por que você não entende isso? Do mesmo jeito que eu jamais vou contar o que você me falou eu não posso falar o que ele me disse. Não é difícil entender, vivo ou morto, William ainda é meu amigo. Você deveria entender isso, se você...”

Eu não entendia da maneira que ele queria que eu entendesse.

Sinto muito.

Deixei o lixo aberto, coloquei a tampa ao lado, quem quisesse ver ou pegar as flores estava convidado, porém eu não tocaria em nenhuma delas.

EstilhaçosWhere stories live. Discover now