Um segundo depois

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Um segundo depois

Pronto. Ele iria me matar.

Já havia tentado uma vez, nada o impediria de tentar novamente.

Adeus, vida cruel!

— Bom trabalho — ele tomou o celular de minhas mãos e o guardou — onde estávamos? Minha história por meus dados? Acho que eu sou o único que tem a perder nesta história, não é?

O sarcasmo escorria de seus lábios como um veneno fatal que não o matava mesmo ele tendo engolido-o todos os dias de sua vida.

Neguei com a cabeça incapaz de mover meus lábios sem saber se eles me obedeceriam. Minhas mãos apertavam com firmeza o tecido de minha calça enquanto eu tentava respirar fundo.

Um caminhão estava passando por cima de mim.

— Não sou? O que você tem a perder? — era uma pergunta retórica, entretanto eu sentia que deveria responder, pois isso apenas o irritaria ainda mais.

— Meus amigos — murmurei impotente de me salvar e salvar as pessoas — minha família.

Onde eu fui me meter?

— Muito bem — ele fez carinho em minha cabeça como se estivesse adestrando um animal indomável, porém manso. Eu — agora que resolvemos este empecilho, gostaria de dizer onde estão os meus dados?

— Eles não estão aqui — eu estava encarando com tanta intensidade o garfo que senti que se eu usasse um pouco mais de força, ele dobraria.

— Aparentemente você não é tão estúpida quanto parece, estou impressionado — ele revirou os olhos como se estivesse conversando com uma criança. Eu me sentia uma criança — vamos buscar.

Ele se levantou quase nocauteando sua cadeira no chão e estendendo sua mão para mim.

Hesitei, não queria levá-lo para minha casa ou entregar a ele o pen-drive de Bliss, mas eu tinha que escolher.

Aquilo era o menos pior que eu estava aguardando nos últimos tempos, então nada poderia realmente ser melhor do que aquilo.

Eu estava lidando com uma pessoa que não tinha medo de matar outra.

Levantei sem a ajuda dele e o passei, pegaria o pen-drive e o entregaria sem hesitar. Se ele risse dos vídeos com Bliss ou descobrisse algo que eu não queria que ele descobrisse, bem... tudo bem.

Ele colocou uma mão em minha cintura. Eu o empurrei. Ele segurou minha mão machucada e colocou o seu dedo polegar em cima do lugar que sabia estar o corte.

Não resisti mais, não valia a pena lutar uma batalha que você já estava recebendo clemência.

Ficamos sem conversar o caminho inteiro, entrei em minha casa, peguei o pen-drive, saí e ele começou a me guiar por um caminho que eu já bem conhecia, mas não utilizava.

Ele estava me levando à praia.

Eu mudei o rumo, queria ir ao penhasco. O lugar em que tudo terminou, lugar em que tudo começou.

Terrível lugar.

Belo lugar.

Respirei fundo e não senti que eu havia respirado, era como se eu não pudesse mais encher meus pulmões de ar.

Eu estava sufocando com as minhas ações.

Se eu morresse naquele minuto... diriam que eu me matei ou que fui morta?

EstilhaçosWhere stories live. Discover now