Capítulo 2 (Sem Revisão)

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Aiden abriu os olhos mas sentiu dificuldade em focalizar por causa da forte luz do dia. As cortinas estavam abertas? Que diabos?!
Curvou-se para sentar e imediatamente sentiu uma pontada no peito. O tiro. Estava vivo. Subitamente se perguntou se o que acabara de presenciar não havia sido um sonho. Poderia ter imaginado o nefasto encontro? Um calafrio subiu por sua espinha, como se quisesse lembrá-lo de que tudo havia sido real.
Um barulho na porta lhe chamou a atenção. Era Linton que entrava no quarto, a expressão mórbida e desanimada deu lugar a uma assustadora efusividade ao constatar que o patrão estava acordado.

- Aiden! - O homem gritou aliviado e quanto corria em sua direção e sentava-se na poltrona ao lado da cama. - Que bom que finalmente acordou! Todos na casa estavam temerosos, especialmente eu, é claro! - Linton aproximou-se de Aiden, e como se tivesse medo de que alguém fosse capaz de escutá-los, sussurrou:
- Eu tinha certeza de que o vi morrer em meus braços! Seu coração havia parado de bater! No meio tempo em que fui buscar o cocheiro e voltei pude perceber que não havia mais sangramento e que seu peito se movia sofregamente, em busca de ar. Foi um milagre!

Aiden vontade de dizer que sua recuperação não se devia exatamente a um milagre, mas preferiu não abordar o assunto agora. Perguntou:

- Diga-me, por quanto tempo estive inconsciente?

O mordomo se ajeitou na poltrona, assumindo uma postura mais ereta.

- Por quatro dias. Trouxemo-nos para casa e o doutor Willis foi chamado mais do que depressa. Após extrair a bala e suturar o ferimento ele me disse nunca ter presenciado um caso assim. Reafirmando o que eu já lhe disse, que o senhor deveria estar morto! Não demorou muito e a notícia de sua recuperação milagrosa já havia se espalhado por toda a Londres, até por que lady Remington e aquele bruto que ela chama de irmão também presenciaram o mesmo que eu. Logo todos fofocavam sobre isso, falavam quo senhor voltou do inferno. Estão lhe chamando de "Conde Diabólico", pois nem o demônio foi capaz de contê-lo... - A ultima frase foi proferida com com cautela. Linton sempre fora muito supersticioso. Era seu amigo de infância. Não muito mais velho do que ele próprio, filho da anterior governanta da casa, a amada Sarah, que agora estava confortavelmente instalada em uma casa no campo, cuidada por Aiden como uma segunda mãe. Linton tinha os cabelos loiros muito lisos sempre bem cortados, usava um topete penteado de lado que lhe conferia um ar jovial. Os olhos azul claro sob sobrancelhas grossas e ligeiramente inclinadas passavam um errôneo ar de severidade. Alto e bem constituído, sempre arrancava suspiros das empregadas da casa, mas curiosamente parecia não dar atenção para nenhuma delas.

- Isso é uma tremenda bobagem, Linton. Sabe que não dou ouvidos a borburinhos. - Disse enquanto se levantava da cama. - Ajude-me a me vestir! Já perdi muito tempo nesta cama! - Ignorou o olhar perplexo do mordomo.

- Mas Aiden, você ainda está fraco! Apesar de sua espantosa recuperação a ferida ainda permanece e você perdeu muito sangue! - Linton amparou o amigo, que logo dispensou a ajuda.

- Você sempre foi muito dramático! Tudo o que eu preciso é que me ajude a abotoar o maldito colete e que depois vá falar com Laura que desejo comer, muito!

Aiden sentia-se muito bem mesmo. Queria se encontrar com Olivia ou Jeniffer para mostrar que ainda estava bem vivo, mas antes tinha assuntos importantes para resolver. Assim sendo chamou Linton logo após finalmente ter feito o primeiro desjejum depois de tanto tempo inconsciente.

- Diga-me, o que sabe sobre lorde Winterburg?

-Não muito. Ele e seu pai tiveram alguns negócios no passado, apesar de eu não saber o que o finado lorde Alex pudesse ter a tratar com aquele homem de tão duvidosa reputação.
- "Duvidosa reputação"?
Linton franziu o cenho. Por que o amigo estava tao interessado nisso agora?
- Bem, sabe-se que ele tem interesse em mulheres jovens da cidade. Prefere as mais simples, as quais não se daria muito crédito caso fossem a público...
- Linton, desembuche logo homem! Vá direto ao assunto!
- Diz-se que lorde Winterburg prefere quando elas lutam, de verdade...
Aiden agora entendia perfeitamente o que o desconcertado Linton queria dizer. Winterburg violentava as moças da cidade! Sentiu nojo.
- ... E ele também tem ligação com o tráfico de ópio. Falam que grande parte de sua fortuna vem disso, mas ninguém até hoje conseguiu provar nada...
Aiden socou a mesa, indignado. Essas terríveis informações só retificavam que o que acontecera com ele logo após o tiro era realmente verdade, e que mais do que nunca ele tinha que fazer algo.
- Mas por que você quer saber tanto sobre isso? - Linton perguntou, tirando-o de seus devaneios.
- Bem Linton, preciso contar algo a você...
Aiden abriu o jogo para o amigo que ouviu tudo com muita atenção. Apesar de temer a reação do cismado Linton, teve uma surpresa com a gargalhada incrédula dele.
- Então o que as pessoas falam de você tem certo fundamento
Você voltou mesmo das trevas! - Debochou.
Aiden revirou os olhos.
-Eu não diria isso. Eu tenho uma segunda chance. Uma chance para punir o verdadeiro mal. Me considero um anjo vingador. - Brincou.
- Bem, pela forma como tem vivido eu não o classificaria exatamente como um anjo... enfim, se você acha que esta alucinação de quase morte é um sinal para que comece a praticar boas ações você tem meu total apoio. Só tente não se meter em alguma confusão no processo.
Linton não havia acreditado em nada do que ele disse. Classificara apenas como um "delírio de quase morte". Pelo menos o amigo o apoiaria em sua cruzada pela redenção, por mais louca que parecesse.
- E eu realmente preciso de sua ajuda. - Pediu.
- Bem... Se estiver ao meu alcance, você sabe que farei. - Linton respondeu.
- Você havia me dito que lorde Winterburg é dado a rabos de saia, não é?
- Sim... Prazeres hediondos, mas geralmente apenas com mulheres mais simples. Costuma controlar-se com moças da sociedade, mas ainda é um pervertido, na minha opinião. - Linton remexeu o bonito rosto em desaprovação.
- Pois é exatamente por isso que precisamos de uma cúmplice que nos ajudará a desmascarar as atrocidades do crápula. Uma moça... "bem nascida", que correrá riscos mínimos durante a operação.
- Então me diga, quem seria esta moça? Por acaso conhece alguma lady da corte dada a planos ardilosos?
- É aí que você entra, Linton!
O amigo fingiu surpresa.
- Por um acaso não espera que eu me enfie em um espartilho e peruca para seduzir o bode velho, não é mesmo? De certo que não sou dos homens mais tradicionais, mas isso seria demais, até mesmo para mim...
- Obviamente que não! Preciso que nos encontre uma parceira. Uma moça anônima, que seja astuta e ambiciosa. Você tem parentes de boa situação na França, não é verdade Linton?
O amigo concordou.
- Parentes bem distantes. Duas tias e alguns primos por parte de pai que nunca conheci.
- Pois então arrumaremos uma bela "prima" recém chegada de lá. Esta "prima" será o ardil perfeito! Só precisa encontrar provas que apontem o tráfico de ópio para levarmos o homem a justiça!
- Bem, suponho que a moça deverá ter, alem de dentes, alguma fluência em francês?
- Exatamente! É claro que a moça em questão será muito bem recompensada. Ofereça uma boa quantia e todo vestuário que ela usar durante o tempo em que representar sua prima.
Linton sorriu. Parecia ter visto algum futuro nessa maluquice.
- Pois bem. Dê-me alguns dias para encontrar a candidata perfeita!
Aiden assentiu. Não era o melhor dos planos, mas tinha que servir. Enquanto isso ele teria que se inteirar dos próximos eventos sociais. A moça tinha que ser vista, notada. E que forma melhor de fazer isto do que comparecendo as reuniões sociais de Londres?

O Conde Diabólico(Concluída - Em Revisão)Where stories live. Discover now