Capítulo 6 (Sem Revisão)

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- Trabalhar em uma casa? Você?

A forma espantada com a qual Claude se dirigira a filha a deixou um pouco ofendida, mas preferiu não comentar.

- Sim meu pai. O senhor sabe como me agrada cozinhar. Surgiu-me esta oportunidade, e como pagam bem não deixarei passar.

O pai retorceu os lábios, pensativo. O volumoso bigode remexeu.

- Mas por que diabos o conde veio lhe entrevistar pessoalmente aqui? - Claude sabia que a filho constantemente se metia em confusão. Assim como ele, não perdia a oportunidade de tirar vantagem de uma situação, mas costumava ir longe demais e em várias ocasiões seu temperamento agressivo lhe rendera alguns sustos.

- O conde é um homem paranóico, não confia muito bem nas pessoas. Além do mais, passarei por um período de adaptação. Se eu não gostar voltarei imediatamente. -Sorriu de forma doce.

Claude franziu as sobrancelhas, num gesto de preocupação.

- Yolande, não vai me dizer que pretende usar este emprego para se aproximar de...

- Chega de papo. - Yolande interrompeu, se levantando. - Vou arrumar minhas coisas. Um coche virá amanhã me buscar! - Saiu, subindo as escadas para a parte habitável do imóvel.

O pai tinha sangue de barata. Sempre dizia que nada poderia fazer a um homem poderoso como Winterburg. Era como se tivesse aceito de bom grado o que aquele demônio havia feito a sua mãe, mas ela nunca o perdoaria! Essa seria a chance perfeita para sua reparação. Confrontaria o homem, como Hampshire pedira, mas no momento certo tiraria sua vida. A prisão era boa demais para o monstro.

Enquanto arrumava as coisas em seu humilde quarto se lembrou do sorriso fácil da mãe, Angela. De como os cabelos castanhos muito lisos emolduravam o belo rosto. Quando pequena, Yolande sempre acompanhava sua mãe ao rio, para as lavagens de roupa. Tinha apenas quatro anos na época, mas ainda se lembrava de ver escondida e impotente por detrás de um denso arbusto de amoras enquanto Winterburg forçava seu corpo enorme sobre o de sua mãe, não se importando com seu avançado estado de gravidez. Consumara o ato grotesco enquanto prendia Angela ao chão, aegurando-a pelo pescoço. Após o ocorrido sua mãe mudara completamente. Fizera a pequena Yolande jurar que nunca falaria nada com seu pai. Se tornou triste, distante e apática, até finalmente perecer semanas depois em um parto difícil, junto com a criança que carregava. As lágrimas teimosas voltavam a brotar em seus olhos. Quebrara a promessa que havia feito a mãe pouco antes de perdê-lá. Contou ao pai o que havia presenciado no rio. Ele pareceu furioso a princípio. Saiu de casa determinado, irado, deixando-a aos cuidados de uma tia que ficara para ajudar após o velório. Voltou dias depois, estranhamente orientou a ela que apenas esquecesse o ocorrido e que seguisse em frente. Nunca poderia. Graças aquilo adquirira um nojo desenfreado dos homens. A forma como todos a olhavam, com a mesma lascívia que vira nos olhos do algoz de sua mãe. Afinal, era apenas isso que eles queriam. Se esgueirar entre suas coxas e tocá-lá com violência para satisfazer sua luxúria, como se nada valesse. Vivendo cercada por todas essas figuras masculinas desde cedo aprendera a se defender e a aceitar que em sua vida nunca existiria nenhum outro sentimento além do ódio sua sede de vingança.

Aiden serviu-se de uma dose de whisky enquanto livrava-se do paletó, colete e gravata. Sentou-se na poltrona a frente da lareira, observando a madeira seca crepitar a medida que o fogo a consumia. Estava prestes a iniciar um plano louco que não teria mais volta, baseado em uma visão que teve enquanto lutava pela vida. E ai da por cima arrastaria consigo uma jovem e problemática mulher. Respirou fundo. Ainda podia sentir o cheiro de água de lavanda que emanava de seus belos cabelos. Sentiu um arrepio pelo corpo. No momento em que a vira o desejo tomou conta de seus pensamentos. Não podia controlar. Tentaria ao máximo manter seu relacionamento com a moça da forma mais profissional o possível, principalmente por que ela parecia guardar muito rancor e ressentimento dentro de si. Mais do que isso, medo.
Um súbito calor o despertou de seus devaneios. Não vinha da lareira, que ainda queimava com vigor. Virou-se na poltrona e viu a mórbida velha que encontrara enquanto esteve quase morto. Estava em pé no meio de sua biblioteca, com aquele mesmo sorriso debochado em sua face terrivelmente enrugada.

- Vejo que já começou a acertar as coisas para Winterburg. - Ela dizia enquanto se aproximava, as mãos atrás do corpo roliço, em seu andar vagaroso e caquético.

- Sim. Estou confiante na capacidade da jovem de ludibriar o velho e arrancar dele o que necessitamos.
A velha tocou as costas da poltrona, encarando-o com seus olhos enevoados pela idade.

- Tomara que não se alegue demais pela moca. Tenho certeza de que odiaria vê-la d coração partido...
Aiden levantou-se, indignado.

- De forma alguma pretendo magoa-la, apenas desejo agradá-lá. E acho que minha vida pessoal não é de sua conta, velhota petulante!

- Apenas achei prudente lembrá-lo de que está morto, e que deixará este mundo tão logo seja vitorioso ou fracasse em sua missão...

Aiden não havia se dado conta disso. Estava ali tão somente para incriminar Thomas Fallow e teria que fazer isso muito bem, do contrário uma uma eternidade de agonia o esperava.

- Tenho certeza de que deseja muito me ver falhar, mas não lhe darei este gosto! Quanto a srta.Lacroix não há o que temer. Estamos juntos para executar o plano, e assim o faremos. - Virou-se para uma das enormes janelas. Lá fora o vento agitava suavemente as folhas das árvores do jardim e a lua pálida iluminava o pátio. - O que faremos de nosso tempo livre não é do interesse de ninguém, esteja no céu ou no inferno!

- É o que veremos... - Sussurrou a velha.

Aiden voltou a se virar, afim de responder a velha grotesca, mas esta já havia desaparecido.
Tentou se concentrar plenamente no os de amanhã. Linton não pudera esconder o nervosismo em transformar Yolande em uma lady, e sinceramente isto o preocupava muito também. Foi deitar-se, mas não conseguiu dormir. A cabeça cheia de preocupações e a perspectiva de que estava vivendo seus últimos momentos o assombraram pelo resto da noite.

N/A: Desculpem pelo sumiço! Estou um pouco atarefada ultimamente e este capitulo veio depois de minha "editora" estalar muito o chicote em minhas costas! Kkkkkkkkkk prometo ao máximo não dar mais um hiato gigantesco desses e até semana que vem tem mais!

O Conde Diabólico(Concluída - Em Revisão)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora