Capítulo 20 (Sem Revisão)

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   N/a: Em comemoração ao início da revisão da estória estarei lançando mais este capítulo hoje. Yay! Em pouco tempo(eu espero) todos os erros ortográficos e de concordância estarão removidos. enjoy!

 Passaram-se alguns dias, Aiden estava em seu quarto trabalhando em mais permissões para transporte quando sentiu o gosto característico de sangue na boca. Lambeu o lábio e sentiu que mais sangue estava ali. Pegou a bandeja de prata que Linton usava para depositar as correspondências e olhou-se. Sangue escorria de suas narinas. Levantou-se para lavar o rosto na bacia que ficava ao lado da cama. Foi quando sentiu uma pontada lacerante do peito. Levou a mão ao local e sentiu o colete empapado. Quando o removeu constatou que a camisa branca também estava banhada com sangue, bem no local onde levara o tiro. Tirou a camisa também e se deparou com o óbvio: a origem do sangramento era sua cicatriz. Lavou-se e verificou que a pele do local estava perfeitamente intacta, assim como estava esta manhã quando tomou banho. Pegou no cabide um novo conjunto de camisa e colete e enquanto andava pelo quarto terminando de abotoar as peças deu de cara com a velhota pavorosa. Algo estava estranho, desta vez ela parecia ainda mais horrível. Algo em seus olhos a deixava assustadora.

- O que quer, criatura? - Ele serviu-se de uma bebida, nervoso. - Pretende me levar para o inferno com você antes do tempo?

A velhota continuou encarando-o, vidrada.

- Não acredito que veio aqui apenas para me olhar se desfazendo como um cadáver reanimado! Vamos, diga logo o que quer e pare de me assustar com essa cara monstruosa!

A mulher riu, uma gargalhada de gelar a espinha.

- Seu tempo está se esgotando Peterson. Você se acha tão esperto e conformado com seu destino, mas suas ações mostram o contrário. Está até tentando construir uma família... Provavelmente você ainda não se deu conta de que realmente é um cadáver reanimado...

Ele se irritou e jogou o copo contra a velha. O objeto a atravessou, como se ela fosse apenas uma ilusão.

- Nunca mais fale de Yolande! Não permito! - Proferiu, o dedo em riste. - Tudo o que eu quero nesta vida é dar uma vida digna a mulher que eu amo!

   Yolande caminhava pelo corredor do segundo andar da casa em direção ao quarto de Aiden. Estava contente. Economizara o suficiente para comprar um belo par de abotoaduras novas para ele. O amado lhe dissera que ela não precisava mais depender de um salário, que poderia ter tudo o que quisesse, mas ela havia deixado bem claro de que o trato entre os dois ainda não havia terminado e que preferia continuar recebendo seu dinheiro pelos serviços prestados. Estava admirando a bonita caixinha de veludo azul quando ouviu vindo do final do corredor um barulho de algo se quebrando. Correu e abriu a porta, vendo Aiden no centro do aposento. Tinha uma expressão furiosa no olhar e apontava para uma velhinha curva e enrugada. Cacos de vidro jaziam partidos perto da mulher.

- Aiden, você me assustou!

Ela se ajoelhou de frente para os estilhaços e começou a cata-los.

- A senhora está bem? Derrubou o copo por que sente algo? Não quer se sentar?

Aiden olhou da velha para Yolande repetidas vezes, confuso.

- Você consegue ver esta coisa horrorosa? - Ele perguntou, surpreso e incrédulo.

Yolande franziu o cenho.

- Aiden, que absurdo! Não diga isso! Aliás, por que não recebeu a senhora na sala de visitas e... - Yolande encarou a velha. Aqueles olhos continham sofrimento, dor, agonia. Mas não da mulher. Era quase como se a criatura carregasse dentro de si as mazelas do mundo.

Yolande ficou paralisada, fisgada pelo olhar da mulher. Sentiu uma vontade tensa de correr, se esconder, gritar, mas nenhum músculo em seu corpo ousava se mexer. Lágrimas involuntariamente desciam pelo seu rosto, dominada por uma tristeza imensurável e uma sensação de perda desesperadora.

A velha apenas ficou parada, observando-a como se fosse capaz de enxergar toda sua alma. Após longos minutos a mulher apenas saiu do quarto, andando bem devagar.

-...Yolande, está me ouvindo? Meu amor, responda! - Aiden sacudia ela, desesperado.

Finalmente caiu em si, agarrando Aiden pelas bochechas.

- Pare de me sacudir ou minha cabeça se soltará do pescoço! - Ela finalmente levantou-se. - Aiden, existe algo que você não me contou? O que você fez?

Ele engoliu um seco.

- Como assim?

- Não se faça de tolo e nem subestime a minha inteligência! - Ela andava em círculos, furiosa. Esta...esta coisa que estava aqui. Aquilo não era humano. Era perverso e malicioso e...Meu pesadelo! - Ela parou. - Em meu pesadelo, o que tive na noite de chuva, eu clamava por você, silenciosamente. Você não vinha, eu não te sentia. Era como se você não existisse. E na manhã seguinte eu toquei sua cicatriz. Era como se houvesse brasa brotando de seu peito e...agora esta visão! Aiden Peterson, me conte o que está acontecendo, AGORA!

- Esta bem. - Ele não podia mais esconder isto dela, por mais que parecesse loucura, era a vida dele agora. Arrasaria o coração de Yolande e isto doía demais dentro dele. - É melhor você sentar.

Ele começou desde o momento do duelo, passando pela terrível experiência no quarto quente onde encontrara a velha pela primeira vez e finalizando com o tratado que haviam firmado e que definiria o destino da alma dele. Yolande ouviu tudo com atenção e uma expressão indecifrável no olhar.

-...e isto é tudo. Você deve achar que estou louco, não é verdade?

Ela sorriu. Um sorriso triste é desnorteado.

- Aiden, eu já lhe disse que neste mundo existem coisas que não podemos definir ou explicar. Isso não significa que elas não são reais, mas sim que não temos o conhecimento suficiente para lidar com a situação. - Ela baixou a cabeça, ficando em silêncio mais uma vez. As lágrimas apenas rolavam.

Aiden simplesmente não sabia o que dizer. A mulher que era sempre decidida e passional agora perdia a fala. Ele sabia o que parecia. Que ele brincou com os sentimentos dela, se divertiu e agora a deixaria. Mas ele não sabia que iria se apaixonar e mesmo que soubesse com antecedência que se ligaria tão profundamente a ela faria tudo novamente apenas para passar um único minuto a seu lado. Era egoísmo, mas esta é a realidade do amor, a verdade nua e crua. Querer alguém para sí, não importa como.

- Yolande, diga algo! Está me deixando nervoso!

Ela levantou o semblante. O rosto inchado e a expressão passiva que não eram nativas dela cortavam o coração.

- O que quer que eu diga quando acabo de descobrir que perderei a melhor parte de mim e que não posso fazer nada! Tudo o que eu sinto é uma grande raiva por ter sido traída por você, mas não tenho coragem de demonstrar este sentimento ruim. Na verdade o que eu quero mesmo é poder te abraçar forte e ficar grudada em você até que nos tornemos um e que assim criatura nenhuma, deste plano ou sobrenatural, jamais poderá nos separar...

Aiden a abraçou, segurando o impulso de quebrar tudo o que via na sua frente. Por que a vida tinha que ser tão injusta? Por mais que ele tentasse não conseguia fazer ninguém feliz. Nem sua presença e nem o iminente perigo de sua ausência nunca trariam paz a ninguém.
Ficaram assim por longos minutos, até que Yolande finalmente desse seu desabafo por satisfeito e saísse ainda calada, deixando-o para trás no quarto escuro e vazio. Uma prévia de como seria sua eternidade, não importava para onde sua alma fosse.

O Conde Diabólico(Concluída - Em Revisão)Kde žijí příběhy. Začni objevovat