O detetive-chefe se incomodava com os flashes. Nunca lhe ocorrera tantos jornalistas de uma vez, o que o levou a crer que aquele caso era muito especial. Os jornais tinham fontes mais preciosas que a própria polícia. Eles deveriam saber muito bem quem eram os jovens mortos e a que gangue pertenciam.Sim, Albuquerque desconfiava que eles eram dos Senhores, chefes da prostituição e da venda de bebidas ilegais, eles tinham perdido força desde a morte de Silvio Cosini, o bairro ficou sendo disputado pelas gangues dos bairros vizinhos. Isso não queria dizer que não haveria quem se opusesse, alguém de dentro do Celeste, e tentasse formar uma rede como nos tempos antigos. Aqueles vadios jogados ao chão deveriam fazer parte da nova rede. Novos Senhores. Albuquerque quis rir.
As perguntas eram muitas e vinham como balas. Ele olhou para Fonseca parado ante a porta do Canta Bella. O seu imediato deu de ombros. Você é o chefão aqui, amigo, responda esta droga toda e vamos tratar de fazer nosso trabalho, ele deve ter pensado. Albuquerque odiava dar entrevistas, mas tinha responder alguma coisa. Era de utilidade pública.
Ergueu os braços fazendo cessar as perguntas.
- Senhores - começou -, isto que estão vendo foi um crime bárbaro, chocante e deprimente - olhava para as câmeras de televisão. - Vamos averiguar direito o que está acontecendo e tratar de pôr a polícia sobre controle disto tudo. A população pode ficar tranquila, estamos fazendo nosso trabalho. Sem mais perguntas, deixem-nos trabalhar.
Então saiu em direção aos policiais do pequeno centro do bairro. Era um pequeno departamento policial, com 10 soldados e dois oficiais, que tinham a função de manter a ordem ali em casos pequenos. Faziam pequenos trabalhos ostensivos, mas nada de investigações. Eram totalmente subordinados ao Departamento de Polícia Real, que ficava no centro.
- Onde estavam quando esta merda estourou? - perguntou ao grupo. Havia um grupo com cinco soldados e um oficial.
Um homem de meia idade, vestido com uniforme de patente e distintivo de sargento, de barba bem feita, como mandava o regimento, respondeu:
- Fazendo a ronda, senhor.
Os outros assentiram.
- E o outro grupo?
- Creio que fazendo o mesmo.
Albuquerque coçou o queixo. Imaginou o mapa do Celeste, trouxe à mente as informações que estava obtendo em seu escritório até que fosse avisado dos assassinatos que teria de investigar. Não era um bairro grande.
- Em que zona vocês estavam? - perguntou. - O celeste tem quatro quadrantes, certo? Norte, sul, leste e oeste. Esta rua pelo que sei é bastante movimentada, graças a seus bares e casas de festa. A mais movimentada do quadrante leste. Doze policiais, podíamos ter três em cada quadrante - o sargento parecia não gostar do tom de voz do jovem detetive. De fato, Albuquerque impôs a si o tom de voz mais arrogante possível. - Em que zona estavam, sargento Moura?
O sargento fixou o olhar nos olhos castanhos de Albuquerque. Achou-o petulante. Era algo que ele tinha de se acostumar. Era jovem para o cargo, claro, na mente dos policiais mais velhos e, principalmente, dos oficiais que almejavam o posto havia séculos. Além do mais, os velhos nunca gostam de ouvir ordens de alguém com menos idade. É uma forma de sacrilégio.
Arranhou a garganta.
- Estávamos no quadrante norte - respondeu. - Mais alguma pergunta?
Albuquerque riu.
- Eu só tenho perguntas, por enquanto. - falou. - Por que diabos não vieram logo para cá? Creio que todas as viaturas foram informadas desta merda, ainda mais as do bairro.
O sargento ainda o fitava. Ele não baixava a cabeça. Não se sentia intimidado por ninguém. Todas as tentativas de fazê-lo se sentir apreensivo não tinham êxito. Estava frio como um gelo e também fitava o homem alguns centímetros mais alto. O uniforme era preto, o distintivo ficava do lado esquerdo da camisa onde se lia Sgt. Moura O+, podia-se ver o volume por baixo da camisa, o colete.
- Estávamos coletando informações sobre os Senhores - respondeu o sargento. - Precisávamos de toda força policial possível e não ouvimos o chamado.
Albuquerque balançou a cabeça.
- Hã, então estavam com os comunicadores pessoais desligados - disse. - Vou levar isso em conta, sargento. Espero que cooperem com o que descobriram. Os Senhores me são de muita importância.
Voltou até Fonseca que estava sendo bombardeado pelos jornalistas. Abriu caminho por eles e ficou de frente paras as câmeras.
- Já lhes disse que as perguntas foram encerradas - voltou-se para o amigo. - Vamos.
Começaram a andar até o Maverick GT. Albuquerque puxou o celular do bolso e discou, colocou sobre o ouvido e esperou alguns segundos. Pararam ante o carro, ele abriu a porta para entrar, mas a pessoa atendeu à chamada.
- Tommasi? - falou ele. - Sim, aqui é o Albuquerque, quero que traga Florenzi e Castro à Rua Camilo Castelo, onde houve os assassinatos. Vocês vão interrogar algumas pessoas - acenou para que Fonseca entrasse no Maverick. - Sim, preste atenção, você tem informantes pelas ruas do Celeste? - entrou no carro. - Sim, isso, quero que busque o máximo de informação sobre os Senhores. Sim, sei que posso confiar em você, em vocês. Eu mesmo faria isso, mas tenho outra coisa a resolver. Claro, o caso ainda é meu, mas creio que você será muito útil, é o melhor em apertar vagabundos. Certo, até mais.
Desligou.
Funcionou o carro, tirou do ponto morto e o ajeitou para a Avenida da Liberdade.
Olhou para Fonseca antes de acelerar.
- Conhece o sargento Moura, inspetor?
Fonseca assentiu.
- Nunca gostei dele.
Albuquerque riu.
- Ele não deve gostar de nós também... - acelerou. - ... Nem das pessoas do bairro onde trabalha.
Como prometido, mais uma quinta-feira, mais um capítulo de Ruas de Sangue. Espero que gostem. Se gostarem, já sabem, dêem o voto e compartilhem, é muito importante.
Agradeço desde já,
Dio
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Ruas De Sangue
ActionAs ruas já não são como antes. Claro, violência sempre existiu, mas as coisas estão muito, muito mais pavorosas. Houve dois assassinatos numa rua bem movimentada da capital. Pessoas estão aterrorizadas. A última vez que mataram alguém ligado aos gru...