Reunião

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Gregório Monteiro andava de um lado para outro na sala de estar da Casa dos Senhores. Daniel lhes havia dito o que se passara em sua volta de ronda com Filipo, quem haviam visto.

- Se for verdade, Danny - disse ele - estamos ferrados, amigo.

Daniel apenas acendeu um Black Whore. Ele já sabia o que o dinheiro podia fazer a um homem e desde a última reunião, quando a guerra entre as famílias chegou ao fim, não poderiam se assustar com aquilo. Uma família pagando outra para poder vender seu produto em seu bairro. Eles sabiam que isso aconteceria, agora era esperar para o chumbo grosso correr solto.


Os Senhores, por ora, estavam sozinhos nessa. Pior, já haviam sido atacados. A família Tentrini não parecia querer nenhum tipo de acordo com eles, já estavam com os Wild Dogs, do Boa Vista e, como ele tinha visto no dia anterior, com os safados da zona oeste: Los Cabrones. Não se engane com o nome, eles não eram hispânicos, nenhum falante de espanhol tinha poder sobre bairros, eles eram apenas incorporados às gangues e usados como soldados, ou escudos.

- Filipo e eu vimos - disse Daniel. Soltou um pouco da fumaça. - Não há necessidade de ficar a correr pela sala como se tivesse o rabo coçando, sente-se - apagou o cigarro apertando-o contra o cinzeiro. - Vamos lá, amico, non è cosi male, è¹?

Gregório balançou a cabeça.

- Não, Danny, é terrível - falou se sentando. O colete apertado sobre a camisa branca lhe dava um ar aristocrático, ao menos era isso que ele imaginava. - Não temos força pra lutar, armas, apoio, nada.


Daniel Cosini recostou-se na sua poltrona.

- Preocupa-se demais, Gregório - disse. Tirou mais um cigarro da carteira e apontou para Gregório. - Vejam, rapazes, vejam com ele se preocupa - e deu uma leve risada.

- Danny - chamou Larry -, como pode estar tão sereno?

Com o cigarro já entre os lábios, o intendente dos Senhores abriu os braços e balançou a cabeça. Deu uma baforada. O efeito da nicotina vindo à tona, ele amava aquilo.

- Creio que está tudo resolvido - respondeu. - Apesar de estar um pouco atrasado.

Gregório o fitou confuso. Ele era do tipo mais agitado, do tipo que gostaria de agir logo, efeito surpresa, as táticas alemães durante a Segunda Guerra Mundial eram as que mais gostava. Mas ele não era o intendente, era o papel de Daniel Cosini e Daniel Cosini era italiano e os italianos crescem ouvindo as histórias dos generais da Roma antiga. Daniel era assíduo naquelas histórias, conhecia o tempo que Caio Júlio César havia ficado na Gália ou, como o favorito dele, o General Fábio, havia vencido a batalha retardando-a.

Fábio Máximo, de fato, foi inteligente. Imagine vencer Aníbal assim, trocando várias vezes de planalto cada vez que se ameaçava um confronto direto com os cartagineses. Ele venceu uma batalha assim. Será que Daniel, pensava Gregório, desejava fazer o mesmo que seu ídolo? Será que a nuvem que costumava observar do alto do monte se transformará numa chuva tempestuosa?

Houve batidas na porta e alguém entrou. Era um dos soldados deles. Havia alguém desejando entrar, um senhor de barba já quase inteiramente branca, com um terno e uma maleta.

- Ótimo - disse Daniel. - Reviste-o e mande-o entrar.

O rapaz assentiu.

- Quem é? - perguntou Filipo.


Daniel apagou o cigarro e curvou-se para frente.

- Vamos deixar que ele mesmo se apresente.

Então o soldado abriu a porta, mas dessa vez somente o homem visitante entrou. Daniel abriu um sorriso. Ficou de pé. O soldado mostrou da porta uma pistola, o intendente assentiu. Claro, um homem como aquele não andava sem proteção.

Ruas De SangueWhere stories live. Discover now