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            RUAS DE SANGUE: PARTE II

Dezenas de mortos e a ineficácia da polícia

Bellum – Na madrugada do dia anterior as ruas da zona norte, precisamente do bairro do Bacci, foram manchadas com sangue, mais uma vez em menos de dez anos dos acontecimentos passados.

Desde que o Reino de Monseleste voltou a ser uma monarquia parlamentar, democrática e livre, a luta contra os efeitos sociais que a ditadura socialista impôs é constante. É-se sabido que o combate aos jogos de azar e à bebida criou os monstros que habitam o submundo na capital, mas que causam uma influência muito grande na vida normal da cidade. Em toda vez que as feras da chamada SubBellum resolveram que deveriam dar as caras ao mundo onde o sol aparece, o resultado foi o insuportável cheiro de morte misturado a lágrimas e ineficácia da polícia em resolver os casos, para não falar em coibi-los. Vale lembrar que a guerra acontecida há cinco anos não teve um homem preso, além de Francesco Catto, que estava envolvido com venda de bebidas ilegais.

A esperança de El-Rei era que o jovem detetive Francisco Albuquerque desse fim à guerra que as famílias vinham travando. Chegado ao posto mais alto da polícia, Albuquerque era elogiado pelos colegas de classe e de universidade, neto de advogados importantes do Reino, mostrou-se um profissional não tão bom quanto o currículo dizia. Teve um policial vítima de atentado numa barbearia, e não conseguiu solucionar quem o fez. Diante de tantos homicídios, ele tentou ligar pontos que se mostraram chave no início, mas não suportaram o peso dos álibis.

Ao conduzir Daniel Cosini, Filipo Venturini e Gregório Monteiro à delegacia da Polícia Real, frustrou-se ao fortalecimento da defesa dos rapazes e da não chegada ao termo do caso.

“Tentaram dizer que meus clientes tinham cometido os assassinatos, mas a acareação não encontrou vestígio de pólvora em suas roupas ou corpos, além de não terem testemunhas. Os rapazes estavam procurando o carro de Daniel, que fora roubado por um membro da sociedade deles, encontrado morto na praia com um tiro no peito. Não sabem o motivo, não sabem quem matou aqueles rapazes negros, não sabem sequer quem atentou contra o detetive Tommasi. Agora acusam alguém sem poderem provar”, disse Filipe Castro, advogado dos jovens conduzidos.

Perguntado sobre a frustração do caso e a não resolução do inquérito, Francisco Albuquerque disse apenas que “a Polícia Real continuará investigando e que a acusação aos jovens não será levantada tão facilmente”. Eduardo Coimbra foi preso por tráfico de armas e confessou citando o nome dos rapazes como os receptores de fuzis russos e munição. “As acusações são fortes”, continuou o Detetive-chefe, “eles dizem que não tiveram esse tipo de contato com Eduardo Coimbra, mas vamos ver quem está mentindo”.

O impasse está aí, no jogo de quem é culpado ou inocente, as vidas vão-se perdendo. A criminalidade na capital tem subido, diferente de outras partes do Reino. Bellum chega a ter 20 mortes a cada 100 mil habitantes, só neste início de ano. Nos 12 meses anteriores, a cidade resgistrou um número de 13 mortes a cada 100 mil habitantes. Um aumento de 55% em 6 meses. O ano não parece que vá melhorar durante o segundo semestre.

Por Mateus Nóbrega.

                                 ***

Mateus Nóbrega vinha sendo uma pedra no sapato de Albuquerque. Toda vez que ele dava uma passo em falso, o jornalista policial d’O Observante escrevia 500 palavras sobre os erros e a ineficácia da Polícia Real em coibir e investigar os crimes que aconteciam.

Ele amaçou o jornal e o jogou na cesta de lixo. Ele não podia ir contra as palavras do homem, nem da família Matarazzo, dona do jornal que sempre teve uma posição de desmoralização da polícia e do reinado. Agora que os detetive-chefe e o rei eram jovens e tidos com desconfiança, eles vinham atacando sem dor e sem piedade a ambos. Mas aquele artigo era verdade. A polícia tinha-se mostrado fraca e a violência tinha subido em 65% na capital.

Albuquerque coçou o queixo, onde nascia uma barba grossa e desleixada. Amélia havia lhe dado algumas informações, mas nada que pudesse levá-lo a prender Daniel Cosini, naquele jantar. Estava metido com coisas ilícitas, mas não dava mostras disso. Não eram drogas, eram bebidas e jogos e a lavagem de dinheiro? Não sabia como. Tudo em seu nome era dado como renda de um mercado, que realmente e existia, e boa parte da pequena fortuna vinha de apostas em jogos de futebol.

Não podia prender o rapaz sem provas. Precisava provar, mas como? Acendeu um cigarro pensando nas possibilidades, sabendo que ele tinha cometido tudo aquilo. As armas? A palavra dele contra a de Eduardo Coimbra, a acareação não deu resultado positivo. Demoraram muito para ir à casa.

Precisavam saber quem era o homem gordo que recebera as armas. Somente ele poderia dizer a quem ele deu, quem ele representava. Deveria ter deixado Florenzi seguir o homem. Se arrependimento matasse… Procuraram nas fotos de arquivo alguém semelhante ao homem gordo, mas não acharam.

“Giocatore”, foi assim que Eduardo Coimbra o chamou. “Jogador”… estava sendo um jogo e ele, Albuquerque, estava perdendo.

Ruas De SangueWhere stories live. Discover now