Cosini

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Este capítulo é dedicado a Monaliza Cerqueira. Obrigado!

Não houve velório, logo pela manhã todos eles estavam reunidos no cemitério. A mãe de Marco preferiu enterrá-lo logo, não precisava ficar vendo que o filho já não tinha mais a alma junta ao corpo.

Daniel cosini estava ao lado de Caterina Bergani, irmã mais nova de Marco e, para ele, a moça mais bela de todo o Reino de Monseleste. Os olhos verdes dela estavam fixos no caixão que descia em direção à cova, enquanto o padre dizia algumas palavras. Ela odiava a vida que os Senhores levavam, mas mesmo assim apaixonou-se pelo rapaz a seu lado. Daniel também a amava, e explicava sempre o motivo de eles viverem daquele jeito. O governo era um poderoso clã de ladrões que não odiavam o crime, mas não poder lucrar com ele. Era uma matemática simples, que o seu pai lhe havia ensinado: se o governo não tira a sua parte em impostos em algum negócio, ele vai arrancar o negócio.
Qual era a imoralidade no jogo ou numa bebida mais forte? Prostitutas existiam desde sempre. O que eles faziam era apenas dar divertimento a alguns bons homens, nada demais. Não era necessário invadir o bairro com velhos fardados tentando impedir o crescimento de alguém. Eles tinham de combater aquilo que realmente era perigoso, as drogas, o que havia tirado dele o seu amigo e cunhado.

Caterina chorava, agarrada, agora, ao braço de Daniel. Ele lhe deu um abraço. O padre entregou, então, a alma de Marco e a terra começou a ser lançada por sobre o caixão. Marco amava terno risca de giz, usar um de madeira talvez não o agradasse.
Daniel ajeitou o seu Fedora na cabeça e fitou a terra já impedindo a visão do caixão. O amigo havia sido enterrado, estava morto e coberto por terra, estava morto, estava morto. Por fora, a frieza pintava seus olhos castanhos, por dentro, a raiva e o desprezo pela vida de quem lhe arrancara seu Capo.

Começaram a andar. A senhora Bergani chorava sendo consolada por Gregório. Ele havia crescido na casa dela, natural ceder o ombro para que ela se derramasse.

- Daniel Cosini - ele ouviu uma voz masculina dizer. O homem de batina caminhou até seu encontro quando ele estancou. - Preciso falar com você.

Daniel assentiu. Seu pai lhe ensinara que não se pode deixar de dar atenção a três tipos de pessoas: mães, mulheres grávidas e padres.

- Caterina, vá com sua mãe - sussurrou no ouvido da moça.

Ela concordou com um aceno.

- Sua benção, padre - disse antes de sair dando-lhe um beijo na mão negra.

- Deus a abençoe.

Daniel fitou o padre.

- Então, o que vossa reverendíssima deseja deste pobre pecador? - perguntou.

- Vamos nos sentar naquele banco.

Daniel achou estranho de início o pedido do padre, o que ele queria falar que não podia dizer em pé? Qual era a seriedade do caso? Será que iria pedir uma quantia grande para a festa de Santa Cecília? Eles davam colaborações bem gordas todos os anos para festa, Gregório dizia que era uma forma de aliviar a mente diante de toda a maldade que faziam.

Daniel foi até o banco, seguindo o padre que foi a sua frente.
Sentaram-se.

- Bem, Daniel - começou o padre -, serei bem direto.

Daniel assentiu.

- Vamos ajudar na festa deste ano novamente - disse.

O padre abanou a cabeça algumas vezes.

- Não quero falar da festa deste ano - respondeu. - Quero falar que acredito que tenha dentro de você a vontade de causar alguma represália a quem fez isso com Marco. Meu filho, não jogue sua vida fora.

Daniel olhou para o chão, depois para o céu. Então parou os olhos nos olhos compassivos do padre.

- Padre, tenho muito respeito pelo senhor e pelo seu ministério, por tudo que faz pelas ruas do Celeste. É um homem de Cristo, mas não posso deixar um assassino impune. Devo aplicar uma pena temporal a ele, antes de o diabo ter a alma.

O padre riu.

- Meu filho, você não é juiz nem deste, nem do outro Reino - pôs a mão no ombro de Daniel. - É um pedido que lhe faço, não busque uma revanche, não traga para você, seus amigos e sua família uma guerra. Quem mais vai precisar morrer?

- Quem fez isso a Marco, esse, sim, merece morrer.

O padre entrelaçou os dedos.

- Veja, você deve conhecer um pouco das escrituras; quando Jesus estava para ser pego pelos soldados romanos, Pedro atacou um deles e cortou-lhe a orelha.

Daniel assentiu.

- Mas Jesus curou o homem e disse algo muito significativo a São Pedro - continuou o padre.

- o que ele disse?

- Que quem vive pela espada, morrerá pela espada.

Daniel fez silêncio. Tirou o chapéu e puxou os cabelos para traz, olhou sua futura esposa encostada no seu Cadillac DeVille. Ela era linda, até mesmo triste. Doce, carinhosa, afetuosa. Ela realmente não merecia morrer na flor da idade. O negro do seu vestido composto, era contrastante com a pele pálida. Ele queria ter uma vida longa com ela. Mas não poderia enquanto houvesse quem lhe desse tiros a torto a direito. Os Tentrini não iam parar em Marco, eles queriam o domínio do Norte. Queriam monopolizar as drogas por ali e era isso que o padre não compreendia.

- Danny - chamou o padre - entenda, quem vive pelas armas, morrerá pelas armas.

Ele levantou-se e colocou o chapéu de volta na cabeça.

- Padre Fernandes, não precisávamos viver pelas armas antes de começarem a atirar em nós - começou a andar. - Sua benção.

Foi ao encontro de Caterina, enquanto o padre lhe cobria por trás com um sinal da cruz.

Estancou de frente para a moça loira de cabelos presos. A graciosidade de seu rosto era algo que o encantava. Para ele, angelical.

- O que o padre queria? - ela perguntou.

- Tratar de algumas coisas sobre a festa de Santa Cecília - mentiu. - Vamos?

Ela concordou. Ele abriu a porta e ela entrou. Depois entrou e sentou no banco do motorista, ligou o carro e esperou Larry e Filipo saírem. Começou a segui-los.

Gregório ia logo atrás deles, com a senhora Bergani. Os outros iam atrás deles, num cortejo fúnebre.

- Parece que vai chover, Danny - disse Caterina. - Veja como as nuvens estão negras.

Ele reparou olhando direto para o céu. Estava encoberto.

- Verdade - foi apenas o que disse.
O silencio invadiu o carro como fumaça invade os cantos de um cômodo em incêndio. Eles não precisavam falar mais nada. Havia um pacto que impedia Daniel de não proteger as mulheres da família de Marco, as únicas pessoas que ele tinha. O pai havia morrido do coração antes de Marco se envolver no submundo. Elas só tinham Daniel agora e ele só tinha a elas e aos Senhores. Era apenas isso que importava.

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Ciao, galera! Tudo bem com vocês? Espero que sim. Mais um capítulo postado e espero que vocês compartilhem comigo o que estão achando da estória. Só clicar em comentar e dizer o que se passa, capisce? Até a próxima,
Dio

Ruas De SangueWhere stories live. Discover now