Capítulo 13

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     _Não atende!
   Raquel já estava começando a se preocupar com esse sumiço de Marina.
   -Deixa ela pra lá -disse a sua mãe- você vem com a gente, cabe mais uma no carro.
   A cerimônia do casamento já havia acabado, a festa do casamento já estava acabando, estavam indo embora e nada de Marina aparecer.
   Raquel passou a cerimônia e toda a festa mandando mensagens para ela e nada dela responder. Começava a se preocupar.
   "O quê seria aquela coisa que tinha que resolver?"
   Já em casa, Raquel tentava não se preocupar, dizia a si mesma que Marina sempre fazia isto, que era normal ela sumir assim do nada.
   "Ela está bem, não se preocupe atoa!"
   Verificava o seu celular de dois em dois minutos para ver se chegara uma mensagem dela, nada ainda.
   Ainda na caixa de mensagens, viu as mensagens de Bruna que ainda não tinha apagado, as releu.
   De certa forma sentia se confortável com Bruna, a fazia desviasse um pouco de seus pensamentos sobre Marina.
   Digitou rapidamente uma mensagem a Bruna pedindo lhe desculpas por não ter respondido as suas mensagens de preocupação.
   Bruna responder alguns segundos depois.
  
   "Ok. Você está bem??
     Quer conversar??"

   Raquel não sabia se queria conversar com ela, nem sabia o que conversar.

   "Não sei...
    Acho que vou dormir. Cansada!"

   Houve uma pausa de alguns minutos, Raquel pensou que Bruna estivesse ocupada porque estava demorando a responder, ou talvez que não a quisesse incomodar mais e como Raquel, estaria desconfortável em conversar com ela. Mas Bruna estava decidindo se contaria ou não para Raquel que esteve com Marina essa tarde.

   "Tudo bem. Pode ir dormir."
   "Eu vi a Marina hoje..."

   Raquel digitou rapidamente antes mesmo de sentir o frio na barriga.

   "A onde foi isto?
    Que horas?
    Vocês se falaram? "
    "Estou preocupada!
    Não a vejo desde hoje a tarde.
    Ela não me atende e nem me manda mensagem!!"

   Bruna parou de escrever assim que leu a última mensagem, sentiu se culpada. E se fosse a sua culpa Marina ter sumido? Não que tenha feito alguma coisa com ela, só disse a verdade. Ligou para Raquel.
   Contou lhe que se esbarraram na rua mas não contou lhe que Marina a procurara e nem que palavras 'gentis' foram trocadas entre elas. Bruna tentou tranquiliza-la dizendo que ela deveria estar bem e que não era para se preocupar. Tentava esconder a preocupação em sua voz.
   Ainda sem notícias de Marina, Raquel foi dormir. Dormiu um sono agitado cheio de sonhos esquisitos.
   Já era tarde quando acordou naquela manhã, levantou se para ir ao banheiro fazer xixi. Ouviu vozes no andar de baixo, provavelmente da TV ligada enquanto a sua mãe preparava o almoço.
   Voltou para a cama.
   _Merda!!
   Seu celular estava descarregado em baixo do travesseiro. Agora não saberia se Marina havia ligado enquanto estava dormindo.
   Raquel se odiou por não ter colocado o para carregar. Enquanto o celular carregava um pouco, desceu as escadas para comer alguma coisa.
   Já no pé da escada, achou estranho que as vozes não vinham da TV, estava desligada, as vozes vinham da cozinha.
   Entrou na cozinha limpando as remelas dos olhos.
   Não demorou muito até reconhecer Marina sentada de costas para porta, a sua mãe lavava alguma coisa na pia.
   Sorriu aliviada se aproximando de Marina.
   _Bom dia! -abraçou a por trás.
   _Bom dia! -Marina e a sua mãe responderam ao mesmo tempo.
   _Desculpe se me ligou e eu não atendi, esqueci de colocar meu celular pra carregar -disse Raquel para Marina enquanto preparava alguma coisa para comer.
   Marina não havia ligado para ela mas não disse nada, só balançou a cabeça afirmando não ter problema.
   Raquel serviu se de algumas torradas, um pedaço de bolo e um copo cheio de vitamina, ofereceu a Marina que agradeceu recusando.
   _Tem muito tempo que está aqui? Por que não me acordou? -pergunta Raquel sentando se na mesa.
   _Eu não queria te acordar -respondeu Marina sem olha-la.
   Raquel sentia se incomodada com a sua mãe que fingia não ouvi-las e nem vê-las ali na cozinha, chamou Marina para sentarem se na sala.
   Notou as sua roupas amarrotadas que eram as mesmas que usara ontem. Era estranho vê-la assim, Marina era toda certinha, as roupas eram bem passadas, limpas, o cabelo sempre arrumado, diferente do que via ali, o cabelo estava preso de qualquer jeito.
   _Aconteceu alguma coisa? -pergunta Raquel depois que Marina senta se no sofá- você sabe que eu fico preocupada quando você some, né?
   Marina não disse nada. Queria jogar tudo na cara de Raquel mas não sabia por onde começar.
   Nesse meio tempo o Desespero, o gato, senta se no pé de Raquel esperando ela lhe dar o que está comendo. Ela molha um pedaço da torrada na vitamina e dá para ele comer.
   _Agora chega! -diz ela para o gato. Vira se para Marina- o que foi fazer para aqueles lado... perto da casa de Bruna? Ela disse que se esbarrou com você...
   Marina sorri irônica.
   _Só podia ser... vejo que vocês são bem amiguinhas, né? -disse com desprezo.
   _Ela só disse porque eu estava preocupada com você. Não começa, tá?
   _Não começar? Eu ainda nem comecei! Eu me encontrei com ela para dizer para ela ficar longe de você, para desaparecer das nossas vidas, mas sabe o que ela me disse?
   Raquel parou com o pedaço da torrada na boca. Se perguntava o porque Bruna não contou aquela parte.
   Marina se levanta, não aguentava mais ficar sentada.
   _Mas que droga Raquel!!
   Começou a andar de um lado para o outro.
   _Quantas vezes eu lhe pedi para que se abrisse comigo? Que confiasse em mim? 
   Raquel a seguia de um lado para o outro com os olhos. Tentava entender a onde Marina queria chegar.
   _Me responda Raquel!
   _E-eu não sei... -piscou algumas vezes.
   _Ah você não sabe!?
   Raquel levanta se para ficar no mesmo nível que Marina.
   _Eu não sei do que você está falando!
   Marina da um passo a frente.
   _Não se faça de sonsa Raquel! Eu estou falando de que nestes quase dois anos que estamos juntas, você ainda não confia em mim -a esta altura Marina já não conseguia controlar a sua voz- além de transar com a primeira vadia que passou na sua frente, você ainda tem que ficar de fofoquinha sobre as nossas vidas com ela...
   _Não fala assim dela!
   _Está vendo! Você ainda a defende -Marina se aproxima mais de Raquel ficando cara a cara- nunca ouvi da sua boca que me amava -balança a cabeça- mas disse que me amava para uma pessoa que nem conhece direito...
   Raquel não sabia o que falar, nunca a viu daquele jeito. Marina nunca perdera a calma assim seja por qualquer coisa. Por mais que a situação fosse grave, Marina sempre a enfrentava com calma, frieza e a voz sempre calma e firme.
   De certa forma, Raquel entendia ou tentava entender o seu lado, deveria dizer o que sente a Marina e não a Bruna. Mas Bruna era diferente, sentia se bem com ela, a sua compreensão, a sua companhia, a sua alegria contagiante...
   _Desculpe...
   Marina a interrompe.
   _Desculpe, desculpe, desculpe -balança a cabeça- você está sempre pedindo desculpas das burradas que faz. Por que ao invés de você ficar se desculpando, por que não tenta fazer a coisa certa de uma vez? As suas desculpas já não adiantam mais!
   Marina estava certa, Raquel sempre se desculpava das merdas que fazia. Sempre se metendo em confusões, em brigas, discussões, não que fizesse por mal, só acontecia. Não pensava duas vezes nas consequências, quando via, já tinha feito.
   Com Marina era a mesma coisa. Não tinha sangue de barata e por isso Raquel brigava com qualquer uma que achasse que olhava diferente para Marina ou que Marina olhasse diferente para alguém, sem contar os amigos de Marina, cheios de si achando ser os donos do mundo, viviam de sorrisinhos e fazendo piadinhas que para Raquel, era sobre ela.
   Passava alguns minutos e Raquel sentia se idiota por ter pensado ou agido de tal forma daí ela pedia desculpas, Marina a perdoava achando que não aconteceria mais, mas dali a pouco era a mesma coisa. 
   Raquel não podia evitar, era mais forte do que ela.
   Com o nó na garganta se formando, Raquel tentava permanecer em pé. Tinha medo de que Marina não a perdoasse mais.
   _Marina por favor... não... -havia pânico em sua voz.
   Aproximou se de Marina tentando abraça-la, mas ela a afasta.
   Naquela hora a sua mãe entrou na sala.
   _Podem parar agora mesmo, eu não quero saber de discussões na minha casa!
   Raquel se perguntava o quanto a sua mãe ouvira daquela conversa, pouco importava para ela, Marina era a sua maior preocupação.
   _Marina -a dona Miranda caminhou até a porta de entrada, a abriu- queira se retirar se por favor!
   _Mãe, não! -gritou Raquel.
   Estava apavorada, se Marina saísse pela aquela porta, corria o risco dela nunca mais voltar.
   Marina deu as costas a Raquel e foi em direção a porta.
   _Como queira dona Miranda!
   _Marina não, por favor!
   Raquel correu atrás dela mas foi barrada por sua mãe que fechou a porta assim que Marina passou por ela.
   _Raquel, vá para o seu quarto agora.
   _Não mãe, por favor, você não entende! -tentava forçar a passagem.
   _Já mandei você subir Raquel!
   _Não, você não manda em mim!
   A sua mãe a segura pelos braços sacudindo a.
   _Tenha modos menina, para de correr atrás dela!
   _Voce não entende... me solta!! -gritou.
   Raquel se debatia ferozmente feito uma presa tentando se livrar do seu predador desesperada para sobreviver.
   Num puxão, Raquel solta se das garras de sua mãe, sente as unhas dela arranharem o seus pulsos. Num piscar de olhos já estava lá fora.
   Para a sua sorte o carro de Marina ainda estava estacionado na calçada.
   Marina já estava prestes a arrancar o carro quando Raquel abriu a porta do carona pulando para dentro do carro.
   A sua mãe gritava alguma coisa parada na porta, não deu ouvidos ao que ela falava.
   _Saia do carro Raquel! -disse Marina.
   _Marina por favor, me deixa explicar.
   _Então começa!
   Raquel enxugou os olhos úmidos.
   _Eu não sei...-estava confusa, não sabia por onde começar.
   _Se não sabe, então pode ir embora!
   _Não, para por favor Marina... eu não sei por onde começar...
   Marina desliga o carro.
   _Te dou trinta segundos pra você começar a falar!
   Raquel respirou fundo com dificuldade, odiava ficar sobre pressão. Trinta segundos era muito pouco para tentar se acalmar e para achar as palavras certas.
   Olhava a rua a sua frente, ouvia se o tic-tac em sua cabeça, os segundo estavam se passando.
   Estava no vinte.
   "23, 24, 25..." contava.
   Seu pulsos começaram a doer, estavam vermelhos devido a força que a sua mãe fez para segura-la, ficava vermelha com facilidade. Pequenas gotinhas de sangue se formaram embaixo da pele a onde as unhas de sua mãe passou. Ficará roxo o local.
   Os trinta segundos se passaram, Marina levará a mão na chave do carro para liga-lo.
   _Desculpe... -disse Raquel por fim segurando o pulso arranhado.
   _Desculpe pelo quê? -pergunta Marina sem olha-la ainda com a mão na chave.
   _Desculpe pelo o que você acha que eu fiz de errado -disse ainda olhando para a frente.
   Marina bufou ligando o carro.
   _Pelo o que eu acho?
   _É! -Raquel virou se para encara-la- você sabe que para mim é complicado falar sobre essas coisas... ainda mais para você...
   Marina não diz nada.
   _E além do mais, você a conhece tão bem quanto eu que ela consegue arrancar uma agulha da bunda de um elefante sem fazer esforço algum... Aí quando eu dei por mim, já estava falando mais do que eu devia...
   Marina desligou o carro.
   _E eu senti um alívio tão grande em dizer isto em alto e em bom som que... -Raquel continuou- que talvez fosse mais fácil se abrir com um desconhecido do que um conhecido.
   Marina virasse para encara-la.
   _Você tem ideia de como eu fiquei com ela jogando na minha cara que te conhece mais do que eu e que eu tinha que me esforçar para... -Marina não conseguia completar aquela frase, estava com muita raiva. Balançou a cabeça- não, você não sabe, não tem a menor ideia de como eu me senti!
   _Para primeiro de conversa, você não tinha nada que ter ido se encontrar com ela!
   _Para primeiro de conversa, você não tinha nada que ter transado com ela! -seus olhos faiscavam.
   Raquel abaixou a cabeça, não conseguia manter os olhos em Marina. Alisava o  novo machucado.
   As duas ficaram em silêncio por um tempo. Marina não tirava os olhos dela. Raquel não tinha coragem de olha-la.
   Por fim Marina completou.
   _Olha, é melhor você entrar. Estou com a cabeça quente e não quero dizer nada que eu vá me arrepender depois.
   Raquel encarava o vazio a sua frente.
   _Não se trata de mim, não é? -perguntou.
   _Como? Para com isso! -disse segurando a sua mão.
   Raquel cravava as unhas no arranhão, queria sentir mais um pouco da dor.
   Virasse para Marina sorrindo.
   _Não se trata de mim, não é mesmo? -repetiu tirando a mão dela da sua- tudo isto se trata do seu ego, da porra do seu ego fragilizado. Não se trata de mim, nem se trata da Bruna e sim, trata se de você!
   _Não se...
   Raquel a interrompe.
   _Ainda não superou o fato de ter descoberto que a sua namorada que sou eu, transou com a sua antiga ex, a Bruna, em um momento não muito bom entre nós duas -sorriu- Uau! Isto é demais para um ego tão cheio de si igual o seu...
   _Não venha querer virar o jogo Raquel, não se trata de mim... e eu já mandei você descer do carro, não quero discutir com você de cabeça quente.
   _Está vendo!? Quando se trata de você, você desconversa, pula fora... -balança a cabeça- Deve ser horrível não ter as coisas sob o seu controle, né?
   Marina encosta a cabeça no encosto do banco do carro, respirou fundo com os olhos fechados.
   _Raquel...
   _Não! -interrompe a- você sente tanto prazer em controlar as pessoas que...
   _Raquel, para!
   _Agora que comecei? Não era você que vive querendo saber o que eu penso? Pois agora eu vou falar!
   Raquel ajeita se no banco tomando fôlego.
   _Eu acho que você nunca me... me... -era estranho para Raquel falar aquela palavra- nunca me gostou como diz gostar...
   Marina poderia até começar a rir do jeito como Raquel falou, depois a beijaria e a chamaria de boba entre os beijos mas estava com muita raiva para pensar em fazer tal coisa.
   Raquel continua.
   _Sou um objeto para você, um objeto a qual você tenta me moldar de acordo com a suas necessidades. Você está sempre me dando ordens, "não faça isto", "comporte se" e blá blá blá... Diz ser para o meu bem mas a verdade é que é para você, para a sua imagem diante os seus amigos metidos a intelectuais de merda! -tomou mais um pouco de fôlego- mas vejam só! O seu objeto não está mais atendendo a suas necessidades. Você molda, molda, molda e nada de ficar do seu jeito. Aí o que você faz? A quem você deve culpar? Ao objeto que não tem culpa de ser assim ou a você que tenta transforma-lo em algo que não pode ser? -se aproxima de Marina- e então, de quem é a culpa?
   Marina virou se lentamente para Raquel. Abriu os olhos.
   _Por favor, saia! -disse calmamente.
   Raquel a encarou por um momento.  Mordeu o lábio inferior revirando os olhos.
   Diz por fim.
   _Tanto faz! -virou se para a porta.
   _É não bata a porta! -disse Marina assim que Raquel saiu do carro.
   Dito e feito, Raquel bateu a porta do carro.
   _Raquel!
   Raquel não deu ouvidos a Marina,  atravessou o gramado da frente da sua casa descalça e vestida apenas com um blusão, não importava se alguém a visse naqueles trajes.
   Bateu com força a porta de entrada, passou por sua mãe que falava alguma coisa. Subiu as escadas em passos pesados. Bateu a porta do seu quarto com força. Bateu a porta do seu guarda-roupa que estava aberta com força. Queria bater a porta de mais alguma coisa mas não tinha mais nada aberto.
   Pulou na cama, seus gritos foram abafados pelo seu travesseiro, começou a chorar, estava com muita raiva, raiva do mundo, raiva de Marina e principalmente com raiva de si mesma.
   Como fora idiota este tempo todo, como não percebera isto antes? Marina era uma grande cretina por fazê-la acreditar que a errada da história era ela.
   Queria sumir.
   As lágrimas molhavam o travesseiro que molhava o seu rosto de volta. Ms de repente Raquel parou, não tinha mais vontade de chorar. Levantou enxugando o rosto.
   Entrou no banheiro para tomar um banho. A água caia em seu corpo pesadamente. Ficou ali parada debaixo do chuveiro por muito tempo, não sabia por quanto tempo mas que foi muito tempo até sentir se um pouco mais relaxada.
   Vestiu se com uma blusa de manga comprida para esconder as marcas em seu braços, uma calça jeans e seus tênis. Pegou alguns trocados e enfiou no bolso da calça, não era muito mas o suficiente para leva-la a algum lugar.
   Desceu as escadas torcendo para que não desse de cara com a sua mãe na sala.
   Do pé da escada gritou:
   _Estou saindo!
   Não esperou a sua mãe responder, abriu a porta e saiu.

NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora