Nem preciso pensar duas vezes para saber o que eu quero fazer hoje.
OVELHAS!!
Subo para trocar de roupa depois de ter tomado meu café da manhã e junto com o seu pai, vamos cuidar e alimentar as bichinhas. O cara que cuidava delas estava de folga para passar o natal com a família.
Desisto de abraça-las por não estarem com um cheiro muito bom e nem com aquela cabeleira toda. Com a chegada do verão, eles tiravam toda a sua lã.
Uma cidade doida com pessoas doidas e um tempo mais doido ainda. Quando chegamos aqui, o tempo estava de um jeito. Ontem estava frio nublado e chuviscando. Hoje amanheceu com sol. Mas ainda continuava frio apesar de ser verão.
_Está vendo aquela ali? -pergunta Marina apontondo para uma ovelha que saltitava toda desengonçada.
Afirmo com a cabeça.
_Ela se parece com você! -diz sorrindo.
Dou um tapa em seu braço.
_Eu não sou desengonçada!
_Ei! Eu não disse que você era desengonçada... só um pouco estabanada.
Dou lhe mais um tapa.
_Ai, seus tapas doem!
_É? -continuo batendo em seu braço- não estou sentindo nada!
_Para com isto! -diz ela prendendo os meus braços para trás. Me beija.
_Me solta, está me machucando! -digo evitando seus beijos.
_Vai parar de me bater?
_Vou!
_Então me beija.
Eu a beijo e então ela me solta. Abraço a com força.
Tirando a nossa plateia de ovelhas ali presente do outro lado da cerca -não estavam nem aí pra gente- outra pequena plateia nos assistiam da varanda da casa.
_Temos plateia! -digo.
_Ei, esquece eles, vamos ser só nós duas hoje...
Sorrio beijando a.
_Já que você insiste!
Passamos o resto da manhã ali fora aproveitando cada segundo daquele sol.
E é chegada a bendita hora do almoço.
Antes de entrarmos, Marina pede para que eu me comportasse.
Eu estou me comportando!
_Me passa o azeite por favor! -pede a tal Maria.
Pego o azeite, viro um pouco na minha salada e volto a coloca-lo na mesa.
_Pode me passar o azeite, por favor? -insiste.
Dou um garfada na minha comida como se nada tivesse acontecido.
Todos me olham.
_Raquel! -chamou me o Sr. Carlos.
_Sim...
_Você não está ouvindo a Maria pedindo que lhe passe o azeite?
Olho para a tal Maria, olho para o azeite, torno a olhar para a Maria. Dou mais uma garfada pegando o azeite.
_Achei que eu fosse invisível pra você. -digo com a boca cheia passando o azeite- Espero que não me enxergue só quando precisar que lhe passe o azeite!
Sinto Marina me fuzilando com os olhos. Ninguém diz nada.
Volto a comer naturalmente no meio daquele climão todo.
_Você não presta, sabia? -diz Marina depois que voltamos a ficar sozinhas outra vez.
Na maior cara de pau pergunto o por quê.
_Você prometeu se comportar!
_Mais eu me comportei!
_Jura!?
Sorrio.
_Ela mexeu comigo primeiro! Meu santo não bateu com o dela desde a primeira vez quando ela veio me cumprimentando de qualquer jeito.
_Não viaja Raquel, ela te cumprimentou normalmente.
_Ah sei, normalmente, claro! Eu vi como vocês se abraçaram. Naa minha vez, foi só um tapinhas na minhas costas como se eu não fosse nada.
_Você está implicando com ela por causa do modo como ela não te cumprimentou? Meu Deus Raquel, como você é tão... tão...
_Tão o quê?
Ela sorri se aproximando, aperta a minha bochecha.
_Tão linda, tão fofa quando está com ciúmes... delicada como um coíce de mula!
Cruzo os meus braços.
_Eu nem estou com ciúmes...
_Ah não está não?
_E não era pra tá? -me afasto- Você vê o jeito como ela te olha? Como ela te trata? É Marinazinha pra lá, é Marinazinha pra cá... vem toda cheia de nhê nhê nhê...
_Ela tem idade para ser a minha vó!
_O amor não tem idade!
_É sério isto?
Dou de ombros.
_Sei lá...
_Relaxa e para de ficar cultivando essas minhocas na tua cabeça. Ela é como uma segunda mãe pra mim, me criou como a filha que não pôde ter.
_Tadinha! -digo sarcástica.
Ela me abraça por trás mordendo o meu pescoço.
_Tenha respeito pelos outros! -diz.
Tombo a minha cabeça para o lado para que continuasse a me morder. Ela se afasta.
_Não, você não está merecendo!
Bufo empurrando a para o lado.
Diferente da parte da manhã, na parte da tarde, estava quente e abafado.
Entro para beber um pouco de água.
A tal Maria estava na cozinha catando feijão. Passo por ela sem dizer nada, pego a água. Eu ia saindo mas dei meia volta sentando na cadeira à sua frente.
_Bom... -começo depois de respirar fundo tomando fôlego- eu queria pedir desculpas pelo modo como falei com você hoje na hora do almoço...
_A sua mãe não lhe deu educação? -pergunta sem me olhar.
_Como?
_Não se diz 'você' para uma pessoa mais velha, se diz 'senhor ou senhora'.
Eu fiquei tipo: do quê ela está falando?
_Você disse 'você' ao invés de dizer 'senhora'! - responde como se adivinhasse o que eu estava pensando- os seus pais não lhe ensinaram isto não?
_Eles até me ensinaram, mas sabe como é, né... -dou de ombros- eu não quis aprender!
Ela me encara serena.
_Você é muito malcriada, menina, mas eu sei como cortar isto. Já cuidei de crianças piores.
Bebo a minha água enquanto ela ia falando.
_... não vá pensando que pode fazer o que quiser aqui. Temos regras. E não é só porque você é visita e é a namorada da minha Marina que pode fazer o que bem entender. Não pode me afrontar disperdiçando comida, andando descalço por aí ou achando que pode me desrespeitar...
Sorrio.
_Do quê estar rindo? Estou com cara de palhaça? Estou contando alguma piada?
MEU DEUS!!
Ela consegue ser pior do quê a minha mãe!
_Vai aceitar as minhas desculpas ou não? -pergunto suspirando.
_Eu ainda não acabei de falar!
Diferente da minha mãe, essa tal Maria não gritava e nem se gesticulava. O modo como ela me chamava a atenção -olhando nos meus olhos e a voz baixa mas ao mesmo tempo firme- eu preferia que ela me xingasse, que gritasse, até que me batesse, qualquer coisa, menos daquele jeito.
Deixo ela falando no modo silencioso. Não a escuto.
Que vê cara, não vê coração. Quem a visse pela primeira vez, diria que ela é doce e gentil com aquelas bochechas e a carinha de anjo. Mas ela é o capeta em pessoa.
Não se enganem!
Ela deve ser frustada por não poder ter filhos e por isto é rabugenta assim.
Engraçado, muitas mulheres querem ter filhos mas não podem ter, e muitas mulheres que podem ter filhos, não querem ter... a vida é meio injusta, né?
Tiro a do modo silencioso a tempo de ouvi-la dizer que quem mandava na casa era ela apesar de que era o Sr. Carlos quem pagava o seu salário, e ela queria respeito fazendo tudo o que ela mandasse eu fazer.
Se bem eu entendi, ela era a governanta da casa e governava a mãos de ferro. Eu teria que seguir a suas ordens se não ela me lançaria aquele olhar tenebroso e continuaria a fingir que eu não existia.
Estou com medo dela. Vai que ela bota alguma coisa na minha comida!
Levanto me quando ela faz uma pausa.
_Eu já posso ir ou você... quer dizer, ou a senhora ainda tem mais alguma coisa pra dizer?
Antes que ela abrisse a boca novamente, completo.
_Não precisa dizer mais nada, eu entendi o seu recado. Não vou mais disperdiçar comida, vou sempre calçar o meu chinelo e não derespeitarei a senhora, MAS, me trate com respeito e será respeitada. Resumindo: a senhora não entra no meu caminho, eu também não entro no seu. Nós duas saímos ganhando! E mais uma coisa, não é menina e nem garota. Meu nome é Raquel! E agora com a sua licença, eu estou indo.
Saio de cabeça erguida. Acho que estavamos entendidas.
_Você demorou. -diz Marina deitada na grama.
Sento me ao seu lado.
_Eu estava tendo uma conversinha com a tal da Maria.
Ela se senta rapidamente.
_Não se preocupe, foi um conversa produtiva.
_O que conversaram? -pergunta ela preocupada.
Sorrio me aproximando dela.
_Vem cá, só pra me preparar... se eu for pedir desculpas para os seus pais pelo modo que me comportei hoje... eles também vão fazer um monólogo igual a tal Maria fez dizendo o quanto ela é isto e aquilo?
_Você pediu desculpas para ela?
Dei de ombros.
_É, me dei conta que eu estava sendo uma idiota agindo assim.
Marina me abraça beijando a minha testa.
_Que gracinha... Soltem as pombinhas, a paz mundial voltou!
_Não enche! -digo deitando na grama.
Marina deita ao meu lado. Damos a mão uma para a outra eicamos vendo as nuvens.
Mas tarde, eu enfiei o rabinho entre as pernas e fui pedir desculpas para os pais da Marina. Eles me desculparam e pediram desculpas também por qualquer coisa que tenha me chateado.
Até para o Joaquim eu pedi desculpas. Mesmo ele não me fazendo nada e eu também não fazendo nada a ele, eu pedi mesmo assim. Pedi desculpas por não ter dado muita atenção a ele, disse que ele me lembrava alguém de que um dia eu gostei muito e já não estava mais entre nós.
_E eu não sabia como agir vendo o senhor e me lembrando dele.
_Ah sim, entendo!
Ele não é de muitas palavras.
Bom pra mim que não precisei entrar em detalhes dizendo quem era ou o que fosse. Peço desculpas mais uma vez e o deixo sozinho limpando o carro.
O jantar ocorreu tranquilamente.
ACHO!!
A tal da Maria me testou.
_Pode me passar o sal, Raquel?
_Claro! -digo lhe passando o sal.
_Obrigada.
_Amém!
Marina levanta o seu copo.
_Um brinde a família Ovalles! -diz segurando a minha mão em cima da mesa.
Brindamos a família Ovalles.
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NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!! (Volume 1)
Romance"Como você quer me ajudar, sendo você a causadora de todos os meus problemas? Você é a minha ruína. O meu pior vício." Raquel não tem culpa de ser assim. Meio rebelde, uma viciada, meio pirada, paranoica e um tanto quanto apaixonada, leva um relaci...