Parte 7

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Não sei se eles ficaram com pena de mim por ter me 'perdido' ou, seja lá o que for, mas, na manhã seguinte, todos me olhavam com uma cara de piedade.
Ótimo. Agora eles me acham uma lezada que não sabe andar sozinha!
Achei que essa fasetinha acabado.
Marina diz que é paranoia minha mas, sei lá, pareciam que estavam escondendo alguma coisa.
_Você sabe que as minhas paranoias são certeiras, né? Posso não saber o que é mas eu sei que aí tem coisa! -digo.
_Tem coisa é na sua cabeça, isso sim! Um monte de minhoquinhas tomando conta do seu cérebro... -diz Marina bagunçando o meu cabelo.
Me afasto.
_Para de dizer que eu estou ficando doida!
_Eu não disse isso!
_É, mas insinua! Na maioria das vezes as minhas paranoias estão sempre certa, e essa eu tenho certeza! Você não está por perto pra ver como eles me olham, se eu apareço a onde estão, no mesmo instante eles mudam de assunto...
_Ai Raquel... -suspira- sei lá... você sabe que tudo isto é novo tanto pra eles quanto para nós duas, né? Eles não devem estar sabendo como lidar com isto tudo. Acho que nunca passou pela cabeça deles eu namorar uma pessoa assim como você.
_Assim como eu, como? -pergunto já pronta para fazer um barraco.
_Assim! -responde- Somos completamentes diferentes uma da outra.
_E?
_E que, você e bagunceira e eu gosto das coisas no lugar. Você gosta da agitação, eu já gosto da calmaria. Você gosta de rock pesado, eu, músicas clásicas. Você é da noite, eu sou do dia. Você gosta de preto, eu já sou mais o branco. E eu poderia ficar aqui o dia inteiro listando essa coisas e ainda faltaria... eu mesmo às vezes me surprendo por estar com você!
Bufo.
_Não está bom assim? Quer que eu mude?
_Não! Claro que eu não quero que você mude -me abraça- eu gosto de você assim! Se melhorar, estraga.
_Nós duas também temos coisas em comum. -digo aninhando em seu peito.
_Quais?
_Nós duas gostamos de mulher!
_Humm, certo e o quê mais?
Penso.
De fato não tinhamos quase nada em comum, mas qual é a graça de gostarmos das mesmas coisas?
Do nosso jeito é mais gostoso!
_Somos irritantes! -digo- você com a sua irritância e eu com a minha.
Marina ri.
_Irritância?
_É! Você tem as suas manias irritantes e eu tenho as minhas...
Ela me abraça forte bejando a minha testa.
_É por isto que eu te amo! -me beija- nunca mude esse teu jeito pelos outros, nem por mim, ok?... tá, você precisa concertar algumas coisinhas, mas nada tão grande.
Ficamos abraçadas por mais um tempo.
_Aguenta eles só mais um pouquinho, daqui a pouco voltaremos para as nossas vidinhas pacatas de sempre...
_Eu não quero ir embora -digo beijando a- quero ficar aqui. Não aqui, aqui... entende?
Ela sorri.
_Sim, entendi. Eu também gosto daqui, é um lugar bom... mas não gosto do frio, prefiro mais o calor.
_Eu já prefiro mais o frio, detesto calor!
Se eu pudese, eu mudava lá para a Antartida.
_Viu!? Mais uma coisa que não combinamos.
Sorrio beijando a.
_Eu gosto assim!
_Vocês vão ajudar ou vão ficar se agarrando pelos cantos por aí? -pergunta a tal Maria aparecendo do nada.
_Acho que vamos ficar nos agarrando pelos cantos mesmo. -reponde Marina sorrindo.
A Marina me disse que uma vez a tal da Maria a colocou de castigo por um mês por -la respondido e aí dos seus pais se a tirasse do castigo, era bem provável que ela os castigasse também.
_Eu só vim pegar a vassoura! -respondo me afastando da Marina. Volto a fazer o que estava fazendo.
Eu tenho amor a minha vida!
Passamos o dia todo arrumando aqui e ali, lavando mesas, cadeiras, passando pano, arredando móveis, cozinhando... Tudo isto para a ceia de natal.
A tal Maria olhou pra mim com aquele olhar que dizia que eu estava perdida por não saber cozinhar.
_Na sua idade, -começou a tal Maria na sua ladainha- eu já cozinhava pra fora, cuidava de três crianças e arrumava a casa... antes não tinha essas modernidades que tem hoje não, era tudo não mão mesmo, tinha que buscar água, lavar as roupa na mão...
Respiro fundo.
_Que bom para a senhora, vejo que é uma mulher guerreira. Meus parábens! -digo cortando o assunto ali mesmo. Eu já estava cansada, eu já não era mais ninguém, meu corpo todo doía.
Assim que a tarde ia caindo os seus parentes iam chegando para a ceia. Não vieram todos,o restante viriam amanhã.
Confesso que senti o maior orgulho quando a Marina me apresentou como a mais nova integrante da família, a sua namorada.
Cumprimentei os me fazendo a fina e tudo mais.
Pra mim, não tinha nada de mais naquela família, quase, toda reunida. Sem graça igual a minha família. A única coisa que os diferenciavam, era os rostos desconhecidos e a educação.
Sentada em um canto, eu tentava adivinhar quem era quem ali. O tio bêbado, a que não prestava, a perua... e é claro, a ovelha colorida.
Marina passou a maior parte do tempo comigo, mas era impossível ficarmos sozinhas um minuto sequer. Todos queria tirar uma lasquinha da menina que passou anos e anos sem dar as caras por aqui.
Eu cansada, nunca trabelhei igual hoje na minha vida, no meio daquele bando de gente disputando quem falava mais alto, música brega e alta... a minha cabeça começou a doer.
Nunca fui de reuniõeszinhas de família.
Saio a procura de um lugar mais sossegado.
Eu juro que não queria escutar a conversa deles mas também não queria atrapalhar.
Estava indo para a varanda e os pais de Marina estavam lá, não prestei muita atenção no que falavam, não queria ser enxerida mas acabei ouvindo.
"... ela não deveria fazer isto, por que ela não conta logo é acaba com isto de uma vez por todas?", era a voz da dona Ana.
"Sabe como ela é, puxou a mim!", o Sr. Carlos.
"Essa menina me parece gostar dela de verd... Raquel?", ela me .
DROGA!
Além de ser lezada agora era intrometida.
_Ah, oi... desculpe, eu juro que não estava atrás da porta escutando vocês... e só... eu só quero um lugar tranquilo longe daquela bagunça toda... -forço um sorriso.
E mais uma vez, eles mudaram de assunto.
_Vem, sente se comigo! -pediu o Sr. Carlos dando espaço para que eu sentasse ao seu lado.
_Eu vou buscar alguns petiscos pra vocês... -diz a dona Ana saindo rapidamente.
Ficamos ali sentados calados olhando para as luzes distantes da cidade que pareciam mais um monte de estrelas se reunindo para a ceia de natal.
_Sabe Raquel... -começou ele por fim- você me parece uma pessoa boa... você gosta da minha filha, não é?
Dei de ombros.
_Gosto.
Uma pausa.
_Você sabe que ela é cabeça dura, né?... ela tem a que puxar! -sorriu para si mesmo- Ela se faz de durona, que não precisa de ajuda e... -fez uma pausa- não se esqueça de que tudo que ela faz ou tudo que ela fizer, é para te prot...
_Carlos! -gritou a dona Ana atrás da gente me dando o maior susto. Sua cara não estava muito boa- Você não está me ouvindo te chamar, não? Eu preciso de você aqui dentro! -colocou um prato cheio de salgado em um banco- aqui Raquel, pra você.
Ela pediu licença arrastando o seu marido para dentro.
POVO DOIDO!!
Esqueço os dois pegando meu celular. Digito algumas coisas desejando um feliz natal e um próspero ano novo e blá blá blá, essas baboseras toda. Seleciono os números que quero enviar a mensagem.
Ali na varanda era o único lugar que dava área, só um pauzinho pelo menos.
Envio a mensagem para os números selecionados torcendo para que chegasse antes que o natal acabasse. Mesmo brigada com Lia, e não conversando mais com Bruna, eu mandei para elas assim mesmo, afinal, natal é um momento para esquecer nossas diferenças e celebrarmos o nascimento do menino Jesus, né?

NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Where stories live. Discover now